Na missa celebrada pelo Papa Francisco no Vaticano em 15 de outubro de 2017, foram canonizados 30 mártires brasileiros mortos em 1645 durante a ocupação holandesa no Brasil. As vítimas dos massacres ocorridos em Cunhaú e Uruaçu em Rio Grande do Norte em julho e outubro daquele ano foram mais de 150, porém, apenas 30 puderam ser identificados tanto por seu nome ou através de parentes e amigos daqueles que se podia reconhecer.
Os militares holandeses, na maioria calvinistas, que é um movimento religioso protestante quanto um sistema teológico bíblico com raízes na Reforma Protestante, iniciado por João Calvino em Genebra no século XVI, proibiam celebrações religiosas dos católicos, exigindo que renegassem a fé e e se convertessem, caso contrário seriam mortos, e é o que aconteceu. O fato ocorreu após o príncipe Maurício de Nassau ter retornado à Holanda devido a inúmeros conflitos. A sua missão era governar as terras conquistadas e formar nestas uma colônia holandesa no Brasil. No entanto, um dos principais pontos na sua administração foi de estabelecer um clima de tolerância e liberdade religiosa, o que não foi cumprido por seus sucessores.
Dos 30 novos santos, 28 eram brasileiros natos, além do padre Ambrósio Francisco Ferro, português dos Açores e o francês João Lostau Navarro, ambos residentes no Rio Grande do Norte, antigamente chamada apenas de Rio Grande.
Os holandeses tentaram tomar Macau (possessão portuguesa na China) em 1622
Vinte e três anos antes da morte dos mártires brasileiros, em Junho de 1622, os holandeses tentaram tomar Macau dos portugueses, mas foram rechaçados, graças à precisão do padre jesuíta Rho que, com um tiro certeiro de canhão, atingiu um vagão de pólvora dos invasores dando início à sua derrota. A população católica de macaenses e portugueses atribuiu a vitória a São João Batista e a comemoraram com uma solene ação de graças realizada na Catedral. A vitória ocorreu no dia 24 de Junho, dando origem ao Dia de Macau, que era comemorado no território até a transição da sua soberania de Portugal para a China em 20 de dezembro de 1999.
Será que essa tropa holandesa poderia também ser composta por maioria de calvinistas mal-intencionados, tais como aqueles que fizeram o massacre no Brasil 23 anos depois, e teria havido perseguição a católicos em Macau, se tivessem sido bem sucedidos na invasão? No relato do governador de Manila (Filipinas), D. Fernando da Silva, escrevendo em 1624, disse que «los Holandeses com mas de 800 hombres saltaron em tierra para tomar por fuerza de armas aquella ciudade, y matar todos los varones de 20 anos arriba y casarse com las mujeres, y hacer de aquella ciudad su Metropoli, y ellos hacerse Senhores de todo el Oriente» (os Holandeses desembarcaram com mais de 800 homens para tomar a cidade à força e matar todos os varões acima de 20 anos e casarem-se com as mulheres, para tornar aquela cidade sua Metrópole e assim se tornarem Senhores de todo o Oriente). Pelo visto as intenções dos invasores não eram das melhores!
*Em Ceilão (Sri Lanka), em 1656, com a vitória dos holandeses sobre os portugueses que encontravam-se estabelecidos em Colombo, os católicos foram perseguidos porém os budistas, os hindus e os muçulmanos puderam professar suas religiões.
*No estado do Rio Grande do Norte onde ocorreram os massacres dos mártires, está localizada a outra Macau brasileira que no entanto foi fundada muitos anos depois (veja localização de Macau no mapa mais abaixo, no canto superior esquerdo)
*Cabe esclarecer que conflitos religiosos ocorreram e ainda ocorrem no mundo, e que não se condena os calvinistas, que como acontece em todas as religiões, há aqueles do bem e os maus.
