Tai chi chuan (em chinês: 太極拳 pinyin: Tàijí quán) é uma arte marcial interna chinesa, também reconhecida como uma forma de meditação em movimento. Internacionalizou-se e conquistou praticantes pelo mundo todo.
O artigo de 1985 publicada na Revista Nam Van não envelhece e os conceitos, a forma de ver a arte marcial sempre é atual. Veja:
TAI CHI: HARMONIA UNIVERSAL
Artigo de autoria de Severo Portela publicado na Revista Nam Van edição Outbro 1985
TAI CHI, em cantonense Tai Kek, não é uma referência apologética à contradição de tentar explicar o inexplicável; atentemos no início do Tao Te Ching: o Tao de que se pode falar não é o verdadeiro Tao.
Como adquirir a sabedoria da vida aprendemos com o corpo. A mudança é movimento; o Tai Chi é movimento, mudança em movimento.
Partir do centro e seguindo a corrente de energia regressar ao centro, respeitando a indispensável disciplina, já que a força do Tai Chi reside na integração de Forma e Liberdade: somos responsáveis pelos padrões da nossa vida e assim devemos procurar a Ordem. A disciplina só é opressiva se for tomada como tal.
A mudança e a questão central da vida, colectiva e individual, ansiámos por ela, mas também resistimos, pois tudo se altera demasiado depressa para o nosso ritmo; para nos sustentarmos aprendemos a mudar, isto é, tentamos manter o controlo criando padrões de mudança.
TAI CHI-ARTE DA VIDA
Mais do que um conjunto de exercícios, o Tai Chi é uma arte de vida, cuja prática prolonga a longevidade, elimina as tensões e os desiquilíbrios, desenvolvendo o espírito e o «bem-estar» mental.
A forma actual é o resultado de um desenvolvimento, de um historial de 15 séculos, em que as técnicas foram sendo racionalmente organizadas mas inspirando-se sempre nos mesmos princípios.
O sistema compõe-se de três vertentes fundamentais: a forma, a respiração (técnica de inspiração/expiração) e das técnicas de defesa. A estrutura básica consiste em 37 movimentos padrão que se podem desmultiplicar em 108 posições, sem feição estática, constituindo padrões dinâmicos de acção, dirigindo-se uns aos outros em «continuum», mas mantendo a sua individualidade.
O esquema global é regulado pelos princípios Yin Yang, as forças positiva e negativa que compõem a harmonia dos contrários (Universo) que daí decorrem, (os pares de contrários).
O Tai Chi é a arte da vida e de harmonia dos espíritos, cuja beleza reside na estética dos movimentos naturais. As formas e posições são imprimidos em todas as partes do corpo em consequência da coordenação de energia (chi) e das tensões e distensões musculares. Depois de completado o conjunto de exercícios (cerca de 20 minutos) não só existe ausência de fadiga mas igualmente o «sentir» de um vigor renovado num corpo integralmente tonificado.
A movimentação é leve e circular mas deve ser complementada com uma correcta coordenação respiratória; o Tai Chi determina a inspiração com as mãos contraídas, em baixo ou atrás, e a expiração nas posições inversas. A prática do sistema de respiração (Nei Kung) no seu estádio desenvolvido, é suposto «refrescar» cada célula do corpo «recarregado», aumentando a eficiência do trabalho diário (diminuindo a penosidade), maximizando as faculdades intelectuais e reduzindo a tensão. A técnica de respiração Tai Chi é directamente inspirada no pensamento Taoista, adoptado igualmente pelo Budismo Zen, no horizonte da meditação e longevidade; o Tai Chi retoma-a para o desenvolvimento da «energia intrinseca».
Sendo um exercício (ou arte), as técnicas que compõem o Tai Chi são aplicáveis à defesa pessoal. Cumulando as posturas básicas, um grupo de operações utilizando as mãos (Tui Shiu, Ta Lu) ou de mãos livres (Shan Shiu) e outras, constituem um perfeito sistema de defesa pessoal baseado na não-agressão. Exerce-se oposição sem, o dispêndio de força.
