Interessante saber que o ex-presidente do Brasil Juscelino Kubitschek esteve em Macau. Juscelino foi responsável pela construção da atual capital do Brasil: Brasília.
Diz João Guedes na sua matéria divulgada na Revista Macau de Agosto de 1992: “os anos subsequentes à proclamação da República Popular da China em 1949, constituíram tempos difíceis para a colónia portuguesa”. Penso que muitos macaenses não saibam desta história, como eu, que poderia ter mudado as nossas vidas. Talvez tivessemos virado “refugiados de Macau“, a exemplo dos refugiados de Shanghai quando também na mesma época e pelo mesmo motivo, muitos estrangeiros deixaram a China apenas com a roupa do corpo. Hoje a comunidade luso-descendente está espalhada pelos EUA, Canadá, Austrália, Brasil etc.
Vão ler também que “o governo (português) pediu desculpas pelos factos ocorridos“, o que veio resolver a crise, fazendo com que Macau vivesse em sossego por mais 15 anos até os novos episódios provocados pela guarda vermelha de Mao Tse Tung, o chamado “1, 2 e 3” em 1966/1967, quando promoveram distúrbios na cidade e a quase invasão de outros adeptos da Revolução Cultural do outro lado da fronteira, no território chinês, se não tivessem sido contidos pelo exército chinês. Com a morte de 12 chineses, o governo português, novamente, acabou pedindo publicamente desculpas pela intervenção do exército português e a trágica consequência.
Numa análise simplista, posso dizer que, a rigor, os macaenses estão praticamente a fazer “hora extra” em Macau, e um milagre os portugueses terem conseguido manter a colónia sob a sua administração por cerca de 440 anos numa penísula ligada à grande China. Por isso, poderia se atribuir à “sabedoria e paciência chinesa”. Graças a Deus que Macau não foi retomada à força pela China. Os chineses souberam negociar a transição por anos e aceitaram as regras que mantiveram Macau do jeito como está hoje, com certas regalias à comunidade luso-descendente. A transição em Dezembro de 1999 foi pacífica e ordeira. Foi muito triste para nós macaenses, mas temos que admitir que, antes assim do que à força tornando-nos “refugiados“, como passamos por esse risco várias vezes, pois Macau cedo ou tarde teria que retornar à soberania chinesa.
Com o artigo também entendi a presença dos chineses nacionalistas Kuomintang em Macau, que até os distúrbios de “1, 2 e 3” acima relatados, podiam comemorar em Macau o seu Dia Nacional da Ilha de Formosa cuja integração é reclamada pela República Popular da China. Lembro que tinhamos uma empregada doméstica chamada Ah Fet, que casou-se com um dos soldados do exército nacionalista derrotado pelos comunistas e refugiados em Macau. Ele era chamado de “ló pák tau” (cabeça de nabo) e não tinha um dedo perdido nos combates.
Arcos em Macau celebravam datas nacionais da China comunista e da China nacionalista, esta última até 1966.
Os Tempos Difíceis em 1952
de João Guedes – Revista Macau Agosto 1992
As reivindicações nacionalistas sobre Macau e Hong-Kong conheceram o seu apogeu nas primeiras quatro décadas do século xx. Depois disso, o governo revolucionário de Mão Tse-Tung geriu de novo com o pragmatismo dos antigos imperadores a questão das duas colônias ocidentais
As reivindicações manifestaram-se de um modo particularmente agudo durante os conflitos de 1922 que decorreram da propaganda nacionalista chinesa na colónia portuguesa de Macau, num momento em que as mais diversas correntes políticas alimentadas à esquerda pelos agentes do Komitern soviético e à direita pelos interesses alemães se digladiavam como nunca. O sindicalismo de características anarquistas ganhava por seu turno adeptos nas duas colónias ocidentais da China (Hong Kong e Macau) provocando uma série de distúrbios que culminaram numa longa greve geral de vários meses que paralisou a vida do Território português chegando mesmo a ameaçar a sua própria existência.
Anos depois, a realística abordagem do socialismo chinês relativamente a Macau e Hong-Kong não foi, no entanto, isenta de conflitos. Pequim necessitava de demonstrar que poderia a qualquer momento arrasar os dois territórios, mas ao mesmo tempo procurava dar sinais claros de que não tinha intenções de o fazer, pelo menos enquanto nenhum deles se assumisse como ameaça real para a sua segurança. Ambos constituíam portas abertas demasiado importantes para serem arruinadas em nome do marxismo-leninismo.
