Texto de autoria de Manuel V. Basílio (Macau)
Hou Kéng (ou Haojing, em pinyin) era um dos nomes que os chineses, nomeadamente os mareantes, utilizavam para designar a localidade que mais tarde viria a ser conhecida por Ou Mun (em português, Macau). O nome Ou Mun manteve-se até hoje em dia, no dialecto cantonense, mas em putonghua (ou seja, na língua oficial chinesa) os caracteres澳門 (OU MUN) pronunciam-se AOMEN, cujo nome é utilizado por visitantes do continente chinês, que não dominam o dialecto cantonense.
Na realidade, a localidade Hou Kéng não era desconhecida para os portugueses pois, já em 1515, Tomé Pires tinha escrito na sua obra Suma Oriental que “para os lados de Cantão, existe um porto, chamado Oquem, que para lá ir, por terra, são necessários três dias; se for por mar, apenas um dia e uma noite”.
Ora, Oquem não é mais que uma corruptela de Hou Kéng.
Durante as Dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1911), Macau era, administrativamente, parte do condado de Xiangshan (香山 , em cantonense, Heong Sán) da Província de Cantão (Guangdong). Já antes do estabelecimento dos portugueses, o porto que ali existia era conhecido por “Haojing Ao (濠鏡澳 , em cantonense, “Hou Kéng Ou”) e era um dos portos ao longo da costa de Cantão. Cerca de 1553 a 1557, do reinado do imperador Jiajing (嘉靖), da Dinastia Ming, os portugueses obtiveram autorização de oficiais chineses para permanecerem em “Haojing” (em cantonense “Hou Kéng”), cuja localidade veio a ser o território de Macau.
Além do nome “Hou Kéng” (濠鏡 Espelho do Fosso, ou 蠔鏡 Espelho de Ostras), existiram outras denominações poéticas ou literárias, que a imaginação dos escritores deu, no decurso dos tempos, tais como “Hói Kéng” (海鏡Espelho do Mar), “Kéng Hói” (鏡海Mar de Espelho), “Hou Kóng” (濠江 Rio do Fosso), “Kéng Wu” (鏡湖Lago do Espelho), etc., e alguns deles ainda são usados em nomes de instituições, associações, etc., tais como na denominação do Hospital Kiang Wu ou da Escola Hou Kóng e, também, do extinto teatro, localizado na Rua da Praia do Manduco, denominado “Hói Kéng” (海鏡).
Desde que os portugueses foram autorizados a fixarem-se em “Hou Kéng”, uma pequena ilha ou península ligada à então ilha de “Ansião” (*) por uma estreita faixa de terra ou istmo, a administração de Macau, durante quase trezentos anos, até 1849, foi partilhada entre a China e o governo português, a qual é atestada pela nomeação de oficiais chineses para a implementação de leis, ordens e normas chinesas no território de Macau. A partir de 1849, iniciou-se então o chamado período colonial, que durou 150 anos, até à transferência da administração portuguesa para a República Popular da China, em 20 de Dezembro de 1999.
Quando os portugueses foram autorizados a permanecer em Macau, a área ocupada era relativamente pequena, tendo os colonos inicialmente se fixado à volta de um local, a que deram o nome de Patane, onde construíram as primeiras habitações precárias, até se deslocarem para a zona central e sul da península. Por isso, a denominação então dada pelos portugueses era simplesmente “Porto do Nome de Deus na China” ou “Povoação do Nome de Deus na China” e, quando foi elevada a cidade, passou a ser “Cidade do Nome de Deus na China”.
Desde o início, o território ocupado pelos portugueses não tinha fronteiras definidas e aceites ou confirmadas pelas autoridades chinesas, assim como não tinha águas territoriais e, por conseguinte, o “chão português” crescia ou diminuía conforme as marés, limitado pela linha de costa onde a água chegava. Nestas circunstâncias, durante séculos, a área territorial da península de Macau, estimada em cerca de 3 km2, pouco se alterou.
O actual nome “Ou Mun” (澳門) só foi adoptado oficialmente bastante depois do estabelecimento dos portugueses, o qual literalmente significa “entrada do porto ou ancoradouro” (澳 “ou”, porto, baía, doca; e 門 “mun”, porta, entrada).
Há quem diga que o caracter “mun” (門), do nome “Ou Mun”, deriva de “Sâp Chi Mun” (十字 “Sâp Chi”, cruz; e 門 “Mun”, porta), devido ao posicionamento das ilhas D. João, Montanha, Taipa e Coloane, que formavam um canal em forma de cruz, por onde os barcos passavam.
Por outro lado, a designação “Mun”, que também significa “entrada”, enquadra-se bem na expressão portuguesa “entrada do porto” ou “barra”, por isso, aquela extremidade sul da península é denominada Barra, que continua a ser a entrada para o Porto Interior.
De salientar que o uso do caracter “mun” (門) no nome “Ou Mun” (澳門) não é caso único, porquanto há localidades não muito distantes de Macau, que possuem o mesmo caracter, como por exemplo, Mó Tou Mun (磨刀門), Fu Mun (虎門) e Kóng Mun (江門).
Nota: (*) Ansião ou Anção é uma transliteração fonética, utilizada pelos portugueses, para designar “Heong Sán”, em mandarim, Xiangshan (presentemente, Zhongshan ou, em cantonense, Chông Sán).
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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No Anuário de Macau do ano de 1962, nas páginas finais, vários anúncios publicitários encontravam-se publicados, os quais, reproduzimos abaixo para matar as saudades de quem viveu aquela época de ouro, ou então, para curiosidade daqueles que possam se interessar em conhecer, um pouco mais, aquela Macau de vida simples, sem modernidade, mas, mais humana.
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