O objectivo primeiro do Tai Chi radica-se no bem-estar, com a premissa em direcção à juventude «eterna», com tudo o que envolve o conceito de bem-estar, enquanto a defesa pessoal é factor secundário.
A sua carga e objectivos diferem totalmente das outras ginásticas, como as exclusivamente musculares e de exibição. A tónica é a técnica de respiração; a respiração adequada é parte integrante da arte da vida. Aliada à estruturação dos movimentos, a técnica de respiração concentra o espírito, acalma as emoções, regula a circulação sanguínea, mobiliza todos os músculos e ligamentos, renova a energia e as faculdades intelectuais. Aumenta a capacidade respiratória, estimula o sistema nervoso e regula todas as funções do corpo.
Com o domínio de todas as técnicas e regulações (e a prática) o Tai Chi revoluciona o Espírito e equilibra as forças Yin Yang no Homem.
O Tai Chi, balança entre o exercício «tout court», implicando esforço e uma forma de Yoga chinês.
O «sentir-se bem» não é exclusivo do resultado da execução dos movimentos, da tranquilidade de espírito ou do desenvolvimento espiritual; pois segundo o Tao a dicotomia corpo/espírito é abusiva e a tranquilidade espiritual não acompanha os chamados estados místicos do Ocidente.
O Tai Chi, é um muito antigo exercício (ou arte) de harmonia entre o corpo e o espírito, cujo historiai se prende há 15 séculos. Baseia-se teoricamente no I Ching e no Neo-Confuncionismo, reportando-se pois a uma base científica, mais do que a uma metafísica. Inclui, no entanto, elementos do confuncionismo e do budismo Zen e variações taoistas.
O Tai Chi compreende a vertente marcial, defesa, originando variados tipos de artes marciais, que se baseiam nos seus princípios fundamentais; a sobrevivência combinada ao desejo de juventude eterna exige o Tai Chi.
CEDO, muito cedo, para uns madrugada para outros princípio de dia se trabalho, os jardins passeios e mesmo espaços se vulgaridade, enchem-se de novos e velhos, principalmente velhos, esgrimindo o ar alheados do exterior. O Tai Chi é um conjunto de exercícios adaptados às capacidades físicas de quem perdeu há muito a agilidade, a força, mas mantém a dedicação ao estar vivo e à vontade de integração no (respeito) pela Natureza. Aos olhos pouco habituados a este espectáculo, estranha-se o cerimonial que mais parece atitude religiosa, e de facto assim é.
O Tai Chi não é apenas exercício físico; mas integração na harmonia cósmica no fluxo de equilíbrio universal. Corpo e espírito pertencem a uma mesma unidade.
A dureza quotidiana é atenuada, ou antes, é enfrentada pela distensão do corpo e pela comunhão naturalista com o cosmos.
A cosmogonia que subjaz ao universo é o princípio do equilíbrio entre opostos Yin/Yang, a harmonização dos contrários; também o homem, que se integra na corrente geral do universo, é fruto de dois princípios, ou, melhor, coexistem dois contrários; aquilo que poderíamos chamar da complementação masculino feminino.
Outros pares de opostos tutelam a vida terrena; mãe e terra, alto e baixo, rotação e translação, lento e vertiginoso. Eis a origem do Tai Chi: a recuperação de um equilíbrio primevo.
A lentidão com que são executados os movimentos de Tai Chi, mais parecem passos de dança ou simulações de estados catatónicos, decorre da peculiaridade do homem em relação aos outros animais. Ao animal e porque anda a quatro só a energia da gravidade o afecta; o homem é o resultado da tensão de duas forças: a sua postura erecta condena-o à gravidade e à energia cósmica que o percorre verticalmente.
Há então duas forças a equilibrar e harmonizar: a referente à terra pode ser conseguida (recuperada) pela ginástica, em força, a energia cósmica é perdida pelas zonas de pele fraca por oposição às zonas de pele «dura» e é conservada pela estimulação das zonas do corpo em que se perde energia.
Outra vertente a ter em conta é a inspiração nos movimentos de animais, não perdendo energia, a sua movimentação é inspiração para o homem.
Observando o humano na sua forma nascitura, deparamos com uma quantidade enorme de energia que se expressa na vertigem dos seus membros, mas o pescoço não é ainda utilizado.
