A Mariazinha Carvalho, sempre inspirada para escrever seus textos e histórias em Patoá, mandou-me esta que … bem … alguém que não passou por isto “que atire a primeira pedra”. Ela jura que a história ou estória é verdadeira. Salvo umas palavras que exigiram uma consulta no dicionário do Patoá, entendi quase tudo. Pega-se o raciocínio e similaridade com o português para entender outras, certo?
UNGA ESTÓRIA DI “TIRÁ PUM”
Vosôtro lôgo pensá “Ai qui medónha, qui vegónha, qui vida fêde, contá estória di “Tirá Pum”. Ante di contá iou já pensá: Si Adé qui sâm Pai di Patuá já contá acunga estória di “Ôlo-deco”, iou qui sâm unga “humilde seguidora” di Adé tamêm astrevê contá estória di “Tirá Pum”. Porque vegónha? Pum nuncassá asnéra, nuncassá pecado. Cusa querê fazê? Querê cizí ôlo-deco pa nádi dessá pum sai fóra? Sabe cusa pôde acontecê? Bariga ficá inchado, cara ficá marêlo, ôlo ficá virado, cabéça ficá vangueado, pôde até cai estirado na chám ramendá unga morto.
Bom, hoze iou vêm pa contá estória di pum di iou-sa nhum Chicoi. Estunga estória sâm vedade, nuncassá iou-sa inventaçám.
Unga domingo di chuva-frio, cusa vai fazê? Sâm chocá na casa olá televisám-ia. Direpente iou-sa amiga brasiléra telefoná: “Mariazinha, estou preparando um panelão de feijoada brasileira e como sei que gosta, venha junto com o Chicoi para jantar conosco”. Feijoada brasiléra, iou nádi faltá! Tufám No.10 iou tamêm lôgo sai di casa. Assi nôs dôs dále capa, enrolá cascol na pescoço, azinha azinha corê vai casa di iou-sa amiga comê feijoada brasiléra. Nôs rufá qui ravirá. Cavá inchí bariga, anôte-anôte, iscuro-iscuro-ia, sâm ora di voltá pa casa. Quelóra isperá elevador chegá, estopôr di Chicoi co cara marêlo qui marêlo virá pa iou falá: “Ai Mariazinha, iou non pôde aguentá más-ia, iou querê tirá pum”. Cusa? Ne bom astrevê fazê seléa asnéra. Olá, nôs dôs empido chipido nunga coredor pichote, bafado, sim porta nim janela, ispéra estunga elevador antigonso qui nunca más chegá. iou certo lôgo pegá saván co estunga fedor di pum. Chicoi di cara marêlo agora já virá ficá vérde falá: “Iou prometê qui nádi tirá pum fêde”. Cusa, vôs querê iou acreditá? Tudo pum sâm fêde, agora pum di fijám ne bom falá-ia, nuncassá somente fêde, sâm podre di fêde.
Acunga ora iou têm qui fai-fai pensá cusa vai fazê pa “adiá” estunga pum. Azinha-azinha unga luz já vêm alumiá iou-sa cabéça, assi iou virá pa Chicoi falá: “Uví, prestá atençám cusa nôs vai fazê. Quelóra elevador chegá, nôs intrá, elevador decê, faltá unchinho pa tocá chám sâm ora qui vôs têm qui largá pum, porta abri nôs azinha pulá fóra, porta fichá assi trancá vosso pum dentro di elevador, j´ólá?”. Estunga môno disesperado falá: sâm, sâm, sâm. Ele sâm uide bom marido, fazê tudo laia-laia di ancusa qui iou mandá. Aleluia… elevador já chegá e nôs fazê igual qui igual qui iou planejá. Perto tocá chám-ia, Chicoi obidiente qui obidiente soltá acunga pum travado, cavá nôs azinha pulá fora dessá pum ficá pa tráz. Qui azar, quelóra nôs pulá fóra já da di cara co unga nhónha chistosa vesti janota qui janota, saia tocá chám, fula na pêto, fula na cabéça, certo já voltá di unga festa di casamento. Zás, qui azinha ela já emfiá dentro di elevador, porta fichá, nôs ficá fóra parado, paralizado, bóca aberto, bêço pendurado, ôlo batê-batê olá elevador vagar-vagar, gongchông-gomgchông, vai riva-riva-riva co nhónha e pum di Chicoi juntado até pará na 18º andar. Qui ramêde, tánto tempo assi onçôm-onçôm fichado co pum fêde di Chicoi certo estunga nhónha já ficá vangueado-ia. Iou non têm culpa si iou-sa plano já falhá, mas uví vosôtro, nuncassá unga “boa idéia”? Isperimentá, cavá contá pa nosôtro uví!!!
Nota do Editor: A Mariazinha,hoje, contribui simultaneamente seus textos em Patoá para o Crónicas Macaenses e o blog em patoá Como Tá Vái, num esforço para ampliar a divulgação do dialecto macaense.
Mariazinha e Chicói, acima em 2012 e abaixo em 1953 … eterno amor!!!
Unga estória di Pum di brasiléro
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Hoje, 24 de Junho de 2022, comemora-se 400 anos de “A Maior Derrota dos Holandeses no Oriente” na sua tentativa de tomar Macau dos portugueses. Até a transição de soberania de Macau, de Portugal para a República Popular da China, em 20 de Dezembro de 1999, a data era comemorada como “DIA DE MACAU” ou “DIA DA […]
1 Aqueles bons tempos de Macau, que já não voltam mais, de peças teatrais com participação de macaenses, são recordadas por Jorge Eduardo (Giga) Robarts na sua página no Facebook. Com autorização do Giga, as imagens foram copiadas e editadas, inclusive seus textos. Fazem parte do seu acervo, bem como, partilhadas por seus amigos dessa […]
Nesta postagem, divulgamos duas histórias de Macau de autoria do Manuel V. Basílio, publicadas no Jornal Tribuna de Macau-JTM e que foram extraídas dos seus livros: A primeira viagem portuguesa no sul da China O primeiro acordo sino-português Nos artigos abaixo com os textos com ligação direta no JTM , clique em “continue reading” (continue […]
Adorei!!! Parabéns à D. Mariazinha e toda a equipa deste site, pela rica contribuição e preservação deste dialecto que a nós pertence! Felicidades e muita saúde!
Que bom Anabela!!! Muito agradecido pelo teu comentário. É um contributo pela preservação do nosso dialecto. Felicidades e saúde para você também. Abraços!