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9 de Junho de 2012 foi uma data importante para os macaenses. O reconhecimento do Teatro Maquista (Teatro em Patuá) e da Gastronomia Macaense, por parte do Governo da China, como Património Cultural Imaterial de Macau, foi uma conquista dos Macaenses. Nunca iriamos imaginar, antes de 20 de Dezembro de 1999, que isso um dia poderia vir a acontecer, contrastando com a maciça imigração por conta do temor desta data de transição da soberania de Portugal para a China, ou se quisermos retroceder um pouco mais, desde os tumultos sangrentos em Macau provocados pela guarda vermelha da Revolução Cultural de Mao nos anos 60.
A atribuição do título regional para os dois itens da cultura macaense, é o primeiro passo dos três na longa e difícil jornada até alcançar o reconhecimento por parte da UNESCO, como Património Mundial Imaterial, pois o segundo, se alcançado já é uma grande vitória, qual seja, como Património da China já atingindo o nível nacional. Quanto a atingir o nível mundial, já é uma outra questão, até diria, um sonho bastante difícil de se realizar, mas se sonhar não custa nada, então vamos todos sonhar bem como trabalha para isso!
A nível regional, de Macau, já significa o reconhecimento por parte da China que a comunidade macaense portuguesa tem grande valor para a cidade. Se quisermos alongar um pouco mais o alcance deste título, penso que extrapola para a língua portuguesa que todos macaenses residentes deveriam estar a falar, e outros detalhes como os costumes e o modo de vida desta população. Macau acaba se tornando a vitrine para outras pretensões chinesas, como negócios com Países Lusófonos, e isso inclui o Brasil, além de políticas que não cabe a mim, leigo, comentá-las.
Parabéns a todos que contribuiram para o Teatro em Patuá, apesar de no início ter sido assinado um protocolo para a candidatura do dialeto Patuá (foto abaixo), que não vingou, e a todos que dinamizaram a Gastronomia Macaense, a queridinha da comunidade macaense, de tal forma que se alcançou o reconhecimento regional nesta etapa. Há nomes para citar, mas prefiro não fazê-lo pois o esforço tanto grande como pequeno dentro dos limites de cada um tem que ser igualmente reconhecido e apreciado. Enfim, parabéns a todos nós macaenses e a comunidade em geral por esta grande conquista que nos diz, de um modo ou outro, mesmo que haja restrições por parte de alguns, corretas ou não, “temos a nossa importância para o governo chinês de Macau”, e saibamos usufrui-la e contribuir para aumentar ainda mais essa importância e valorização, sem perdermos a nossa identidade. Uma coisa é certa, antes de 1999, nunca iríamos imaginar que chegaríamos a tal reconhecimento, pois mais se ouvia, “acabou para nós”!
MEMÓRIA – 13 de Outubro de 2006 no Restaurante Portas do Sul do Hotel Lisboa em Macau
PATUÁ – Sete associações macaenses assinaram um protocolo que pretende promover a candidatura do patuá a Património Universal Intangível. O Chefe do Executivo, Edmund Ho, que tinha acabado de retornar de uma visita ao Vietname, no mesmo dia, compareceu para assistir à sua assinatura, o que para muitos, significou um apoio tácito do Governo.
As 7 associações são: 1) APIM-Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, 2) Associação dos Macaenses, 3) Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas, 4) Clube de Macau, 5) Instituto Internacional de Macau, 6) Dóci Papiaçam di Macau, e 7) Círculo de Amigos da Cultura de Macau
Veja a seguir o texto publicado no site do Instituto Cultural de Macau (pedindo a vossa licença) com relação à lista dos agraciados com o título de Património Cultural Imaterial de Macau, que inclui também – A-Ma, Crenças e Costumes de Macau, e, Na Tcha, Costumes e Crenças de Macau:
Apresentação de quatro itens inscritos na Lista do Património Cultural Imaterial de Macau
(extraído do site do Instituto Cultural de Macau)
A-Ma, Crenças e Costumes de Macau
Localizado na margem ocidental do Delta do Rio das Pérolas, Macau foi, há várias centenas de anos, um porto de pesca, conhecido como “A-Ma-Gau” na dinastia Ming. No séc. XVI, os portugueses desembarcaram no costa junto ao Templo de A-Ma; assim, o nome português “Macau” está também relacionado com as crenças e costumes de A-Ma.
