A história da origem da Igreja do Senhor do Bonfim, em Salvador, no estado da Bahia, começa em Portugal. A devoção começou com a construção de uma Ermida, em 1669, em Setúbal, que inicialmente se chamava de “Anjo da Guarda” e depois “Igreja do Senhor do Bonfim” que era devoção de Dom João V e fez promessas pela saúde do seu pai, o rei Dom Pedro II.
(Fotografia de/photos by Rogério P D Luz)
Conforme a Wikipédia, a imagem do Nosso Senhor do Bonfim foi trazida em razão de uma promessa feita pelo capitão-de-mar-e-guerra da marinha portuguesa, Theodózio Rodrigues de Faria, que, durante forte tempestade prometeu que se sobrevivesse traria para o Brasil a imagem de sua devoção. Assim, em 18 de abril de 1745, réplica da representação do Santo existente em Setúbal foi trazida daquela vila, terra natal do capitão, e abrigada na Igreja da Penha até o término da construção da Igreja do Senhor do Bonfim. Juntamente, Theodózio também trouxe réplica da imagem de Nossa Senhora da Guia. Em 1754, a parte interna da Igreja do Senhor do Bonfim foi finalizada e as imagens transferidas para lá em procissão (daí o atual cortejo anual para lavagem das escadarias da igreja), onde foi celebrada missa solene.
A capela teve as suas obras concluídas em 1772, e em 1773 passa a ser celebrada a festa litúrgica do Bonfim no segundo Domingo da Epifania (2º domingo de janeiro). Na época a iluminação era feita através de lampiões até que em junho de 1862 foi implantada a iluminação pública, feita com lâmpadas de gás carbônico. As instalações elétricas realizadas em 1902 foram mantidas até 1998, quando a igreja foi restaurada.
Construída em estilo neoclássico com fachada em rococó, essa típica igreja colonial possui duas torres sineiras laterais. É uma das mais tradicionais igrejas católicas da cidade, dedicada ao Senhor do Bonfim, padroeiro dos baianos e símbolo do sincretismo(1) religioso da Bahia.
Em 1927, o Papa Pio XI elevou a Capela a “Basílica Menor” e em 1975 foi criado o Museu dos ex-votos para os objetos trazidos pelos devotos. Em 1991 foi visitada pelo Papa João Paulo II, que presenteou com uma cálice de prata dourada e rezou aos pés do Senhor do Bonfim.
Duas tradições mantidas até os dias de hoje são a Fita do Senhor do Bonfim, Fita do Bonfim ou fitinha do Bonfim um souvenir e amuleto típico de Salvador e Festa de Lavagem do Bonfim que são explicadas a seguir.
Fita do Senhor do Bonfim (Wikipédia)
A Fita do Senhor do Bonfim, Fita do Bonfim ou fitinha do Bonfim é um souvenir e amuleto típico de Salvador, capital do estado brasileiro da Bahia. A fita original foi criada em 1809, tendo desaparecido no início da década de 1950. Conhecida como Medida do Bonfim, o seu nome devia-se ao fato de que media exatos 47 centímetros de comprimento, a medida do braço direito da estátua de Jesus Cristo, Senhor do Bonfim, postada no altar-mor da igreja.
Não se sabe quando a transição para a atual fita, de pulso, ocorreu, sendo fato que em meados da década de 1960 a nova fita já era comercializada nas ruas de Salvador, quando foi adotada pelos hippies baianos como parte de sua indumentária. A fita vendida por ambulantes em volta da Igreja do Senhor do Bonfim e amarradas sob o gradil do local, em Salvador, precipuamente é uma lembrança e atestado da visita que o devoto ou turista tenha realizado àquele templo católico.
Confeccionada atualmente em tecido de algodão e vendida em diversas cores com a frase característica “Lembrança do Senhor do Bonfim da Bahia“, a Fita do Senhor do Bonfim possui um lado que poucos conhecem: cada cor simboliza um Orixá, apesar da tradição católica devido a sua origem e seu nome. Verde escuro para Oxossi (2), azul claro para Iemanjá (3), amarelo para Oxum (4). Seja qual for a cor, a fita possui uma representação simbólica, estética e espiritual típicas das raízes africanas e sincretismo da Bahia (5).