Império Colonial Holandês
Império Colonial Holandês, também conhecido como Império Colonial Neerlandês, ou simplesmente como Império Neerlandês, é o nome dado ao conjunto de colônias que os neerlandeses dominaram a partir de 1602, com o lançamento da Companhia Neerlandesa das Índias Orientais. Apesar de não ter sido tão extenso como outros impérios, ainda assim tinha presença em todos os continentes, desde as Índias Orientais Neerlandesas (atual Indonésia), passando pela colônia do Cabo (na África do Sul) até às Caraíbas, onde ainda subsistem as Antilhas Neerlandesas, que são ainda parte do Reino dos Países Baixos, embora autônomas.
Estes territórios foram, primeiramente, administradas pela Companhia das Índias Orientais e pela Companhia das Índias Ocidentais- sendo, ambas, companhias privadas. Três séculos depois, com os problemas financeiros destas duas empresas, o governo neerlandês tomou posse dos territórios (em 1815 e 1791, respectivamente), passando a ser, oficialmente, colônias.
Nos anos de 1624 a 1654, os neerlandeses dominaram boa parte do Nordeste do Brasil (Nova Holanda), formando uma tentativa de colonização, porém foram expulsos pelos portugueses.
Religião
De acordo com os dados divulgados pela Association of Religion Data Archives(ARDA) e datados de 2010 a população dos Países Baixos é maioritariamente constituída por seguidores do Cristianismo, sendo a maioria protestantes – 30%, católicos – 20% e outros cristãos – 14%, seguem-se os agnósticos que representam 25,7% da população, os muçulmanos que são 6,16%, os ateus que são 1,75%, os budistas que correspondem a 1,21% do povo neerlandês e um total de 1,19% são membros de outras religiões.
A história dos Protomártires do Brasil
A palavra protomártir significa ‘primeiros mártires’. São chamados de protomártires por estarem entre os primeiros a perderem suas vidas pela fidelidade à fé cristã nas terras brasileiras.
(texto de O Mensageiro de Santo Antônio, revista de formação e informação da família católica)
Uruaçu, onde morreram a maioria dos mártires, encontra-se localizado em São Gonçalo do Amarante, próximo a Natal, Rio Grande do Norte. (Macau brasileira está no canto superior esquerdo)
Na metade do século 17, o Brasil colonial era ainda divido em Capitanias Hereditárias, unidades administrativas que dariam origem aos futuros estados. Uma delas foi a capitania do Rio Grande, atual Rio Grande do Norte, na época dominada por invasores holandeses, assim como Pernambuco havia sido. No Engenho de Cunhaú, principal polo econômico da região, existia uma pequena e fervorosa comunidade católica, composta por 70 pessoas. O pároco local era o padre André Solveral.
No dia 15 de julho de 1645, chegou à Cunhaú um alemão chamado Jacob Rabbi, que atuava a serviço do governo holandês, saqueando e deixando um rastro de destruição por onde passava, sempre acompanhado de uma tropa formada por índios Tapuias e soldados holandeses.
Era um domingo e os fieis se reuniam na Igreja para a Santa Missa. Após a elevação da hóstia e do cálice, as portas da Igreja foram fechadas por ordem de Jacob e um massacre se iniciou. Os fieis, tomados de surpresa e completamente indefesos, foram todos mortos pelos invasores holandeses com a ajuda dos tapuias que serviam a eles.
A notícia do violento ataque se espalhou por todo o Rio Grande e pelas capitanias vizinhas. Alguns moradores influentes pediram asilo na Fortaleza dos Reis Magos, que estava sob domínio holandês.
Foram recebidos como hóspedes dessa fortificação militar o padre Ambrósio Francisco Ferro, Antônio Vilela, Francisco de Bastos, Diogo Pereira e José do Porto.
A grande maioria da população, no entanto, não podendo ficar no forte, assumiram sua própria defesa, construindo então uma fortaleza na pequena cidade de Potengi. Enquanto isso, Jacob Rabbi prosseguia cometendo seus crimes pelo Nordeste. Após atacar várias localidades do Rio Grande e da Paraíba, finalmente chegou à Potengi, onde encontrou uma heroica resistência armada popular.
Durante 16 dias a população local resistiu, até que duas peças de artilharia chegaram da Fortaleza dos Reis Magos, aliadas aos holandeses. O povo não tinha como enfrenta-las.