É ponto fundamental para o Tai Chi o pescoço e a respiração. O deescordenar dos movimento respiratórios impede a conservação da energia necessária à Harmonia.
Pela zona do pescoço escapa-se a grande parte do fluxo.
A reposição da originalidade dos fluxos é o objectivo do Tai Chi, que não se fica pelo pragmático exercício, mas integra espiritualidade na corporalidade.
Yin e Yang, os pares de actividade e tranquilidade, elementos cósmicos que integram o Tao, caminho, governam também a vida do homem como elemento constitutivo do Universo. Outra especificidade do pensamento chinês é a existência do problema como condição «sine qua non» para trilhar o caminho, Tao. A conjugação dos pares na harmonia perfeita é a miragem que persegue o Homem justo: este ideal inalcancável pauta a conduta mas não considera a santidade; o pensamento chinês ignora em certa medida a racionalização da metafísica, a sua metafísica; é um acessório à ética, privilegia-se a intuição em relação à razão.
Não dando o passo fundamental da separação de corpo e espírito, não admira que o seu pensamento aborde o exercício físico como manifestação de espiritualidade. O progresso teórico e técnico é conquistado pela elevação tanto do corpo como do espírito.
E curioso notar que nas escolas ou academias onde se pratica o Tai Chi, o método ocidental de separar corpo teórico e prática não é seguido. O aluno só é elucidado das significações que envolvem a sua prática com o progresso conseguido: «faça e logo verá.»
Ultrapassa-se pois a simples terapia física, a mera recuperação de uma virtualidade corporal para passar a ser uma forma de vida.
Isto radica-se na noção de culpa no Taoismo; retira-se ao foro individual a noção de responsabilidade o humano não pode denegar a cosmicidade constitutiva apenas a ela pode ambicionar por definição inalcancável pois está sujeito à corrupção, à tensão das forças equilibradas ao nível macro mas desiquilibradas ao nível individual.
Ultrapassa-se, assim, a noção ludaico-cristã do corpo como invólucro, corrupto da perfeição; isto é, o corpo impede a perfeição que reside na alma; para o Taoismo, corpo não sendo um invólucro perfeito pois é limitado no tempo, e no entanto, o corpo é composto dos mesmos elementos tutelars do cosmos: Yin e Yang.
Esta integração na Natureza é complementada com a execução de movimentos, imitando animais. A inspiração na vida animada tem raiz na inexistência das tensões verticais que condicionam o humano, depreendendo-se que toda a sua postura e deslocação são ideais de conservação do fluxo energético.
Temos também a considerar a vertente marcial do «inocente» Tai Chi: a origem, tanto do exercício Tai Chi como das artes marciais, é a mesma. A velocidade de execução é diferente, e os movimentos não se incluem todos na mesma tipologia, já que os movimentos de defesa e ataque são de «força», enquanto os movimentos Tai Chi são de conservação.
O progresso e aperfeiçoamento são conseguidos ao fim de uma prática constante e perseverante. A «libertação» do corpo vai a par da «limpidez» do espírito.
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Não poderia este blogue deixar de fazer mais um registo histórico de uma tradição mantida na Macau do ano de 2023, hoje, território da República Popular da China. Assim, o nosso colaborador, Manuel V. Basílio, macaense residente em Macau, nos dá o relato, com fotos, sobre a procissão de Nossa Senhora de Fátima realizada no […]
No Anuário de Macau do ano de 1962, nas páginas finais, vários anúncios publicitários encontravam-se publicados, os quais, reproduzimos abaixo para matar as saudades de quem viveu aquela época de ouro, ou então, para curiosidade daqueles que possam se interessar em conhecer, um pouco mais, aquela Macau de vida simples, sem modernidade, mas, mais humana.
Páginas digitalizadas do Anuário de Macau, Ano de 1962, o que aparentemente foi o último da série, ficamos aqui a conhecer quem eram as pessoas que ocuparam cargos no – Governo da Província e Repartições Públicas. Mesmo passados mais de 60 anos, agora que estamos na década com início em 2020, muitos nomes ainda estão […]
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