(Daniel 1º à direita com os The Thunders, Armando Ritchie, Rigoberto Rosário Jr., Alex Airosa e Manuel Costa na bateria)
Daniel Ferreira
Pegar no microfone … e cantar
por Cecília Jorge – publicado na Revista Macau em 1998
Daniel Ferreira (de Macau) é mais um caso de talento na juventude dos anos 60 que se entregou à música e se dedicou a fundo ao desporto (hóquei em campo, futebol, karatê). E pouco tempo lhe sobrava para além dos estudos, feitos no Seminário de São José — escola a que deve, decerto, a sua fluência e firme domínio da língua portuguesa, para além do inglês e do cantonense que todo o macaense fala.
É conhecido sobretudo como vocalista, sendo poucos os que,da sua geração e da anterior, não se lembrem da maneira como interpretava canções celebrizadas por Tom Jones, ou o “Unchained Melody” dos Righteous Brothers. E como se não bastasse o ter boa voz, fadou-Ihe o destino ter ainda melhor aparência … pelo que admiradoras e fãs enchiam as audiências. E no entanto, começou “por brincadeira, a tocar bateria com grupos de amigos e em casas de alguns, até um dia se lembrar de pegar no microfone…e cantar”— como nos diz, hoje, ainda divertido com a recordação.
Estava-se em plena febre dos Shadows e dos Beatles, e os irmãos Ritchie já tinham formado uma banda para ensaios e festas, a que ele aderiu.
Estreou-se numa festa do Liceu em 1965 e recorda-se que o reitor, então Énio Ramalho, gostou tanto da sua actuação que o incitou a continuar. O convite para se juntar aos “Thunders” — grupo praticamente consagrado— chegou pouco depois, por insistência do seu amigo Herculano Airosa. Daniel preferiu cantar quase sempre em inglês, o que por vezes lhe valeu algumas discriminações em Macau. Há quem se recorde, porém, de outra linguagem universal em que era exímio, o assobio. Colocavam- lhe habitualmente dois microfones quando interpretava temas dos filmes “For a few dollars more”, “A Fistfull l of Dollars”, ou “The Good,the bad and the ugly” que primavam pela assobiadela cheia de sonoridade… Os “spaghetti westerns” assim classificados por serem realizados por italo-americanos.
Foram muitas as desistências, pela certeza firme de não querer fazer carreira como andarilho da música. O serviço militar apanhou- o assim que concluiu o 5a ano do Seminário de São José, por seis meses, separando-se então dos “Thunders”.
Pouco depois, juntava-se a outro grupo de rapazes — “Midnight Riders”— que actuavam todas as noites no Casino “Macau Palace”, a troco de 25 patacas por noite: “cantar três noites por semana, ou seja, receber semanalmente 75 patacas para quem ganhava 300 patacas por mês como funcionário da Assistência era irrecusável”— comenta.
Nessa altura já Daniel se tinha perdido de amores, casado e passado à condição de pai…
Actuou no Clube Militar e noutros locais, e lembra-se de como Roberto Petrovich passava todas as noites por onde se encontrassem e Daniel lhe ensinava aquilo que também outros lhe ensinaram a ele, “a colocar a voz”, a tirar partido de determinadas canções. E Petrovich, um jovem de ascendência russa e com as capacidades de um Engelbert Humperdink era mesmo talentoso. Acabou por substituir o “professor” nos “Midnight Riders” (que reunia na altura Daniel, Sonny Gomes, Alberto Amante, Jerónimo Hung e Mário Pistacchini).
Foi vocalista de vários outros conjuntos, cantou a solo no Hotel Estoril, no bar “Mermaid” e no “Portas do Sol” do Hotel Lisboa. Foi várias vezes abordado para se tornar profissional (e lembra-se da insistência de Adé dos Santos Ferreira, nesse sentido). E recorda-se sobretudo quando, por uma questão de princípios, perdeu um contrato para actuar mensalmente no “Star Show” da TVB de Hong Kong e em vários clubes nocturnos. O convite contemplava-o só a ele, a solo, e não quis abandonar o grupo. Estava-se em 1971.
Quatro anos depois partiu para Hong Kong, onde foi funcionário do Consulado do Brasil até 1978. Emigrou para os Estados Unidos, experiência gratificante, onde se sentiu realizado profissionalmente, trazendo recordações dos dez anos em que trabalhou no Banco do Brasil em Los Angeles.
Regressou a Macau por circunstância de um acaso, que ainda hoje lhe faz confusão. Vinha passar férias. m em 1988 quando o dr. Car los Assumpção, o presidente da Assembleia Legislativa, por quem tem uma profunda admiração e muita saudade, o desafiou a ser seu secretário pessoal. Aceitou… apenas para o ver morrer pouco depois. A partir daí, foi mudando de emprego e hoje (1998) está como responsável pela segurança na cadeia de Coloane, lugar pouco invejável, mas que ele encara como outro cargo qualquer. E vai-se deixando ficar em Macau… o futuro a Deus pertence!.
Daniel Ferreira não se arrepende de ter preferido “cantar, só por cantar…”. Hoje fá-lo com o mesmo empenho, mas só para os amigos e em salas privadas, com a vida facilitada pelos karaoke.
(Daniel Ferreira, da esquerda com os The Thunders, ao lado de Armando Ritchie, Rigoberto Rosário Jr. e Alex Airosa)
Nota: Tive uma boa conversa com o Daniel na APOMAC quando viajei a Macau para o Encontro de 2010. Muitas coisas que contou estão de acordo com o texto da Cecília Jorge. Revelou-se um eterno apaixonado cujo “grande problema” é que quando isso acontece quer casar, motivo de somar mais de um casamento na sua vida. O Daniel estudou comigo no Seminário de São José e ele era uma espécie de “protetor”. Lá estava ele presente quando a força física era necessária. Hoje confessa que leva uma vida confortável de aposentado na sua terra natal. Abraços ao antigo colega de classe.(Rogério Luz)
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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