Cinco reféns foram levados para a Fortaleza. Desse modo, haviam 12 pessoas sob custódia dos holandeses na Fortaleza dos Reis Magos e o restante se via a mercê dos invasores em Potengi.
No dia 02 de outubro chegaram ordens do governo de Recife, ordenando que fossem todos mortos. A sentença foi executada no dia seguinte, 03 de outubro. Primeiro os índios a serviço dos holandeses eliminaram os 12 prisioneiros da fortaleza, tanto os capturados durante a resistência, quanto aqueles que haviam requisitado asilo lá antes do ataque. Para servir de exemplo, o padre Ambrósio Francisco Ferro foi muito torturado.
As execuções foram de uma terrível crueldade. Um camponês chamado Mateus Moreira continuou gritando “Louvado seja o Santíssimo Sacramento” mesmo após ter o coração arrancado. Cortaram-se a língua das pessoas para que não pudessem fazer orações católicas. A maior parte das vítimas sofreram decapitações, até mesmo crianças chegaram a ser partidas ao meio.
Os próprios cronistas da época sentiam-se incomodados ao fazerem os relatos dos massacres, pois consideravam a menção a essa brutalidade por si só como um atentado à lei moral.
No dia 05 de março do ano 2000, na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa João Paulo II beatificou esses protomártires brasileiros, sendo dois deles sacerdotes e os demais leigos. Cerca de mil brasileiros participaram da celebração do Papa em honra a eles.
O processo de canonização desses mártires brasileiros foi concluído em 2017, sendo que no dia 15 de outubro, eles foram oficialmente reconhecidos pelo Papa Francisco como santos. São chamados de protomártires por estarem entre os primeiros a perderem suas vidas pela fidelidade à fé cristã nas terras brasileiras.
Vídeo de o “The Vatican” (O Vaticano) da Santa Missa com Canonização e Angelus celebrada por Papa Francisco em 15/10/2017 divulgada no You Tube
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Hoje, 24 de Junho de 2022, comemora-se 400 anos de “A Maior Derrota dos Holandeses no Oriente” na sua tentativa de tomar Macau dos portugueses. Até a transição de soberania de Macau, de Portugal para a República Popular da China, em 20 de Dezembro de 1999, a data era comemorada como “DIA DE MACAU” ou “DIA DA […]
1 Aqueles bons tempos de Macau, que já não voltam mais, de peças teatrais com participação de macaenses, são recordadas por Jorge Eduardo (Giga) Robarts na sua página no Facebook. Com autorização do Giga, as imagens foram copiadas e editadas, inclusive seus textos. Fazem parte do seu acervo, bem como, partilhadas por seus amigos dessa […]
Nesta postagem, divulgamos duas histórias de Macau de autoria do Manuel V. Basílio, publicadas no Jornal Tribuna de Macau-JTM e que foram extraídas dos seus livros: A primeira viagem portuguesa no sul da China O primeiro acordo sino-português Nos artigos abaixo com os textos com ligação direta no JTM , clique em “continue reading” (continue […]
Então como se chamariam os “portugueses” que nasceram na Bracara Augusta que pertenciam ao império romano no tempo do imperador Adriano? Poder-lhe-iam chamar túrdulos? lusitanos? celtas? iberos? Qualquer coisa menos portugueses; acho eu, vsigodos, alanos, suevos, ou sarracenos muito menos. Provávelmente chamar-lhe-iam romanos ou romanizados, que arranhariam algum latim. O assunto tem a importância que tem, mas o chauvinismo indevido é que não suporto. Nós, os de hoje não fizemos a história em 1645, mas podemos interpreta-la de forma honesta ou.. arrevesada e distorcida da verdade dos factos.
Brasileiros em 1645(….’??!). Afinal a independência do Brasil não foi em 1822! Por que não portugueses martirizados pelos holandeses em terras do Brasil.
Não resta dúvida que eram portugueses, uma vez que o Brasil ainda era território português na época, mas a história Os referiu por brasileiros por terem nascido no Brasil. Assim como os portugueses nascidos em Macau são chamados de macaenses ou na Ilha da Madeira, de madeirenses.