PROJECTO MEMÓRIA MACAENSE 10 ANOS
“nunca é demais recordar”
A rever o meu acervo de antigas digitalizações da era analógica da fotografia, encontrei algumas fotos curiosas tiradas nas festas da Casa de Macau de São Paulo, nas gestões de Roberto Colaço (ou Frederico Martins?) e posteriormente de Armando Sales Ritchie, nesta última em que fui diretor cultural no período de 2000-2002.
Foram digitalizadas de forma muito precária, em baixa resolução, numa época em que era um aprendiz da informática. Algumas são de minha autoria, e outras, infelizmente, me desculpem os autores, não sei dizer quem as tirou. No entanto, preferi publicar deste jeito evitando quebrar a cabeça para achar as fotos antigas impressas em papel no meu acervo, que somam centenas. Assim, peço desculpas pela baixa qualidade das fotos, mas vale a intenção de compartilhar com vocês estes memoráveis tempos.
Dani Chao Hu nasceu em Macau e é mestre em artes marciais chinesas. Numa festa da Casa de Macau fez uma demonstração da sua especialidade com seus discípulos e colaboradores, e nesta apresentação quebrou vários tijolos com um martelo de pedreiro na cabeça do seu comparsa. Por sorte tirei a foto no exato momento em que o golpe foi desferido.
Era Ano Novo chinês, provavelmente 2001. Montamos um ambiente chinês com esses móveis que vieram de Macau, doados pelo antigo governo português. O saudoso José “JC” Cândido Remédios gostava de usar trajes típicos conforme a festa, além de ser um bom ator no teatro de patuá. Nesta foto ele vestido tipicamente chinês (si fú?) cumprimenta Yolanda Luz Ramos à moda chinesa.
Na nossa grande festa junina em 2000, aliás foi espetacular com barracas de jogos, comisainas, tal como uma arraial, pois conseguimos muitas doações, tivemos uma visita ilustre do Prefeito das Ilhas (Taipa e Coloane) de Macau: Madeira de Carvalho. Na foto ele entrou no clima da festa usando um chapéu caipira a fazer uma pose de reverência. Da esquerda: Armando Ritchie (presidente CMSP), Vereador Estima, Madeira de Carvalho e Telma Antunes Brito (vice-presidente).
Nesta festa junina, esse trio macaense deram uma de “cowboy”. Da esquerda: José “JC” Cândido Remédios, Clemente Badaraco (do jeito como ele gosta, de cowboy à Charles Bronson que até que é parecido) e Francisco “Chicói” Madeira de Carvalho (um autêntico Hopalong Cassidy e com cara de Bob Hope).
Festa junina tem que ter casamento caipira (refere-se a morador do campo, da roça) e nesta simulação, o cowboy Clemente Badaraco “armado” com uma espingarda leva a filha (Francisco “Chicói” Madeira de Carvalho em traje de noiva), grávida, para casar-se com o pai da criança … (veja foto seguinte).
Ai iai iai … o caipira JC (José Cândido Remédios) teve que casar-se sob a mira de uma espingarda, caso contrário: “leva cumbo”, e o cowboy “Charles Bronson” (Clemente Badaraco) observa atento …
Trazendo esta velha brincadeira do teatro de Macau, em que os homens costumam atuar vestidos de mulheres, promovemos no ano de 2000, na festa do Dia das Mães, um desfile de moda com as associadas da Casa de Macau, porém com um mix de trajes e “convidados” especiais. Nada fácil arranjar homens para este “sacrifício”, no entanto conseguimos voluntários, pois afinal, tudo é diversão e sem baixaria. Na foto, a Mariazinha Lopes Carvalho desfilou com trajes de madame do início de século, tendo ao seu lado, quem? quem? Seu marido, o Francisco “Chicói” Madeira de Cavalho, um grande herói que aceitou este valoroso papel. E olha, como está “bonita“!!! E não queiram acreditar, um senhor macaense que não sabia da história, perguntou insistentemente “quem é essa gaja, quem é essa gaja???” … Veja a gaja desfilando na foto abaixo:
Então, eis a gaja desfilando e que provocou tanto “entusiasmo” do senhor macaense. Atrás no lado direito, o Manuel Ramos no papel de famoso costureiro Jean Jacques a apresentar os seus modelitos.
Nesta outra foto que estou quebrando a cabeça para recordar qual era o evento, vemos novamente o trio de atores “para todos os tipos de papéis”. Da esquerda, o Chicói vestido de portuguesa, o JC com cheong sám (cabaia chinesa) e o Badaraco trajado de mulher árabe. Nota: no lado direito, duas senhoras que já partiram para o descanso eterno: Angelina Colaço e a esposa do Assis Fong (nome …).
O Armando Ritchie também é daqueles que é bom de teatro, especialmente de patuá e que faz tanto falta à Mariazinha Lopes Carvalho que está “orfã” deste seu antigo companheiro de trabalho, hoje residente em Macau e já integrando o Dóci Papiaçám. São Paulo perde um bom ator e Macau ganha. Na foto numa apresentação (ele à direita) com o Clemente Badaraco, ambos vestidos de mulher.
Complementando a foto acima, os dois “on stage” no palco, no ginásio da Casa de Macau.
Aqui ilustra bem os bons tempos da parceria de teatro de patuá de São Paulo, com a dupla (da esquerda) Mariazinha Lopes de Carvalho e Armando Ritchie num peça na nossa gestão de 2000-2002. Na foto, ao fundo, da esquerda, JC Remédios e Mourato.
Enfim, é isso! Velhos tempos, bons tempos, que já não voltam mais. Parte pela perda de quem já partiu para o descanso eterno, outros que fizeram o caminho inverso da imigração para o Brasil, ou aqueles tantos que se afastaram por motivos que não quero comentar e nem cabe questionar, e sem falar pelo fator “idade”.
Estamos envelhecendo, surgem as limitações físicas que aliadas à progressiva diminuição e dispersão da comunidade macaense, daqueles que trouxeram os costumes e cultura, e estes momentos ficam para a memória. Os jovens desapareceram! Os motivos são vários e compreensíveis, e também não é minha vontade comentar, ou questionar.
Que saibamos criar caminhos para a continuidade, com o olhar para o futuro, aceitando e adaptando-nos aos novos tempos. E que um dia a comunidade volte a reunir-se como uma família, se não grande, mas pelo menos que a dispersão ou afastamento seja menor, pois ainda há muitos de nós por aí, pela cidade, pelo Estado, muitas vezes nos encontrando apenas em tristes momentos de velórios e funerais, ou em festas particulares. Que saibamos criar condições para o entendimento e a superação.
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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A crónica desta semana foi para mim, + interessante, pq. além de reconstituir o que teve lugar há + de dez anos na CM de S. Paulo, vieram algumas fotos de pessoas que eu conheci, algumas das quais já falecidas como é a lei da vida. Mas foi muito agradável recordar os amigos e a CM de S.P. (que visitei algumas vezes com meus familiares, qdo. a idade e o entusiásmo eram outros). Mais um vez o meu conterrâneo Rogério prestou um bom serviço a muitas centenas de macaenses espalhados pelo mundo, criando na memória deles a recordação das suas origens e seus costumes da terra, apesar de terem sido tantos e tantos a emigrarem para outras paragens.
Grato Giga, aos poucos e continuamente vamos desengavetando memórias. Abraço!