Cronicas Macaenses

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Igreja e Convento de São Francisco, a igreja dourada de Salvador, Bahia (parte 1)

A Igreja e Convento de São Francisco fica no Largo do Cruzeiro de São Francisco em Pelourinho, de fácil acesso pela Praça da Sé no Centro Histórico.

Classificada como uma das 7 Maravilhas de Origem Portuguesa do Mundo e tombada pelo IPHAN em 1985, a Igreja e Convento de São Francisco é uma visita obrigatória para quem visita Salvador, Bahia. A construção da igreja atual começou em 1708, em estilo barroco, e mesmo com a edificação incompleta foi consagrada em 1713. Foi concluída 40 anos depois.

A sua fachada com duas torres quadrangulares relativamente simples que contrasta com o bloco central mais ornamentado, com aberturas em arco na base e um frontão no topo com ornamento em espiral e em forma de pergaminho, não dá uma ideia da riqueza do seu interior todo recoberto em ouro e jacarandá.

A Capela-Mor

A igreja é especialmente preciosa pela sua exuberante decoração interna. Todas as superfícies do interior – paredes, colunas, teto, capelas – são revestidas de intrincados entalhes e douraduras, com florões, frisos, arcos, volutas e inúmeras figuras de anjos e pássaros espalhadas em vários pontos. Calcula-se que foi usada uma tonelada de ouro nos douramentos. O conjunto, especialmente pela riqueza da igreja, é considerado como uma das mais espetaculares expressões do Barroco no Brasil.

O convento, ainda em uso, com dezenas de celas, foi construído em torno de um claustro quadrado, tem um sub-solo e dois pavimentos sobre o nível da rua. O nível superior possui um passeio aberto em forma de galeria com vigamento aparente e coberto por telhas, e os níveis inferiores são abobadados e arcados. O modelo se inspira nos claustros portugueses do século XVI. Sua decoração mostra ricos painéis de azulejo. Trinta e sete painéis reproduzem pinturas do holandês Otto Van Veen.

O convento, que fica contíguo à igreja, foi iniciado primeiro e, em 1708, foi lançada a pedra fundamental da igreja, com o edifício terminado em 1723, mas sua decoração ainda levou mais tempo. O convento foi concluído em 1752, porém todo o complexo só foi finalizado em 1782, com a colocação dos azulejos e arremate da portaria.

Com um amplo pátio interno ao centro, longos corredores com colunas e arcos executados em pedra, estão painéis de azulejos portugueses apresentando cenas mitológicas.

A decoração de azulejos pintados foi realizada entre 1749 e 1752 e retratam personagens da mitologia pagã greco-romana em cenas de conteúdo moral e apelo cristão.

Faz também parte do conjunto histórico, a vizinha Igreja Ordem Terceira de São Francisco, que mostraremos numa outra postagem, e um cruzeiro que fica diante dela.

Fotografia de/photos by Rogério P D Luz

  • Esta postagem de Parte 1 tem a Igreja como tema principal
  • A Parte 2 mostra imagens da sala de recepção, o Convento e Claustro, a sacristia e a Sala do Capítulo

UM BREVE HISTÓRICO 

O convento de São Francisco, em Salvador, foi fundado em 1587. A igreja atual começou a ser construída em 1708, com seu deslumbrante interior em talha dourada. Situa-se em um sítio histórico tombado pelo Iphan.

Os franciscanos foram os primeiros missionários do Brasil. Realizaram as primeiras missas em Porto Seguro, onde foi construída a Igreja de São Francisco de Assis do Outeiro da Glória, em 1503, a primeira igreja do Brasil. O primitivo povoado de Porto Seguro, o primeiro do Brasil com a participação de europeus, contava com dois padres franciscanos e foi massacrado pelos índios em 1505.

Em 1584, com o Brasil sob domínio espanhol, foi instituída a Custódia de Santo Antônio do Brasil, com autorização para fundar conventos no Brasil. Os franciscanos desembarcaram em Olinda, em 12 de abril de 1585, e, no mesmo ano, fundaram lá o Convento de Nossa Senhora das Neves. Essa Custódia estava subordinada à província franciscana de mesmo nome em Portugal. Em 1657, a Custódia de Pernambuco foi elevada à condição de província. Em 1675, foi criada a Província da Imaculada Conceição, no Sul do Brasil.

O segundo convento franciscano do Brasil foi fundado em Salvador, em 1587. A primeira Igreja de São Francisco, na Cidade, começou a ser construída, no mesmo ano, pelo frei Antônio da Ilha. Era uma pequena e modesta capela. Quatro anos depois foram iniciadas as obras de um convento próximo.

O convento atual foi construído a partir de 1686. Em 1708, começou a construção da igreja atual, em estilo barroco, concluída 40 anos depois.

O interior da Igreja é de uma beleza rara, todo em uma deslumbrante talha dourada e imagens policromadas de mestres santeiros baianos, obras primas da arte sacra. Tem bastante jacarandá esculpido e duas pias de pedra, doadas por D. João V, rei de Portugal. Também de grande beleza são os púlpitos e o teto, com várias pinturas sacras. Os grandes painéis de azulejos são do século 18 e retratam passagens bíblicas.

