A LENDA DAS ESCADAS DE SÃO PAULO
Um texto de João Guedes inserido no artigo – O Património Esquecido – da Revista Macau de Junho 1993
Macau foi, desde os primórdios, uma colónia fundada por comerciantes navegadores e administrada pelos Jesuítas. Não é por acaso que o primeiro bispo local pertenceu à Companhia de Jesus nem que S. Francisco Xavier (um dos fundadores da Companhia) morreu a poucas milhas do Território.
A Companhia de Jesus investiu, nesses séculos da prata e da seda, tudo quanto tinha em Macau na convicção de que poderia converter a China. Nessa esperança ergueu a Igreja e a Universidade de S. Paulo e, também a Fortaleza do Monte. Cobrou 1 por cento sobre a carga bruta das naus que aportavam à cidade e constituiu um tesouro considerável, não só em ouro ou prata mas também em saber e inteligência, erguendo a primeira universidade da Ásia e a sua primeira biblioteca.
Subitamente, os tempos mudaram em Portugal. O Marquês de Pombal subiu ao poder e decidiu acabar com a influência dos Jesuítas, cuidando pouco da sua importância numa longínqua colónia como era Macau, banindo-os de território nacional. A lei de expulsão chegou, no entanto, ao Território bastante tempo depois das notícias que a davam como certa. Isso permitiu que a Companhia se preparasse para o embate, pondo a salvo os seus bens. Quando o governador recebeu o decreto ministerial ordenando a prisão dos padres, estes deixaram-se prender, mas as salas da velha Universidade de S.Paulo encontravam-se vazias sem nada para confiscar. Isso constituiu espanto para os militares que cumpriram a ordem real, habituados a ouvir falar das riquezas de que os jesuítas dispunham, dos cálices em ouro e prata que usavam nas cerimónias litúrgicas de S. Paulo e nas procissões e da famosa biblioteca — de que não viam rasto. Na casa forte, edifício fronteiro às escadarias da Igreja da Madre de Deus, onde tinham a certeza de encontrar grandes riquezas, nada havia que valesse a pena. Os padres foram remetidos a ferros para Goa, mas quanto às lendas e boatos nada ficou a confirmá-los.
Tudo isto deu origem à lenda sobre o esconderijo secreto do tesouro dos Jesuítas, uma biblioteca imensa, desaparecida em dois segundos, não podia ser…
Assim é que, cerca de um século e meio depois da expulsão da Companhia, um inglês que ouviu falar na lenda pediu ao Governo de Macau autorização para levantar as escadas da Igreja de S. Paulo a fim de descobrir as salas secretas que estariam sob elas, onde se encontraria a rara biblioteca e os tesouros dos Jesuítas. Sensatamente, o Governo local recusou a oferta do inglês, mantendo a escadaria em pedra tal como estava quando foi construída.
Mas, afinal, o que foi feito do espólio dos Jesuítas? Permanecerá ainda em salas subterrâneas secretas sob as escadarias de S.Paulo? Não se sabe ao certo. O que se conhece é que três volumosos caixotes contendo documentos e livros da Companhia foram descobertos na Torre do Tombo de Madrid por um investigador na década de 60. Os caixotes tinham sido enviados de Macau, na sequência da expulsão dos Jesuítas ao tempo do Marquês de Pombal, para Manila e, dali, para a capital espanhola. Por outro lado as recentes escavações efectuadas na Igreja de S. Paulo que encontraram algumas salas desconhecidas sob as ruínas, não descobriram qualquer corredor que levasse aos tais compartimentos secretos alegadamente existentes sob as escadarias, os quais (ainda segundo a lenda) comunicariam através de galerias com o antigo cais do Porto Interior. Quanto à galeria que a elas daria acesso a partir do pátio da Mina (junto à Rua de Nossa Senhora do Amparo) há muito que se encontra entaipada, tornando-se difícil e dispendioso desbravá-la. Por isso, a lenda sobre a grande biblioteca da Ásia permanece.
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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