Artigo publicado no Jornal Tribuna de Macau traz uma revelação pública de Miguel Senna Fernandes de algo já sabido, ou que se percebia, a respeito da língua portuguesa em Macau: “cerca de 70% dos jovens da comunidade macaense já não falam português“.
Logo lembrei-me do comentário de um conterrâneo residente em São Paulo. Ele, macaense da gema, ao voltar da viagem ao Encontro das Comunidades Macaenses, em conversa, lamentava que seus sobrinhos não sabem falar português. A comunicação entre eles era só feita em chinês. Devem se enquadrar nesses 70%.
Penso que fatores como a transição da soberania de Macau, de Portugal para a China, além da consequente diminuição da população falante da língua portuguesa e a presença chinesa em todas as atividades públicas e privadas, ou a extinção de escolas portuguesas como a Escola Comercial, o Liceu, Seminário, Dom Bosco, entre outros, tenham contribuído. Seriam suposições já que daqui do Brasil, do outro lado do mundo, pouco pude acompanhar a evolução da vida em Macau desde a minha partida em 1967. Na época falava-se o chinês sem a fluência que hoje se verifica entre muitos macaenses residentes. Uns diziam que o chinês que falávamos naquela época era de “empregada doméstica“, ou o chinês básico e simples.
A verdade é que o futuro da língua portuguesa em Macau parece-me sombria, e como diz o Miguel, tem fôlego enquanto houver interesses comerciais da China com os países lusófonos. Caminha-se naturalmente para o mesmo destino de Malaca ou da antiga Índia portuguesa. A língua inglesa, universal, certamente será e já é em muitos casos, como nos cassinos, o substituto desta 2ª língua oficial de Macau. Afinal, há um conceito que aquele que fala o português também fala o inglês. Isso deu todas as provas nos Encontros das Comunidades Macaenses que participei, quando por conveniência ou para facilitar as coisas somente se falava o inglês em várias situações, apesar dos esforços de se falar o português também noutras vezes.
Nas minhas viagens a Macau tenho percebido que muitos macaenses, mesmo falantes do português, comunicavam-se com frequência entre si em chinês. Julgo uma força de costume, já que se vive numa cidade com quase 99% de população de língua chinesa e praticamente o meio de comunicação no dia a dia.
Aliás, enquanto se fala no crescimento da presença de língua portuguesa no mundo, no momento em que irá se realizar no Brasil a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, e respeitada a participação de Portugal em outras atividades, a língua portuguesa ou a lusofonia é apenas figurativa em certas situações. Vejamos por exemplo os Jogos da Lusofonia realizados na Índia, por conta das antigas colônias portuguesas de Goa, Damão e Diu. De Lusofonia era quase só o nome com a língua inglesa a dominar a comunicação, salvo a presença de atletas portugueses e simbolicamente do Brasil com meia dúzia de participantes. Neste ponto, os governos do Brasil ao longo do tempo têm-se preocupado pouco com a lusofonia, muitas vezes simbolicamente. O esforço vem mais de particulares.
Sinceramente não creio que haja futuro para a língua portuguesa em Macau. Sucumbirá com a velha geração e se hoje especula-se que 70% da nova geração macaense residente não fale o português, com certeza este índice subirá para 90% ou mais daqui a 10 anos, ou até em menos tempo. No entanto acredito que mesmo assim, alguns resistentes ainda continuarão na luta pela sua preservação, e uma das coisas que me agrada ver é o bom uso da língua portuguesa de uma forma geral no grupo “Conversa entre a Malta” no Facebook. Administrado por macaenses residentes em Macau o português é praticamente a sua língua oficial.
A comunidade macaense residente em Portugal e no Brasil têm o seu peso de responsabilidade pela manutenção da língua portuguesa como sua identidade, já que é a língua oficial dos países mesmo com as suas diferenças linguísticas, mas não deixa de ser o português. Disso insisto muito em São Paulo que temos que superar as nossas divergências pessoais, reagrupar a nossa dispersa comunidade, que não é pequena, e para isso oferecer condições desprezando regras e normas que impedem uma renovação e participação de seus membros em muitas situações por conta desta ou aquela qualificação. Temos que refletir para o bem da comunidade em geral sem qualquer espécie de distinção.
Vejamos então o que diz o Miguel nesta reportagem do Jornal Tribuna de Macau na edição de 24/02/2014:
“Macaenses estão a perder oportunidade de ouro”
A identidade macaense está todos os dias em perigo, alertou Miguel Senna Fernandes em entrevista à Rádio Macau, ao lamentar que cerca de 70% dos jovens da comunidade já não falem português.
Miguel Senna Fernandes lançou um repto à comunidade macaense para que aposte na aprendizagem da língua portuguesa. “Os macaenses estão a perder uma oportunidade de ouro. É uma pena que a comunidade macaense no seu todo não abrace esta causa e volte a apostar no português”, disse em entrevista à Rádio Macau.
Para o presidente da Associação dos Macaenses (ADM), a identidade da comunidade enfrenta riscos constantes. “No dia em que o macaense deixar de querer ser diferente, então ele deixou de ser macaense para se integrar noutras coisas. Todos os dias temos esse perigo”, alertou.
No entanto, Miguel Senna Fernandes manifestou-se convicto de que o futuro da língua portuguesa em Macau está assegurado enquanto Pequim apostar no reforço de laços com os países lusófonos. “Vai sobreviver enquanto durar esta política de aproximação entre a República Popular da China e os países da lusofonia. Não estou a ver como não sobreviver. Macau vai ter de falar português de novo. Os macaenses vão ter de falar português de novo”, argumentou.
O presidente da ADM exortou ainda os portugueses que chegam a Macau a comunicar mais. “A falta de comunicação com os locais faz deles autênticos ilhéus. Isto é muito mau. Há muita gente que vem cá e fala mal de Macau, da comida, das pessoas. Falam mal de tudo. Criticam tudo. Mas não procuram saber o que há de bom nesta terra”, disse.
Na mesma entrevista, Miguel Senna Fernandes enalteceu o apoio do líder da RAEM à comunidade macaense, mas lançou fortes críticas ao Executivo: “O Governo não decide como deve decidir. Eu sempre esperei que o Governo fosse mais corajoso em determinadas matérias. Mas o Governo não faz, e está muito aquém do que eu esperava que o Governo pudesse fazer”.
Considerando que a actuação de Chui Sai On “ficou aquém” das expectativas, o mesmo responsável lamentou a “hesitação” do Executivo em “implementar certas coisas”, como na área da habitação. “É gritante relegar a resposta para a resolução do problema às leis de mercado, isso é tão falacioso como outras coisas mirabolantes que podemos imaginar”, frisou, acusando ainda a Assembleia Legislativa de estar a ser transformada numa “caixa de ressonância”.
* Fonte: http://jtm.com.mo/local/macaenses-estao-perder-oportunidade-de-ouro/#sthash.Iwq5MIZm.dpuf
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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