Na véspera do dia da transição de soberania de Macau em 19 de Dezembro de 1999, data em que Portugal devolve o território à China, o governo português fez a emissão de uma coleção de selos, que diria, históricos, com o título MACAU RETROSPECTIVA. Fui feliz em ter sido contemplado com um exemplar, além de outra coleção do início do novo governo chinês. Assim, publico para a memória e informação, que igualmente será de utilidade para os filatelistas.
A coleção consta de um encarte explicativo, 2 envelopes selados, 4 cartões postais selados e vários selos. Na sua capa está publicada a foto e a mensagem do último governador português de Macau – General Vasco Rocha Vieira. Vejamos:
Texto do encarte dos selos:MACAU RETROSPECTIVA
MACAU, NA UNIDADE DO MUNDO
Pretende-se ilustrar, na série das quatro estampas desta colecção. o que de mais alto pode assinalar-se no saldo histórico da presença portuguesa em Macau, durante quatro séculos e meio.
A empresa lusíada dos Descobrimentos teve como superior moção redimir o Mundo do mal e da divisão. Orientou-se pela regeneração e pela unidade. Iniciou a nova era histórica da unidade do Mundo.
A partir de Macau operou-se um desenvolvimento da primeira fase da aventura marítima, do ciclo heróico dos Descobrimentos — depois do reconhecimento geográfico global, abriu-se o capítulo do conhecimento do outro.
Macau surge, assim, como o mais perfeito símbolo de realização da vocação pátrida lusa — o universalismo. Anfiteatro do encontro e apresentação de dois hemisférios. Macau, o pequeno porto comercial e burgo renascentista de cultura, representou na História um dos mais assinaláveis lactores históricos da globalização, da era que se abre à entrada no novo milênio.
Em quatro quadros resumem-se, do passado para o futuro, os passos mais marcantes desse trânsito, em que ressalta o pioncirismo de Macau no movimento da unidade do Mundo.
O CONHECIMENTO FÍSICO
Quando o jesuíta Mateus Ricti entrou na China pela porta de Macau soube que tinha que dar-se a primeira resposta a duas questões. A da Europa: “Qual é o aspecto da China?”; e a dos chineses: “De onde vem? Como descreve o mundo?”.
Assim foi executado o “mappamundo” (1584) de Ricci, onde se apresentou a geografia do mundo conhecido na Europa à nação e classe letrada chinesas.
Giulio Alieni (1582 — 1649) executaria em 1623 um atlas das várias partes do mundo, que foi uma das maiores fontes geográficas para chineses, japoneses e coreanos.
A partir do Século XVII, os jesuítas passaram a aperfeiçoar e a produzir mapas mais exactos e descritivos da Ásia para a Europa.
A execução da primeira representação da Terra em forma de globo, pelo português Manuel Dias e o italiano Lomgobardi, além do simbolismo. concorria com a prova teórica da esfericidade da Terra introduzida na China.
A ALMA E O ESPÍRITO
Desde o início, a estratégia da entrada no âmago do Império Chinês dava valor igual ao Outro. Assim foi definida a política de “acomodação cultural”, cerne de uma vasta operação inter-civilizacional com sede no Colégio da Madre de Deus em Macau. Foi o mais largo e exemplar fenômeno de encontro de culturas assinalado na História.
De 1582 a 1773, foram apresentados à classe letrada do Império chinês todos os ramos do Saber ocidental, movimento nucleado ao famoso Tribunal das Matemáticas da Corde de Pequim, presidido quase desde o início e até à extinção por jesuítas portugueses. Foram publicadas nesse período 187 obras, esforço ingente de tradução para língua chinesa dos livros mais marcantes na cultura e na ciência ocidentais.
No ano 48 do reinado de Wanli (1620) Nicolas Trigault chegou a Macau com “mais de sete mi! livros bem decorados1“: na maioria foram formar a biblioteca de Pequim.
Sobressaíram os contributos prestados à cultura chinesa nos campos da Matemática, da Medicina, da Astronomia (o rigor na predição dos eclipses era politicamente importante para demonstrar que o Imperador ainda gozava do “mandato do Céu”), da Mecânica, da Música e do Calendário (reforma do calendário chinês segundo o gregoriano).
Em sentido inverso, a divulgação da cultura tradicional chinesa começou a fluir para a Europa com os primeiros relatos descritivos da nação e do Império (sobretudo de autores portugueses) e com a publicação do Quadrivolume de Confúcio (Sishu) por Ricei em 1593, em Itália (Telrabiblion Sinense de Mortbus).