Na tradição popular, supersticiosa e folclórica, a fita do Senhor do Bonfim é enrolada duas vezes no pulso e amarrada com três nós. A cada nó precede um pedido, realizado mentalmente, e que deve ser mantido em segredo até a fita se romper por desgaste natural. Significa que os desejos ou pedidos foram atendidos.
Festa da Lavagem do Bonfim (Wikipédia)
A Lavagem do Bonfim é uma celebração inter-religiosa que acontece na quinta feira que antecede o segundo domingo após o Dia de Reis, no mês de Janeiro. Neste período também ocorre o novenário solene e exposição do Santíssimo Sacramento, interrompido apenas no dia da Lavagem, quando ocorre o cortejo entre a Igreja da Conceição da Praia e a Igreja do Bonfim, havendo a exposição de uma pequena imagem do senhor do Bonfim pelo capelão da Igreja do Bonfim na fachada do templo, com uma bênção especial a todos os presentes. A Lavagem é um “Símbolo do sincretismo religioso da Bahia”. A tradicional Lavagem não deve ser confundida com a Festa que marca o encerramento do novenário solene, no domingo seguinte, quando ocorre a missa ao Senhor do Bonfim.
A lavagem da Igreja teve início em 1773, quando os integrantes da “Devoção do Senhor Bom Jesus do Bonfim” constituída por devotos leigos faziam com que os escravos a lavassem e ornamentassem a Igreja como parte dos preparativos para a festa do Senhor do Bonfim. Posteriormente, para os adeptos do candomblé, a lavagem da igreja do Senhor do Bonfim passou a ser parte da cerimônia das Águas de Oxalá. A Arquidiocese de Salvador, então, proibiu a lavagem na parte interna do templo e transferiu o ritual para as escadarias e o adro. Durante a tradicional lavagem, as portas da Igreja permanecem fechadas e as baianas despejam água de cheiro nos degraus e no adro, ao som de toques e cânticos de caráter afro-religioso (embora atualmente o ritual se revista de um perfil ecumênico), que ocorre na quinta-feira que antecede festa e conta com grande participação do povo, que chega em carroças enfeitadas, e das tradicionais baianas, com seus vasos com água de cheiro.
O cortejo
A lavagem festiva acontece com a saída, pela manhã da quinta-feira, do tradicional cortejo de baianas da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, o qual segue a pé até o alto do Bonfim, para lavar com vassouras e água de cheiro as escadarias e o átrio da Igreja do Nosso Senhor do Bonfim.
Igreja Nossa Senhora Conceição da Praia, o início do cortejo. Seria uma igreja móvel, pré-fabricada em Portugal e depois partes trazidas para o Brasil por caravelas.
Todos se vestem de branco, a cor do orixá, e percorrem 8 km em procissão, desde o largo da Conceição até o largo do Bonfim. O ponto alto da festa ocorre quando as escadarias da igreja são lavadas por cerca de 200 baianas vestidas a caráter que, de suas “quartinhas” – vasos, que trazem aos ombros – despejam água nas escadarias e no átrio da igreja, ao som de palmas, toque de atabaque e cânticos de origem africana. Terminada a parte religiosa, a festa continua no largo do Bonfim, com batucadas, danças e barracas de bebidas e comidas típicas.
No domingo seguinte à lavagem, os devotos se reúnem na Igreja dos Mares para a procissão dos Três Pedidos, que percorre o largo de Roma em direção ao Bonfim. Na chegada à Colina do Bonfim, os fiéis dão três voltas em torno da Basílica, fazendo três pedidos. Uma pregação, bem como uma missa solene e a benção do Santíssimo Sacramento encerram os festejos.
A origem do cortejo se deve a Teodósio Rodrigues de Farias, oficial da Armada Portuguesa, trouxe de Lisboa uma imagem do Cristo, que, em 1745, foi conduzida com grande acompanhamento para a igreja da Penha, em Itapagipe. Em julho de 1754, a imagem foi transferida em procissão para a sua própria igreja, na Colina Sagrada, onde a atribuição de poderes milagrosos tornou o Senhor do Bonfim objeto de devoção popular e centro de peregrinação mística e sincrética.