O Templo de A-Ma foi construído durante a dinastia Ming, revelando que os costumes e crenças de A-Ma estavam já enraizadas na comunidade de Macau há mais de quatrocentos anos. A população indígena de Macau era constituída principalmente por pescadores e estes veneravam Mazu – nascida com o nome de Lin Moniang em Putian, Província de Fujian – como sua deusa. De acordo com a lenda, esta abençoava os pescadores quando estes se aventuravam no mar para pescar, concedendo paz e sorte, tornando-se assim a protectora e deusa de navegadores e pescadores. Mais tarde, os pescadores de Fujian levaram o culto de Mazu para a costa da Província de Guangdong, sendo endeusada pela comunidade e sendo-lhe concedidos títulos por vários imperadores de diferentes dinastias. A sua influência está entrincheirada na costa sudoeste da China e em Taiwan.
Os costumes e crenças de Mazu em Macau adoptam a sua própria lenda única. Mazu é a divindade mais importante para os residentes locais, semelhante aos seus antepassados e assim reverenciada como “A-Ma” (Avó). O Festival de A-Ma (Festival de Tin Hau) realiza-se no 23º dia do 3.o mês do calendário lunar, durante o qual os pescadores e os residentes espontaneamente prestam culto, fazem ofertas e angariam fundos. Em frente do templo de A-Ma, decoram a zona com lanternas coloridas, veneram a deusa, fazem jogos e leilões. São também levadas à cena óperas chinesas dedicadas à deusa num teatro construído em bambu propositadamente para o efeito, o que deu origem à Associação de Ópera Chinesa de Moradores Terrestres e Marítimos da Barra.
Entre os sons de gongos e tambores, a Deusa é convidada a assistir à ópera chinesa – facto conhecido como “A-Ma assistindo às óperas” – o que significava entretenimento para as pessoas e para a Deusa. A seguir ao espectáculo, a Deusa é escoltada de volta ao templo a fim de os crentes mostrarem o seu devido respeito e honra. As pessoas imploram-lhe por segurança no mar e na terra, pela prosperidade dos negócios e pela protecção dos filhos.
No 16º ano do reinado do Imperador Qianlong da dinastia Qing (1751), a primeira monografia sistemática sobre Macau em toda a história chinesa – Breve Monografia de Macau, da autoria de Yin Guangren e Zhang Rulin – descreve a lenda de A-Ma. O livro História Antiga de Macau, do historiador sueco Anders Ljungstedt, bem como numerosas obras literárias e documentos ocidentais fornecem também descrições detalhadas sobre A-Ma. As descrições estendem-se também à pintura, de que é exemplo um quadro de 1863, do pintor alemão Eduard Hildebrandt, de uma ópera chinesa representada sob telheiros de bambu, em frente ao Templo de A-Ma, por ocasião do festival dedicado à deusa.
A cultura da Deusa A-Ma está enraizada em Macau há centenas de anos, tendo um impacto no território. Os paus de incenso nunca param de arder no interior do Templo de A-Ma, retendo-se a integridade dos costumes e crenças tradicionais de A-Ma até ao presente. O templo é inundado de devotos de vários cantos do mundo na véspera do Ano Novo Lunar e durante o Festival de A-Ma, intensificando-se o cheiro do incenso e o ambiente de harmonia. Os costumes e crenças de A-Ma de Macau constituem uma importante parte do culto de Mazu em território chinês, caracterizando-se pela sua longa história, pelas raízes na comunidade, pela continuidade e imutabilidade ao longo das épocas e pelas suas influências tanto no país como no estrangeiro. É um festival popular crucial em Macau e de grande impacto.