Ainda de grande valor artístico, são as imagens de São Pedro de Alcântara, São Benedito, São José, Coração de Jesus, Santo Antônio e São Francisco de Assis no altar-mor. No lado esquerdo, destacam-se as imagens de N. S. da Conceição, N. S. da Glória, N. S. da Piedade, N. S. de Santana, Santa Luzia e São Domingos. (Texto do site: Bahia Turismo)

No topo detalhe da fachada em pedra com a imagem de São Francisco e o brasão com as armas de Portugal.

A Capela-Mor

Na capela-mor se destaca o importante grupo escultórico do altar-mor, que ilustra a aparição do Cristo estigmatizado para São Francisco. É produção moderna, de dimensões acima do natural, inspirada em tela de Bartolomé Murillo, célebre pintor espanhol. Foi talhado e instalado em 1930 pelo baiano Pedro Ferreira seguindo a estética e as técnicas barrocas

Altar lateral

São Pedro de Alcântara

O coro sobre a entrada que é aberta nas cerimônias religiosas

Altar lateral e púlpito

São José e Menino Jesus

Altar lateral

Santa Luzia

Altar do transepto dedicado a São Luís de Tolosa

São Luís de Tolosa

Altar lateral à direita a imagem de Santo Antônio de Lisboa (ou de Pádua), discípulo de São Francisco.

Santo Antônio de Lisboa (ou de Pádua)

Imagem de Nossa Senhora Aparecida diante da capela-mor cujo pavimento é feita com mármore de diversas cores, trabalhado de forma a representar folhagens. O piso veio de Portugal em 1738. E os azulejos das paredes, igualmente portugueses, representam cenas da vida de São Francisco.

No altar lateral à direita, imagem da Imaculada Conceição, devoção especialmente propagada pelos franciscanos.

A igreja é especialmente preciosa pela sua exuberante decoração interna. Todas as superfícies do interior – paredes, colunas, teto, capelas – são revestidas de intrincados entalhes e douraduras, com florões, frisos, arcos, volutas e inúmeras figuras de anjos e pássaros espalhadas em vários pontos.

A porta de entrada aberta apenas para cerimônias religiosas

As pias de água benta debaixo do coro, à entrada, foram doadas, segundo a tradição, por Dom João VI, e o piso tem revestimento decorado acompanhando o padrão dos entalhes do teto

O altar do lado oposto do transepto dedicado à Virgem Maria sob o título de Nossa Senhora da Glória.

Nossa Senhora da Glória.

Santa Ana

Altar lateral

Santa Efigênia

O conjunto, especialmente pela riqueza da igreja, é considerado como uma das mais espetaculares expressões do Barroco no Brasil, tendo sido tombado pelo IPHAN em 1985. Também foi eleito uma das 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo. Tem como vizinha de paredes a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, outro monumento notável pela originalidade de sua fachada profusamente ornamental, com reminiscências maneiristas e única no contexto brasileiro. O Centro Histórico de Salvador, onde os edifícios se localizam, foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco

Os grandes painéis de azulejos são do século 18 e o confessionário

 

Púlpito

O teto da nave possui pinturas sobre o ciclo mariano atribuídas por Augusto Telles ao frei Jerônimo da Graça, realizadas entre 1733 e 1737 retrata a alegoria da Imaculada Conceição da Virgem Maria com uma série de pinturas poligonais, inseridas numa maciça estrutura de talha branca e filetes dourados

O arco cruzeiro ostenta o mesmo brasão da ordem franciscana com as armas de Portugal.

Diante do grupo pende um lampadário de prata de quase dois metros de altura, pesando 80 quilos, datado de 1758-1761

A imagem que representa Jesus morto nos braços de sua mãe numa reprodução lembrando a Pietá de Michelangelo na qual Jesus fica do lado contrário.

São Benedito e Menino Jesus

Detalhe da talha mostrando dois atlantes

Saída da Igreja para o Convento

Altar com a imagem de São Francisco na sala de recepção

A cruz de mármore no largo em frente à Igreja foi erguida entre 1805 e 1808

A vizinha Igreja Ordem Terceira de São Francisco. Em 1701 foi dada autorização para que a Ordem Terceira construísse sua própria igreja, cemitério e outras dependências

  • Outras fontes de textos parciais, legendas e de consulta: Wikipédia / Sanctuaria Art / Viagem-Abril /  Biblioteca IBGE / Enciclopédia Itaú-Cultural / Bahia-Turismo 

3 comentários em “Igreja e Convento de São Francisco, a igreja dourada de Salvador, Bahia (parte 1)

  1. Geny Cordeiro
    27/02/2021

    Postagem riquíssima tanto no contexto histórico como em imagens com detalhes. Em tempos de aulas remotas, muito útil como material didático que soma conhecimentos. Estou orientando meus alunos acessarem este site para adicionarem mais informações sobre o conteúdo arte barroca no Brasil.
    Gostei muito.
    Obrigada

    • Olá Geny Cordeiro, muito obrigado pelo comentário que é um grande incentivo. Procuro fazer o que me for possível com muitas imagens pois o que gosto é de fotografar.

  2. Pingback: Igreja de São Francisco: o Convento e dependências da igreja dourada de Salvador na Bahia (parte 2) | Cronicas Macaenses

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Rogério P. D. Luz, macaense-português de Macau, ex-território português na China, radicado no Brasil por mais de 40 anos. Autor dos sites Projecto Memória Macaense e ImagensDaLuz.

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O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
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