Mais fotos da Igreja do Senhor do Bonfim
O entorno da Igreja
O passeio para a Igreja do Senhor do Bonfim foi realizado através do Salvador Bus, onde fez uma parada de 15 minutos.
Notas:
(1) Sincretismo é a fusão de diferentes doutrinas para a formação de uma nova, seja de caráter filosófico, cultural ou religioso. O sincretismo mantém características típicas de todas as suas doutrinas-base, sejam rituais, superstições, processos, ideologias e etc. O Brasil é um dos países mais religiosos do mundo e uma das nações onde há maior sincretismo religioso. Essa amálgama de religiões se iniciou com a chegada dos primeiros colonizadores portugueses ao continente … O processo de sincretismo religioso se intensifica com a chegada dos povos africanos escravizados … Uma das formas encontradas pelos africanos para preservar suas tradições foi utilizar os conhecimentos repassados pelos padres e associar os santos católicos a seus orixás, como disfarce para realização de seus cultos. (trechos extraídos do site Significados)
(Significados) Nesse momento, há o início de um importante sincretismo religioso no Brasil, o afro-cristão. A Umbanda é um dos grandes exemplos desse sincretismo: ela é uma mistura do catolicismo, das religiões afro-brasileiras e do espiritismo. Veja a seguir:
(2) Acredita-se que os Orixás foram ancestrais africanos que foram divinizados, pois durante sua vivência na terra, supostamente adquiriram um controle sobre a natureza, como: raios, chuvas, árvores, minérios e o controle de ofícios e das condições humanas, como: agricultura, pesca, metalurgia, guerra, maternidade, saúde. (Wikipédia)
(3) Oxóssi (no candomblé) ou oxósse (no omolocô) é o orixá da caça, florestas, dos animais, da fartura, do sustento. Está nas refeições, pois é quem provê o alimento. É a ligeireza, a astúcia, a sabedoria, o jeito ardiloso para capturar a caça. É um orixá de contemplação, amante das artes e das coisas belas. É o caçador de axé, aquele que busca as coisas boas para um ilé, aquele que caça as boas influências e as energias positivas. (Wikipédia)
(4) Iemanjá (Yemọjá na Nigéria, Yemayá em Cuba ou ainda Dona Janaína no Brasil) é o orixá do povo Egba, divindade da fertilidade originalmente associada aos rios e desembocaduras. Seu culto principal estabeleceu-se em Abeokuta após migrações forçadas, tomando como suporte o rio Ògùn de onde manifesta-se em qualquer outro corpo de água. Também é reverenciada em partes da América do Sul, Caribe e Estados Unidos. Sendo identificada no merindilogun pelos Odus Irosun, Ossá e Ogunda, é representada materialmente pelo assentamento sagrado denominado Igba Iemanjá. Manifesta-se em iniciados em seus mistérios (eleguns) através de possessão ou transe. (Wikipédia)
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Hoje, 24 de Junho de 2022, comemora-se 400 anos de “A Maior Derrota dos Holandeses no Oriente” na sua tentativa de tomar Macau dos portugueses. Até a transição de soberania de Macau, de Portugal para a República Popular da China, em 20 de Dezembro de 1999, a data era comemorada como “DIA DE MACAU” ou “DIA DA […]
1 Aqueles bons tempos de Macau, que já não voltam mais, de peças teatrais com participação de macaenses, são recordadas por Jorge Eduardo (Giga) Robarts na sua página no Facebook. Com autorização do Giga, as imagens foram copiadas e editadas, inclusive seus textos. Fazem parte do seu acervo, bem como, partilhadas por seus amigos dessa […]
Nesta postagem, divulgamos duas histórias de Macau de autoria do Manuel V. Basílio, publicadas no Jornal Tribuna de Macau-JTM e que foram extraídas dos seus livros: A primeira viagem portuguesa no sul da China O primeiro acordo sino-português Nos artigos abaixo com os textos com ligação direta no JTM , clique em “continue reading” (continue […]
Pingback: Mercado Modelo e o Elevador Lacerda na Cidade Baixa de Salvador, Bahia | Cronicas Macaenses