Chamou-me atenção o título no Jornal Tribuna de Macau, edição de 27/09/2013 – ANTÓNIO ESTÁCIO “NA RODA DE AMIGOS”, sem perceber a anotação “Há 20 Anos”, tanto que, cheguei a pensar que o livro do amigo Estácio estava a ser relançado.
O texto do artigo a relembrar acontecimentos ocorridos há 20 anos atrás dizia: “amanhã, dia 28 pelas 18, na Livraria Portuguesa, é lançado mais um livro de António Estácio: “Na Roda de Amigos”. Despretensioso e afável como o seu autor, o livro apresenta poemas referentes a situações e personalidades de Macau, sempre tratadas com graça e elegância. O próprio António Estácio os classifica de “passatempo divertido”, até porque muitos são novas “letras” de fados e canções célebres, permitindo assim que sejam cantados “em roda de amigos”. Daí aliás, o nome dado à obra, que se apresenta numa edição cuidada e enriquecida com desenhos de Zilhão de Barros. É de esperar que muitos amigos (dos que soube conquistar ao longo de 21 anos consecutivos de residência em Macau) compareçam amanhã na “roda” da Livraria Portuguesa, dando a António Estácio o abraço que merece.”
(clicar nas imagens abaixo para ampliar)
O livro teve tiragem inicial de 300 exemplares em Setembro de 1993, e como reforço, mais 200 em Dezembro do mesmo ano. Foi uma “produção independente” do autor, que bem que poderia ter tido apoio da administração portuguesa de Macau, pois eram fartas publicações patrocinadas, embora nem para todos. Na verdade o Estácio bem que agradece no livro a colaboração de diversos amigos, entre eles, a destacar Jorge Mesquita, José Cândido Rodrigues, Leonel Barros, Nuno Rodrigues e U Tit Kuong.
No Preâmbulo, o autor faz a seguinte apresentação:
“Sempre senti uma forte relação entre a poesia e a música. Por isso as considero formas de expressão com uma complementaridade natural. Se, por um lado, a música complementa o poema, permitindo-lhe adquirir uma maior expressão e sonoridade, quando devidamente musicado, por outro, parece-me pacífica a força intrínseca do poema como sustentáculo da música. A dificuldade reside em saber casar ambas.
Desde há anos que me dedico a um exercício, que consiste em criar uma estrutura paralela para certos trechos musicais, mais ou menos, conhecidos. Em versos busco um novo suporte para determinado tipo de música, de preferência fados e de entre estes os de Lisboa, sem esquecer canções regionais e temas brasileiros.
Durante o período em que cumpri o serviço militar, esse exercício serviu-me para melhor matar o tempo.
Nem sempre a poesia e a música seguiram lado a lado.
No período compreendido entre 1983 e 1985, a primeira foi dominante e absorvente, com a regular colaboração prestada ao semanário “Tribuna de Macau”, na coluna do “Estrófico”.
A partir de 1988, voltei a conciliá-las, tendo os poemas, na sua maior parte, sido condicionados pela música de muitos fados. Através deles tentei retratar acontecimentos, gentes e aspectos da vida do Território. São o meu contributo para a localização, muito embora alguns estejam já ultrapassados. Devem pois ser entendidos no tempo. Alguns desses poemas são musicáveis e foram apresentados em reuniões de amigos, ajudando a animar habituais convívios.
Tenho plena consciência que a sua criação não foi, nem poderia ter sido, dadas as minhas limitações, um trabalho sério. Foi, quando muito, pelo menos para mim, um passatempo divertido.
O facto, porém, de alguns desses poemas terem vindo a público, rompendo o círculo da privacidade a que estavam votados, levou-me a aceder à sugestão de os publicar.
Aos meus Amigos dedico esta compilação na esperança que a sua leitura lhes permita recordar agradáveis momentos que juntos passámos, em roda de amigos.
Aliás, foi esta particularidade que gerou o título do presente trabalho, vindo a público precisamente quando completo vinte e oito anos de Macau (28.09.1993).”
Agradecendo o autor, António Júlio Emerenciano Estácio, português de Guiné-Bissau e engenheiro técnico agrário de profissão, que há 8 anos atrás gentilmente enviou-me um exemplar e cujos poemas têm contribuído para algumas postagens, publico três deles com desenhos de Leonel de Barros>
A ESTÁTUA
– O Ferreira do Amaral,
No seu cavalo montado,
Foi um herói nacional,
No bronze imortalizado.
– Numa postura elegante
A estátua permaneceu
Como presença marcante
Na praça que a acolheu.
– Era bem a expressão
Da força e do poder
Com a determinação
Da vontade de vencer.
– Na Revolução Cultural (1)
Quiseram-na derrubar
Mas Ferreira do Amaral
Resistiu sem vacilar.
– Mas um dia o Lou Ping,
Ao falar para os jornais,
Disse ser chegado o fim
Dos símbolos coloniais.
– Foi o recado entendido
Para o Ferreira do Amaral
E um plano foi urdido
Para o levar para Portugal.
– Foi precedida a remoção
Duma revolta incontida.
Gerou-se até discussão
Nem sempre bem entendida.
– Sem qualquer dignidade
Foi a estátua apeada
Não podendo, é na verdade,
A História ser negada.
– Não respeitar valores
Pertença de outro país,
É próprio dos ditadores
E um presságio infeliz.
Macau aos 08.11.92 – (1)Em 1966
A DEUSA A MÁ
– Em tempos que já lá vão
Houve um dia um tufão
Foi um grande temporal,
Muitos barcos se afundaram
Pois poucos aguentaram
A força do vendaval.
– Numa pobre embarcação
Decidira o capitão
Certa jovem transportar,
E quando o barco aportou
Em santa se transformou
Lançando um divino olhar.
– Nessa pequena enseada
Numa encosta abrigada
Ergue-se o templo de A Má,
Lugar de culto e oração
Para a população,
É o mais velho que há.
– Aliás, em seu redor,
Voltado ao Porto Interior,
Foi que Macau nasceu,
Tendo desde a fundação
Tido logo a protecção
Que a deusa lhe concedeu.
– Com telhados recurvados
Os pavilhões separados
Aos poucos foram crescendo,
Nos altares queima-se incenso
Que liberta um cheiro intenso
E vai tudo enegrecendo.
– Em dias de Ano Novo
Enche-se o templo de povo
Há oferendas e orações,
Todos vão bater cabeça
Não há ninguém que se esqueça
De lá ir queimar panchões.
– Os rudes homens do mar
Entram nele para rezar
Com enorme devoção,
Pois desde os tempos remotos
Foram eles os mais devotos
De entre a população.
– E nunca vão para o mar
Sem para o tempo voltar
A sua embarcação,
Queimando panchões na proa
À deusa que os abençoa
Dando a sua protecção.
Macau aos 02.01.93
A ARMAÇÃO DE PESCA
– No Bom Parto, junto à marginal,
Havia, mesmo em frente à Fortaleza,
Uma rudimentar, mas funcional
Armação de pesca chinesa,
– Suspensa por quatro bambus compridos
A rede podia ser erguida ou baixada
Por meio de velhos cabos corroídos
Que partiam de ao pé da amurada.
– Quando a armação era erguida
O pescador, munido dum ganapão, (1)
Apanhava os peixes de seguida.
Hoje, já não existe a armação,
Pois o abrigo ardeu e foi abandonado
Estando o conjunto desactivado.
Macau aos 19.04.92
(1) Saco, de rede apertada, na ponta de uma cana comprida
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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