Uma postagem no Facebook chamou atenção para a reportagem da RTP (Rádio e Televisão Portuguesa) sobre a ilha de Flores, na Indonésia, com o título “No maior país muçulmano do mundo existe uma ilha católica onde ainda se reza em português“. Neste link, poderão ver um vídeo onde mostra a população católica, que afirma ter boa convivência com os muçulmanos, a rezarem a “Ave Maria” em português, mesmo após os portugueses terem deixado esta possessão há mais de 200 anos e que é vizinha de Timor-Leste.
A imaginar se isto poderia um dia acontecer com Macau, 200 anos depois após a transição, com uma minúscula comunidade ainda a rezar o Pai Nosso e Ave Maria em português, em uma igreja católica, exemplo, a Paróquia de São Lourenço.
Vamos ver o que apurei sobre a ilha em pesquisa na web.
Ilha de Flores (Indonésia) – conforme a Wikipedia
Flores é uma ilha da Insulíndia. Faz parte das Pequenas Ilhas de Sonda, um arco insular com uma área estimada de 14.300 km² estendendo-se para leste da ilha Java na Indonésia. Flores está localizada a leste de Sumbawa e Komodo, e a oeste de Lomblen (ou Lembata) e do Arquipélago Alor. A sudeste fica Timor. A sul, além do estreito de Sumba, fica Sumba e a norte, para lá do Mar das Flores, fica Celebes (ou Sulawesi). Foi possessão portuguesa desde do século XVI a XIX, tendo sido cedida aos holandeses em 1856 juntamente com as restantes ilhas de Sonda.
O que sobrou do antigo forte português – Fonte: Wikimeda Commons – COLLECTIE TROPENMUSEUM Ruines van een Portugees fort uit de 16e eeuw op Poelau Ende Midden-Flores TMnr 10001790
Geografia
A costa ocidental da ilha é um dos poucos lugares do mundo, para lá da ilha de Komodo, onde vive o dragão-de-komodo em estado selvagem. Outro animal endémico é o rato-gigante-de-flores. No passado, a ilha teria abrigado cegonhas cuja altura equivaleria à de um homem adulto.
Em Setembro de 2003 foram descobertos esqueletos fósseis de uma espécie de hominídeo, previamente desconhecida, na gruta Liang Bua na parte ocidental da ilha. O Homo floresiensis, também conhecido pelo nome carinhoso de hobbit, aparenta ser uma versão pequena do Homo erectus com aproximadamente um metro de altura.
Cultura
Em Flores falam-se diversas línguas, todas elas da família das Línguas austronésias. No centro da ilha, nos distritos de Ngada e Ende, encontra-se aquilo que é conhecido como a cadeia de dialectos do centro de Flores (do inglês Central Flores Dialect Chain ou Central Flores Linkage). Dentro desta área existem pequenas diferenças linguísticas em quase todas as localidades. São identificáveis pelo menos seis línguas diferentes. Estas são, de oeste para este: Ngadha, Nage, Keo, Ende, Lio e Palu’e, que é falada na ilha do mesmo nome ao largo da costa norte de Flores. Seria possível adicionar a esta lista ainda o So’a e o Bajawa, embora os antropólogos os considerem dialectos da língua Ngadha.
Os comerciantes e missionários Portugueses estabeleceram-se nesta ilha no século XVI, principalmente nas regiões de Larantuka e Sikka. A sua influência é ainda hoje discernível no falar e na cultura de Sikka.
Religião
A população de Flores é católica na sua quase totalidade, consequência de em Larantuca ter sido fundada uma das primeiras missões abertas pelos dominicanos portugueses, em finais do século XVI.
Todos os anos é celebrada a Semana Santa, que mantém a terminologia portuguesa e muitos dos costumes específicos da celebração desta cerimónia em Portugal. Grande parte da população católica sabe ainda hoje rezar em português antigo, apesar de o falar correcto da língua portuguesa já se ter perdido na região. Muitas destas tradições são mantidas pela Confraria de Nossa Senhora do Rosário que ao longo de quatro séculos presiste, continuando a chamar-se Confreria Reinha Rosari.
Na Indonésia 89% dos cerca de 250 milhões de habitantes são muçulmanos. A ilha das Flores entre os cerca de um milhão de habitantes, 85% são católicos.
* fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Flores_(Indon%C3%A9sia)
MAIS INFORMAÇÕES SOBRE A ILHA DE FLORES
O blog East Timor Linguistics reproduz o texto de autoria dos padres Gregorius Olapito Wuwur e Paulus Tolang sobre a situação da língua portuguesa na ilha de Flores, que foi publicado no Boletim de Estudos Crioulos. Suplemento de Papia, n°1, 1994, Brasilia. A postagem é de Davi Albuquerque, veja:
“O padre Gregorius Olapito Wuwur SVD (Góris), natural dos arredores de Larantuka, deu algumas informações sobre os resquícios de português ainda encontráveis na ilha de Flores, sobretudo em Larantuka e Maumere (Sikka). Trata-se basicamente de reminiscências lexicais, muitas delas relacionadas com o catolicismo. A língua de Gregorius é o lamahólot, e é nela que são usados esses itens lexicais. O padre Paulus Tolang também ajudou com seu depoimento. Ele é da ilha de Alor onde, segundo seu depoimento, se falam 54 línguas. A sua língua materna é o snáing”.
Segue o texto integral Resquicios de Portugues na ilha de Flores (Indonésia) de Pe. Gregorius Olapito Wuwur e Pe. Paulus Tolang:
1. Introdução
No ano de 1512 os portugueses chegaram à Indonésia e começaram a colonização. Mas a colonização dos portugueses na Indonésia durou pouco tempo porque os holandeses os expulsaram. Os portugueses chegaram na Indonésia por Jakarta – Makasar – Ternate e Tidore (nas Molucas). Depois disso, eles foram para a região de Flores (Solor, Larantuka e Maumere) e Timor. Eles ficaram nesta região muito tempo, mas depois o rei Hassan Hudin com os muçulmanos, de Makasar, os expulsaram, e eles foram para Oecusse (Timor). De Oecusse eles foram para Dili (Timor Leste). Por isso, até hoje existem algumas palavras portuguesas ainda em uso na região.
2. Palavras portuguesas na língua indonésia
Só umas poucas palavras entraram na língua indonésia. Por exemplo:
bangku ‘banco’
bibliotek ‘biblioteca’
gereja ‘igreja’
jendela ‘janela’
kapela ‘capela’
katedral ‘catedral’
meja ‘mesa’
minggu ‘domingo’
paroki ‘paróquia’
pasear ‘passear’
3. Expressões portuguesas usadas na região de Larantuka e Maumere (em lamahólot e snáing):
a. Dias da semana (usados até hoje):
Segunda-fera, tersa-fera, kwarta-fera, kinta-fera, sesta-fera, sábadu, domingo.
b. Nomes próprios:
Da Silfa, Da Gomes, Joanes Ribéra, Pârera, Da Cuña, Da Lopez, Carvalo, De Rosari, De Ornai, Rita.
c. Relação familiar:
Tio/tia, cuñadu/cuñada, pa (pai), ma (mãe), nina (menina), siñu Da Gomes (senhorzinho Gomes, no sentido de pequeno ou de carinho), nina Da Gomes (senhorita Gomes, no mesmo sentido).
d. Catolicismo:
Prosesi (procissão), Reña Rosari (santa padroeira de Larantuka), Tuang Mâ (Nossa Senhora), Tuang Deo (Deus), San Domingu, San Juan, konféria (confraria), gereja (igreja), katedral, kapela, paroki, cruz, promesa, kristang (cristão), missa, paji (padre), tuang paji (teu padre, senhor padre).
e. Termos do dia-a-dia:
pasear, jandela, meja, bangku, kadéra, garfu, sâpátu, almari (armário), sem (sem), nyora (senhora), statua (estátua), berok (barco), minyoka (minhoca), redaku, sândál (sandália), ose (você), senyor (senhor: para pessoas que têm autoridade ou para os mais velhos), espada, kamija (camisa), mamonti (prato cheio, como um “monte”), tésta.
Em Timor Leste, muitas pessoas usam a língua portuguesa na conversação do dia-a-dia. Aproximadamente 50% das palavras são portuguesas, mas misturadas com palavras do tetum (língua da região). Mas, na ilha de Flores, só na região de Larantuka e Maumere ainda se usam palavras portuguesas. Especificamente em Larantuka, o grupo da Konféria sempre usa a língua portuguesa nas orações e no seu boletim.
*Fontes: http://easttimorlinguistics.blogspot.com.br/2011/05/lingua-portuguesa-em-flores-indonesia.html
veja também http://easttimorlinguistics.blogspot.com.br/2011/05/lingua-portuguesa-na-indonesia.html
e estes: – Páscoa portuguesa numa ilha indonésia no http://www.publico.pt/portugal/noticia/pascoa-a-portuguesa-numa-ilha-indonesia-1589535
– Ilha de Flores, Indonésia com história no http://www.almadeviajante.com/viagens/indonesia/flores.php
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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