Eis um mistério em Macau, relatado em 1993, que não sei se persiste até hoje. Para ser sincero, nunca estive no interior da Santa Casa de Misericórdia, o que espero fazer numa próxima viagem de saudades a Macau. Veja o texto:
UM CRÂNIO CONTROVERSO
Texto de JOÃO GUEDES inserido no seu artigo – O Património Esquecido – publicado na Revista Macau de Junho de 1993
A Santa Casa da Misericórdia ostenta hoje (em 1993) na sua sala de sessões, junto à parede oeste, um pequeno relicário em madeira negra contendo no interior um crânio. Atrás do relicário repousa uma cruz encaixilhada. Este conjunto, ao que diz a tradição, pertenceu ao fundador da Misericórdia, do Leal Senado e do Hospital dos Pobres, o bispo D. Melchior Carneiro Leitão.
O mistério gerado em torno desta figura da Renascença mantém-se ainda hoje (em 1993), embora se saiba bem (ou pelo menos com algum pormenor) a sua biografia. Nascido em Coimbra, em 1515, (ou 1516), ingressou na Companhia de Jesus, tendo sido confessor (ao que se diz também) de Santo Inácio de Loyola. Chegou a Macau em Junho de 1568. Sagrado em Goa, bispo de Niceia, deveria ter seguido para o Japão mas, afinal, acabou a meio caminho como S. Francisco Xavier.
A atentar no erudito José Caetano Soares, o relicário da Misericórdia é “um tanto espúrio”, mesmo quando, em 1905, a mesa da Santa Casa decidiu colocar as relíquias na Sala Nobre e um busto em granito do dito bispo na varanda (cimalha), busto esse da autoria de um ignoto condutor das Obras Públicas de nome Cassuso que ninguém actualmente sabe quem foi (provavelmente, também, poucos saberiam na altura) as dúvidas não se dissiparam.
José Caetano Soares que, à condição de investigador acrescentava a de médico e director clínico do Hospital de S. Rafael, escreveu o seguinte: “Mesmo sem olhar a elementares aspectos antropológicos — ângulo facial muito fechado, largo eixo malar, baixo índice cefálico por exígua capacidade craniana, dados que uma vez colhidos, talvez não deixassem de levantar a dúvida quanto a tal crânio ser sequer de indivíduo europeu, outras razões mais simples haverá ainda para a negativa do que se pretende mostrar”.
Caetano Soares termina o seu relatório médico legal afirmando que 3 séculos e meio decorridos, com 250 anos de sepultura pelo meio, não permitem receber tais ossos como originais.
Seja como for, mesmo que o carbono 14 corrobore as opiniões do Dr. Soares, para a tradição de Macau, os ossos guardados no relicário que guarnece a parede ocidental da sala de sessões da Santa Casa da Misericórdia de Macau (que quase ninguém conhece) hão-de ser sempre os do primeiro bispo de Macau — mesmo que ninguém acredite.
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Não poderia este blogue deixar de fazer mais um registo histórico de uma tradição mantida na Macau do ano de 2023, hoje, território da República Popular da China. Assim, o nosso colaborador, Manuel V. Basílio, macaense residente em Macau, nos dá o relato, com fotos, sobre a procissão de Nossa Senhora de Fátima realizada no […]
No Anuário de Macau do ano de 1962, nas páginas finais, vários anúncios publicitários encontravam-se publicados, os quais, reproduzimos abaixo para matar as saudades de quem viveu aquela época de ouro, ou então, para curiosidade daqueles que possam se interessar em conhecer, um pouco mais, aquela Macau de vida simples, sem modernidade, mas, mais humana.
Páginas digitalizadas do Anuário de Macau, Ano de 1962, o que aparentemente foi o último da série, ficamos aqui a conhecer quem eram as pessoas que ocuparam cargos no – Governo da Província e Repartições Públicas. Mesmo passados mais de 60 anos, agora que estamos na década com início em 2020, muitos nomes ainda estão […]
Pingback: Macau: o misterioso crânio da Santa Casa de Misericórdia | AICL – Ass. Int'l dos Colóquios da Lusofonia