Em 21 de Abril de 1923, a Illustração Portugueza dedicou a sua capa a Macau com mais quatro páginas de fotos feitas pelo funcionário público M.Antunes Amor que regressava da sua viagem ao Extremo-Oriente. A esse respeito, a Revista Macau, edição de Março 1994, publicou um artigo do Rogério Beltrão Coelho com várias fotos e o texto do Antunes Amor na Illustração. Veja:
de Rogério Beltrão Coelho – Revista Macau Março 1994
No regresso a Portugal, um funcionário público deixou, nas páginas da Ilustração Portuguesa, uma amostra do seu talento como fotógrafo amador e “fez correr, nos cinemas de Lisboa, uma interessante fita, também sobre Macau”…
Uma das características da Illustração Portugueza (criada em 1884) que nos tem levado a dedicar-lhe sucessivas edições do “Alfarrábio” (situação que se manterá por mais algum tempo) é a importância documental das imagens fotográficas que, desde finais do século XIX, foi reproduzindo nas suas páginas, numa iniciativa pioneira que (como referimos no “Alfarrábio” de Novembro de 1993) a restante Imprensa portuguesa só acompanhou em finais do primeiro quartel do século XX. Ao vanguardismo da técnica (os outros jornais e revistas tinham de recorrer à publicação de gravuras a traço baseadas na imagem fotográfica) juntou a ilustração, desde a primeira hora, uma indiscutível qualidade artística que atingiu um dos pontos mais altos por volta de 1900. Em Portugal, contou, para o efeito, com o concurso de um dos melhores fotógrafos de sempre, Benoliel.
Acontece, ainda, que a Illustração, nas várias fases da sua existência, dedicou a Macau espaço privilegiado em relação às outras colónias portuguesas. A atracção pelo exotismo do Oriente e os temas que Macau proporcionava (“cidade de jogo e de prazeres…”) constituíram, decerto, a razão para o espaço ocupado em sucessivas reportagens. Mas, para que tal fosse possível, e porque não se justificaria (como acontece hoje com frequência) a deslocação de jornalistas a Macau, muito contribuiu a colaboração de excelentes fotógrafos amadores que passaram pelo território.
O caso mais notável foi, seguramente, o do Dr. Albano de Magalhães, juiz de direito, e a quem, em meu entender (como também já foi referido nesta secção), se devem as melhores imagens publicadas na Illustração no princípio do século.
Albano de Magalhães esteve em Macau ao mesmo tempo que o Dr. Gomes da Silva (de quem foi amigo e companheiro de farras), médico com obra notável deixada em Macau e que dá o nome a uma das escolas de Macau.
Durante anos, a Illustração Portugueza (ou, na nova grafia, Ilustração Portuguesa, na 2a série) foi divulgando, com maior ou menor destaque, a vida, os costumes e os acontecimentos da colónia portuguesa na China. Um ano antes de suspender a publicação da 2a série, em 21 de Abril de 1923, dedica a capa a Macau (o que terá acontecido pela primeira vez) e ocupa quatro páginas com uma reportagem fotográfica de M. Antunes Amor (também autor do texto e retratado em medalhão ao alto do artigo), funcionário público recentemente regressado do Extremo-Oriente…
As 18 fotografias de Antunes Amor (que, no seu regresso a Portugal, fez correr, nos cinemas de Lisboa, uma interessante fita, também sobre Macau ) constituem um documento precioso de sítios e situações hoje completamente alterados ou desaparecidos.
Merecem destaque o edifício do Leal Senado, antes das obras que, em 1939, lhe introduziram a actual fachada, e em cujo largo se pode ver um relógio público pouco referido fotograficamente; a avenida Almeida Ribeiro, com a “garage Macau” e o Cinematógrafo Vitoria (substituído pelo banco Tai Fung); o Palácio do Governo num dos seus “figurinos” mais antigos; uma loja de chá ricamente decorada; uma mulher-adivinho com um cachimbo hoje já fora de uso; uma típica loja de tabacos e câmbios; e um quarteirão do Bazar de que restarão actualmente, na melhor das hipóteses, uns pedaços de janela… Para além, é claro, de uma fotografia rara de um deck com passageiros em cadeiras de bambu num vapor a chegar a Macau; de um instantâneo do vapor Sui-An (em relação ao qual Antunes Amor não deixa de acrescentar ter sido recentemente saqueado pelos piratas); e uma imagem de rara beleza do porto interior.
Quanto às impressões do fotógrafo enquanto escriba, Macau gozava duma prosperidade, hoje inegualada por qualquer outra das nossa colónias, mercê dos milhões de patacas auferidos pelo Estado, com os monopólios do fabrico do ópio, do jogo do fan-tan, das loterias do san-pio e p’u-pio, do sal, etc.
Para Antunes Amor, Macau era lugar de repouso, gozo e segurança para os chineses multimilionários: cidade rica de prazeres para o viajante; e para o militar e para o funcionário civil, se não for o Eldorado onde a “árvore das patacas “floresce e frutifica prodigamente, é, pelo menos, o sitio do Ultramar que, no clima e nos hábitos de vida dos coloniais, mais se irmana á Mãe-Pátria.
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Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Não poderia este blogue deixar de fazer mais um registo histórico de uma tradição mantida na Macau do ano de 2023, hoje, território da República Popular da China. Assim, o nosso colaborador, Manuel V. Basílio, macaense residente em Macau, nos dá o relato, com fotos, sobre a procissão de Nossa Senhora de Fátima realizada no […]
No Anuário de Macau do ano de 1962, nas páginas finais, vários anúncios publicitários encontravam-se publicados, os quais, reproduzimos abaixo para matar as saudades de quem viveu aquela época de ouro, ou então, para curiosidade daqueles que possam se interessar em conhecer, um pouco mais, aquela Macau de vida simples, sem modernidade, mas, mais humana.
Páginas digitalizadas do Anuário de Macau, Ano de 1962, o que aparentemente foi o último da série, ficamos aqui a conhecer quem eram as pessoas que ocuparam cargos no – Governo da Província e Repartições Públicas. Mesmo passados mais de 60 anos, agora que estamos na década com início em 2020, muitos nomes ainda estão […]
Os meus parabéns pelo excelente trabalho sobre a história da antiga Macau
Muito agradecido Carvalho Brochado