Na Tcha, Costumes e Crenças de Macau
Uma personagem dos mitos e lendas chineses, Na Tcha é retratado nos romances Fengshen Bang (A Investidura dos Deuses) de Xu Zhonglin e Lu Xixing (séc. XVI) e Xi Lu Ji (Viagem ao Ocidente) de Wu Cheng’en (séc. XVI) com poderes mágicos que eliminam os demónios. É frequentemente representado como uma criança montada nas Rodas de Fogo de Vento com poderes omnipotentes para afastar os demónios e os desastres na terra. Devido aos seus poderes, sempre que havia uma praga, crianças doentes ou a necessidade de realizar exorcismos ou afastar maus espíritos da cidade, as pessoas pediam ajuda a Na Tcha, tornando-se este, com o tempo, parte das crenças populares e patrono das crianças.
Segundo a lenda, durante a dinastia Qing, um rapaz usando um dudou, ou peitilho chinês, com o cabelo enrolado a formar dois puxos, era visto frequentemente a brincar com outras crianças, subindo para cima de rochas e liderando as outras crianças. Embora a encosta fosse íngreme, nunca houve nenhum acidente. Como o seu aspecto era muito similar ao da figura lendária de Na Tcha, as pessoas acreditavam que Na Tcha se tinha feito representar por esta criança. Um templo foi então construído nessa encosta em sua honra.
A crença em Na Tcha em Macau remonta há mais de 300 anos, honrando e advogando “Na Tcha Príncipe em 33 dias”. Este facto não se combina apenas com os mitos populares, mas combina-se também com os costumes e a cultura locais, desenvolvendo o seu estilo único; lendas, aniversários ou rituais apresentam todos diferenças muito significativas em relação às regiões vizinhas. A sua cerimónia de adoração é muito tradicional e merecedora de estudo.
Embora Macau tenha suspendido a realização de festivais relacionados com Na Tcha durante cerca de três décadas devido a factores políticos, as pessoas que conheciam os rituais deste culto subsistiram, retendo e preservando assim esta tradição. Para além da construção de altares, outras actividades populares incluem desfiles, carros alegóricos, o fabrico de amuletos da sorte, uma corrida de panchões, a distribuição de arroz da paz e ópera chinesa executada para a divindade.
Além disso, em resposta à política nacional em relação ao Património Cultural Imaterial, dois templos dedicados a Na Tcha que tinham tido pouca comunicação nos últimos cem anos iniciaram recentemente uma colaboração e discussão, candidatando-se à inclusão na Lista de Património Cultural Imaterial de Macau. Os seus esforços conjuntos são uma tomada de consciência da necessidade de harmonia e comunhão na preservação da cultura tradicional local.
Gastronomia Macaense
No início do séc. XVI, durante a Era das Descobertas na Europa, os portugueses navegaram até ao Extremo Oriente ao longo da costa ocidental de África, dobraram o Cabo da Boa Esperança e chegaram a Macau através da Índia e de Malaca. Nesses tempos em que a navegação era fonte de poder, as longas viagens marítimas e a ancoragem costeira favoreciam a combinação de estilos de vida e hábitos alimentares de diferentes regiões, raças e culturas, em África e na Ásia, tornando-se parte da vida quotidiana dos portugueses. Quando os navegadores portugueses se fixaram em Macau, na costa do Mar do Sul da China, combinaram a sua própria cultura e os diferentes costumes que assimilaram ao longo da viagem com o estilo de vida dos locais. Hoje, uma das maiores heranças desta mistura é a Gastronomia Macaense.