Seja como for, os anos subsequentes à proclamação da República Popular da China em 1949, constituíram tempos difíceis para a colónia portuguesa.
O marechal Lin Piao com o seu oitavo exército de campanha desceu sobre Guangdong limpando a província de todas as forças nacionalistas, mas parando às portas de Macau, onde o Kuomintang se tinha estabelecido com armas (pelo menos algumas) e bagagens. Lin Piao, todavia, decidiu respeitar o território português. Através das Portas do Cerco, centenas de soldados do exército nacionalista penetraram em Macau entregando as suas armas, antes de recolherem a campos de concentração transitórios, de onde seguiriam depois para a Formosa (aqueles que o quizessem fazer). Apesar da atitude amistosa do Exército Vermelho, Macau não descansou. A população, em geral via com apreensão a nova república popular esperando o pior.
Soldado landim na Porta do Cerco
O pior surgiu cerca de três anos depois. Nas Portas do Cerco, as tropas africanas, acabaram por desencadear hostilidades. O confronto ocorreu três semanas apenas depois de o Ministro do Ultramar, Sarmento Rodrigues, ter afirmado, na primeira visita alguma vez efectuada ao Território por um responsável daquela pasta, que o estatuto de Macau se manteria inalterável. Recorde-se que Portugal continuava (e continuaria ainda por mais algumas décadas) a não reconhecer a RPC, mas sim o governo nacionalista de Chiang Kai-Shek refugiado em Taipé. Ao que parece tudo resultou da investida por parte de uma sentinela portuguesa de baioneta calada contra um militar chinês que teria penetrado em território de Macau. Ao certo, todavia não se sabe. O que se sabe é que o incidente tomou proporções alarmantes, registando-se nos dias seguintes trocas de tiros através da fronteira.
“Diariamente, num pequeno bote, uma pequena secção do destacamento de Coloane tinha a difícil missão de acender o farolim a poucos metros da costa chinesa”
Um soldado de infantaria estacionado em Coloane conta que nos dias subsequentes ao desencadear do conflito a sua missão diária de acender o farolim que balisava a entrada no canal marítimo se tornou mais difícil do que nunca: “O farolim encontrava-se muito perto do território chinês e nós tinhamos de abrir caminho a tiro para conseguir acendê-lo. Para isso singrávamos num pequeno bote protegido por chapas metálicas. Chegados ao farolim, um de nós acendia-o rapidamente remando de novo em direcção a Coloane, enquanto do lado chinês o EPL abria fogo”. Raramente se registavam feridos, afirma o antigo militar, mas a tensão era grande no pequeno bastião que se erguia ao fundo da vila, suficientemente isolado do grosso da guarnição que se encontrava em Macau.
Os recontros levaram, mais uma vez, inevitavelmente ao encerramento das Portas do Cerco e a novo êxodo da população com destino a Hong-Kong. O novo governo de Mao Tse-Tung afirmara, entretanto, por uma ou duas vezes que a soberania portuguesa sobre Macau era ilegal, mas não parecia seriamente decidido a pôr-lhe termo, apesar da recusa liminar do governo de Salazar em reconhecer a nova República Popular, teimando em continuar a permitir a presença dos organismos governamentais nacionalistas em Macau.
Ho Yin e Pedro Lobo
Na resolução dos conflitos de 1952 parece ter desempenhado importante papel o chefe da Repartição dos Serviços de Economia, Pedro Lobo, um timorense formado pela universidade de Lisboa que passou a maior parte da sua vida em Macau. Juntamente com Pedro Lobo, desenvolveram acções relevantes na mediação com as novas autoridades chinesas Ho Yin, presidente da Associação Comercial de Macau e Ma Man Kei, seu vice-presidente. Ambos viriam também a ter um peso fundamental na liderança política do Território nos anos subsequentes.
Os conflitos de 1952, acabaram por ficar sanados cerca de três semanas depois, na seqüência de um acordo assinado com as autoridades comunistas da cidade de Seac Kei em 25 de Agosto. Pedro Lobo assinou em nome do Governo Português. O texto do acordo não é conhecido, embora a Agência Nova China tenha afirmado que no seu âmbito o governo pediu desculpas pelos factos ocorridos. Seja como for assinale-se ter sido após os incidentes de 1952 que as companhias militares de Moçambique foram retiradas de Macau.
O Território sossegaria pelos quinze anos seguintes.
A China voltava-se novamente para a resolução dos seus problemas internos decidindo deixar a questão de Hong-Kong e Macau uma vez mais em aberto.
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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