A invasão de Goa pela Índia poderia ter tido um desfecho diferente, ou não teria acontecido em Dezembro de 1961? Pois parece, se tivesse ocorrido uma interferência eficiente da China. É o que explica o texto abaixo:
GOA: MISSÃO IMPOSSÍVEL
Um texto de RICARDO PINTO inserido no seu artigo – Comunicação Social: Dois Séculos de Expansão – publicado na Revista Macau de Agosto de 1993
7 de Dezembro de 1961. As tropas indianas estão às portas de Goa, prontas para a invasão. A diplomacia portuguesa desdobra-se em contactos junto dos seus aliados, para que sirvam de intermediários e demovam o governo de Nova Deli de uma acção armada. Mas as respostas não são suficientemente tranquilizadoras. Em desespero de causa, o Ministro do Ultramar envia um telex ao Governador de Macau:
“É gravíssima a situação de Goa. Haveria vantagem jornais urgente sobretudo afectos China dissessem que acção contra Goa justifica plenamente acção China contra União Indiana e explorarem contradição atitude Governo União. MNE pede Vexa ver pode fazer alguma coisa nesse sentido“.
Recebido o apelo do Ministro Adriano Moreira, o Governador Silvério Marques não perde tempo. Num despacho dirigido ao CIT, Centro de Informação e Turismo, requer um “estudo urgente e cuidadoso do assunto por forma a ser-me presente hoje uma informação sobre a melhor forma de levar a efeito o que se contém neste pedido“.
Um fac simile deste telex e do posterior despacho é publicado por José Freire Antunes, no livro Kennedy e Salazar, o Leão e a Raposa. Mas dos resultados desta iniciativa, pouco se sabe. Tanto mais que desapareceram já alguns dos principais intervenientes. Adam Lee, o jornalista há mais anos em actividade em Macau, desconhece o assunto: Nessa altura, em 1961, eu ia diariamente ao CIT à procura de notícias — e ninguém me fez qualquer pedido desse género. Aliás, o único episódio que recordo relacionado com Goa foi a expulsão de Macau de um casal de indianos, que motivou explicações pouco convincentes do director do CIT. Mário Isaac, e que na altura criou alguns problemas entre os jornais e o governo.
Adam Lee era então repórter do jornal Si Man Pou, tudo menos próximo de Pequim. Pelo contrário, defendia por regra as teses do regime nacionalista de Taiwan. Mas, ao que parece, também o Ou Mun lat Pou, esse sim ligado às autoridades comunistas da RPC, não se deíxou sensibilizar por eventuais apelos do Governador de Macau. Diz Chan Su-wing, um dos actuais sub-editores:
Não tenho conhecimento de nenhum pedido ao jornal relativamente a essa questão. O que posso dizer é que a invasão de Goa mereceu uma breve referência no Ou Mun — e nada mais.
Contactado pela revista MACAU, o então Ministro do Ultramar, Adriano Moreira, confessou nunca ter sido informado sobre os resultados da iniciativa:
Durante 48 horas, mantiveram-se abertas as linhas da Marconi, numa operação cara e difícil para a época. Mas nunca soube se os jornais de Macau publicaram o que tinha sido pedido.
O Governador de Macau, Jaime Silvério Marques, não deixou no entanto de enviar a Pequim um seu representante, para sondar as autoridades chinesas sobre a possibilidade de cooperação mútua face ao inimigo comum — nessa altura, a China estava envolvida em escaramuças com a União Indiana, devido a um contencioso fronteiriço anda hoje não resolvido. Em troca do apoio militar de Pequim, o governo de Lisboa propunha-se ceder facilidades logísticas em Goa às forças amadas da RPC. E Ho Yin, líder da comunidade chinesa de Macau trouxe de Pequim notícias que na altura pareceram encorajadoras:
Embora não tenha dado uma resposta concreta, o primeiro-ministro Chou En Lai mostrou-se interessadíssimo na colaboração que lhe fora proposta. Só que pensava haver muito tempo pela frente, pois Nehru não atacaria Goa tão cedo. Para ser franco, essa era também a nossa opinião, relembra Adriano Moreira.
Puro engano. No dia 18 de Dezembro, as tropas indianas invadiam o enclave de Goa, Damão e Diu, assegurando uma rápida vitória militar sobre o contingente português ali estacionado.
Em Macau, a imprensa portuguesa noticiou o ataque de forma apaixonada. reflectindo a indignação oficial. Quanto aos jornais chineses, breves referências apenas a um tema que rapidamente fariam cair no esquecimento, ignorando assim o S.O. S. emitido pelo Governador da Colónia. Se é que alguma vez esse apelo desesperado chegou aos seus destinatários.
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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