A grande variedade de condimentos adicionados à comida e às bebidas pelos portugueses são conhecidos colectivamente como “especiarias”; as especiarias orientais eram os principais produtos que alimentavam o comércio marítimo entre o Extremo Oriente e a Europa. Tal comércio trouxe riqueza aos portugueses, que foram os primeiros europeus a apreciar e introduzir no seu quotidiano as especiarias orientais e, subsequentemente a comerciá-las por todo o mundo.
A Gastronomia Macaense é uma cultura gastronómica baseada no método de preparação dos alimentos da culinária portuguesa, integrando ingredientes e métodos culinários de África, Índia, Malásia e também locais. Através da combinação dos méritos da culinária de cada região, a gastronomia local desenvolveu-se de forma única, aperfeiçoando-se ao longo dos séculos, tornando-se um subproduto histórico da cultura da navegação portuguesa.
Hoje, a Gastronomia Macaense, cujas técnicas se espalharam por todo o mundo com a diáspora macaense, é amplamente reconhecida, tendo-se tornado uma culinária com influências e características internacionais.
Teatro em Patuá
A língua é uma dos veículos de difusão cultural e um instrumento de comunicação humana; reflecte um contexto específico e origens históricas únicas.
O patuá é um sistema linguístico criado pelos imigrantes portugueses em Macau ao longo dos últimos quatrocentos anos. Aqui viviam os descendentes dos navegadores portugueses que se casavam sobretudo com mulheres da Índia e Malaca e que, juntamente com o influxo de outros portugueses vindos das colónias, deram origem a um grupo de pessoas de sangue misto que gradualmente evoluiu e formou a comunidade macaense. A língua de comunicação que usavam, conhecida por patuá, tinha o português como base, misturando-o com malaio, cantonense, inglês e espanhol. Assim, pode dizer-se que esta língua é uma “língua de mistura”.
O elemento mais importante do teatro é a língua, e o Teatro em Patuá encarna as características únicas deste dialecto. Este teatro caracteriza-se pela combinação de formas e estruturas de várias línguas, fazendo uso das diferenças culturais, da entoação, do vocabulário e do tom. Especializa-se em comédias que ridicularizam e criticam os problemas sociais predominantes. É “heterodoxo” mas abrange características locais. O Teatro em Patuá é favorito de um grande número de macaenses e chineses locais, sendo também um ponto de ligação emocional entre os macaenses e Macau.
Hoje, o patuá está a desaparecer gradualmente. Grande parte da nova geração de macaenses não fala o dialecto que foi em tempos tão popular entre a comunidade macaense, tornando o patuá um dialecto em perigo de extinção. Inegavelmente, o patuá constitui uma importante base para o estudo da antropologia e da cultura macaense e o Teatro em Patuá, através da arte, ajuda a chamar a atenção da sociedade para a cultura macaense.
*fonte: http://www.icm.gov.mo/pt/News/NewsDetail.aspx?id=10214 (site do Instituto Cultural de Macau)
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Hoje, 24 de Junho de 2022, comemora-se 400 anos de “A Maior Derrota dos Holandeses no Oriente” na sua tentativa de tomar Macau dos portugueses. Até a transição de soberania de Macau, de Portugal para a República Popular da China, em 20 de Dezembro de 1999, a data era comemorada como “DIA DE MACAU” ou “DIA DA […]
1 Aqueles bons tempos de Macau, que já não voltam mais, de peças teatrais com participação de macaenses, são recordadas por Jorge Eduardo (Giga) Robarts na sua página no Facebook. Com autorização do Giga, as imagens foram copiadas e editadas, inclusive seus textos. Fazem parte do seu acervo, bem como, partilhadas por seus amigos dessa […]
Nesta postagem, divulgamos duas histórias de Macau de autoria do Manuel V. Basílio, publicadas no Jornal Tribuna de Macau-JTM e que foram extraídas dos seus livros: A primeira viagem portuguesa no sul da China O primeiro acordo sino-português Nos artigos abaixo com os textos com ligação direta no JTM , clique em “continue reading” (continue […]
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