MACAU, A ALDEIA GLOBAL
Nas suas épocas mais florescentes. Macau foi porto de todos os comércios, materiais e espirituais. De todos os quadrantes. o mundo todo foi aqui convocado. Parafraseando Fernando Pessoa. Macau foi todo o mundo a sós. Foi miniatura do mundo global a vir. Essa a sua grandeza rara.
Na sua dimensão antropológico-cultural, Macau espelhou essa confluência de matrizes e influências, culturalmente resolvida em termos de Civilização e antropologicamente operada em hibridismos complexos. Houve, em Macau, solução universalizante.
As sínteses seculares do encontro e convívio de diversidades culturais e genéticas tiveram aqui o seu fundamental pressuposto — o espírito e a prática da tolerância.
Na sua genética biotipológica e na sua endogenia cultural, o macaense. ou “filho da terra”, é a máxima encarnação da mensagem universalista aqui protagonizada por gerações ao longo das séculos.
DE LONGE, PARA O FUTURO
Olha-se hoje. para Macau, com o sentimento de uma justiça histórica: Macau acompanha, neste virar do milênio, o ritmo de progresso que caracteriza a era da globalização, por que Macau clamou no seu passado.
Macau é simbiose convivente das memórias e patrimônios do passado com as expressões materiais da modernidade, projectando-se ao futuro.
A nova urbe. arquitectada no risco da política dos últimos dez anos. o monumento jurídico, e o seu regime de direitos e liberdades, as inovações e absorção de padrões internacionais — fazem de Macau a Metrópole moderna, onde pulsam os mais fortes ritmos do presente e a mesma, constante, vocação de operação de sínteses culturais, de abertura ao mundo e de construção da civilização da universalidade.
Pioneira da unidade do Mundo. Macau está bem. por direito, num mundo de “aldeia global”, modelo que antecipou no tempo e no espaço reais da História dos homens.
REFERÊNCIAS ICONOGRÁFICAS
Selo I
Para simbolizar o conhecimento geográfico do mundo, dois dos mais representativos momentos da cartografia jesuíta na China:
– O mapa-mundo chinês de Mateus Ricci — Kunyu Wanguo/ Quantu. mapa dos dez mil países da terra. Detalhe do exemplar da Royal
Geographic Society. Londres, reproduzida da RC. n.° 21, ICM. Macau.
– O primeiro globo terrestre chinês (1623) executado por Manuel Dias Júnior e Nicolau Longobardi. Reprodução do globo da British Library.
publicado na RC. n.°21. ICM. Macau.
Selo II
Para simbolizar o movimento da apresentação e compenetração cultural, escolheu-se um aspecto do Observatório Astronômico de Pequim, imediatamente à refundição dos aparelhos coordenada pelo jesuíta Ferdinand Verbiest.
E projecção da cruz da Ordem de Cristo, (instituição portuguesa que concebeu e desencadeou a aventura marítima) símbolo com que o Ocidente ficou identificado em todo o Oriente. A Cruz de Cristo foram as armas atribuídas a Macau imediatamente ao seu estabelecimento.
Selo III
Para simbolizar a tolerância e o convívio e miscigenação antropológica e cultural, seleccionou-se um pormenor do “Quadro dos Tributários” do Imperador Xianlong, livro-harmónio com memória descritiva de todos os tipos humanos do Império chinês. Na estampa, como no envelope, uma seqüência da galeria de tipos humanos observada e retratada em Macau (Séc. XVIII).
Selo IV
Sobre a volumetria dos novos edifícios do fecho da Baía da Praia Grande, o Farol da Guia como símbolo de um passado que persiste.
Foi pela primeira vez aceso nas costas da China em 24 de Setembro de 1865.
O maquinismo primitivo, que funcionava a petróleo, foi concebido pelo industrioso macaense Carlos Vicente da Rocha.
Em Junho de 1910 o melhor mecanismo foi substituído por aparelhagem mais moderna de rotação, importada de França.
Autor: Luís Sá Cunha
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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1 Aqueles bons tempos de Macau, que já não voltam mais, de peças teatrais com participação de macaenses, são recordadas por Jorge Eduardo (Giga) Robarts na sua página no Facebook. Com autorização do Giga, as imagens foram copiadas e editadas, inclusive seus textos. Fazem parte do seu acervo, bem como, partilhadas por seus amigos dessa […]
Nesta postagem, divulgamos duas histórias de Macau de autoria do Manuel V. Basílio, publicadas no Jornal Tribuna de Macau-JTM e que foram extraídas dos seus livros: A primeira viagem portuguesa no sul da China O primeiro acordo sino-português Nos artigos abaixo com os textos com ligação direta no JTM , clique em “continue reading” (continue […]
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