A escritora portuguesa de Lisboa, Maria Archer, no seu livro “Terras onde se fala o Português”, naturalmente também escreveu sobre Macau, que na época, fazia parte das “Províncias Ultramarinas Portuguesas”.
Trecho do livro sob o título “Uma cidade famosa no Oriente” rasga elogios a Macau em todos os aspectos. Porém informa, o que me causa dúvidas, que a cidade tinha, antes da II Guerra, apenas uma população portuguesa de 4 mil pessoas, entre 200 mil habitantes. Não tenho esta estatística, e julgo que nem se fazia censo naqueles tempos, porém creio que entre os portugueses vindos de Portugal e outras ‘províncias ultramarinas’ e aqueles nascidos em Macau (macaenses), Hong Kong e Shangai deveriam somar mais do que esses 4 mil indivíduos. Talvez 7 ou 8 mil? E, a população talvez já chegasse a 250 mil. Infelizmente não possuo nenhuma publicação ou não localizei detalhes que pudessem elucidar estes dados.
O livro que teve a sua primeira edição publicada em 1957, e a segunda, ‘dedicada ao Brasil’ como escreve a escritora, em 1962, que na época residia e trabalhava no Brasil. Nesta edição brasileira que possuo, já trazia novas estatísticas populacionais de Macau com 375.000 habitantes comprimidos em 16 km2, ou 23.437 pessoas a residir a cada 1 km2. Se esta densidade populacional fosse aplicada à cidade de São Paulo, a população paulista seria quase três vezes superior à de hoje, ou cerca de 35 milhões de pessoas contra 12 milhões.
MACAU, UMA CIDADE FAMOSA NO ORIENTE
por Maria Archer em “Terras onde se fala o Português”
Macau, hoje em dia (1960), é uma cidade famosa no Oriente, e tão alegre, tão luxuosa, tão urbanizada, como as cidades portuguesas ou brasileiras de primeira categoria.
As suas ruas e avenidas são largas, de bom pavimento de asfalto ou cimento, perfeitamente sinalizadas e de circulação regulamentada. Possui parques arrelvados, jardins floridos, e profusa arborização. É uma cidade policroma, elegante e moderna, que se impõe ao primeiro olhar. Os forasteiros gabam os hotéis de Macau, luxuosos, cômodos, e adaptados, uns à vida européia, outros à vida chinesa.
Cabo submarino, que a liga, na profundidade dos mares, a toda a Terra, estação de Rádio, com que comunica, pelos ares, com Portugal e o mundo civilizado, rede de telefones automáticos, instalada um ano antes da de Lisboa, ascensores nos edifícios, iluminação elétrica, indústrias movidas a eletricidade, água canalizada, esgotos, serviços de autocarros, camionagem e automóveis, estabelecimentos comerciais dignos de Paris, bancos, fábricas, hospitais, asilos, escolas, tribunais, cinemas, clubes, edifícios magníficos, uma intensa vida elegante, um forte movimento comercial — eis o expoente da beleza, do conforto e da riqueza da Leal Cidade.
A população é enorme, comprimida na pequena área. Orçava, antes da guerra, por uns 200 mil indivíduos, dos quais 4 mil portugueses, 500 de nacionalidades diversas, e chineses os restantes. Agora tem uma enorme população de refugiados chineses, grande parte vivendo em cima de barcos ancorados no porto interior.
As comunicações são mantidas por carreiras marítimas regulares, sendo o maior movimento de passageiros dirigido para Hong-Kong, grande porto duma antiga concessão estrangeira instalada nas proximidades de Macau. Não há carreiras marítimas, diretas, entre a colônia e Lisboa, fazendo-se o movimento do comércio e passageiros por intermédio dos navios ou aviões ingleses. O correio chega, geralmente, por terra, atravessando a Ásia nos trens dos comunistas chineses e russos.
Macau deve grande parte da sua prosperidade à circunstância de ser porto livre, isto é, um porto sem alfândega, o que o valoriza como centro de reexportação. Certos artigos pagam, porém, ao entrar na cidade, um pequeno imposto de consumo, o que se dá com o álcool, as bebidas alcoólicas, o café, o cimento, os fósforos, a gasolina, o petróleo, e os tijolos, etc.
Quanto às sedas, os perfumes, as louças preciosas, os esmaltes lindíssimos, os marfins rendilhados, os sândalos de maravilha, o charões fascinantes, enfim, todas as coisas belas do Oriente, essas podem passar por Macau sem pagar direitos aduaneiros ou outros quaisquer, bem como os luxuosos artigos europeus que se vendem na colônia, aos brancos e amarelos.
Como porto de pesca Macau é importantíssimo, sendo o mais frequentado e movimentado de todo o Extremo Oriente, em competência com os portos de pesca do Japão.
Industriosa, inteligente, ativa, a sua população exerce vários misteres. Os europeus ocupam lugares preponderantes, na indústria, no comércio, e na administração, mas há também chineses ricos que se dedicam ao comércio em grande escala, e outros industriais, donos de fábricas com larga produção.
As principais indústrias de Macau foram as fábricas de artigos de malha, que exportavam, geralmente, para a índia e América do Sul, as de conservas, — de frutas, marisco, e peixe, — de cal das ostras, de estalos chineses, fogos de artifício, de fósforos, de inseticidas, de tabacos, de tijolos, de calçado europeu e chinês, de gelo, de perfumes, de vidros, de vinho chinês, de artigos de cobre. Todo este comércio e indústria, porém, foi perturbado pela guerra e o comunismo chinês. Porque Macau existe à beira da grande China Comunista. Não se sabe por que milagre esse nacionalismo absorvente tem respeitado a colônia portuguesa.
Os estaleiros locais trabalham em construções navais chinesas, a que chamam ali juncos e lorchas. As oficinas litográficas de Macau, célebres na China, executam obras de extrema perfeição, recebendo encomendas não só da cidade como doutros pontos do país. Os seus cartazes são maravilhosos, dum desenho arrojado, dum colorido seguro, dum gosto de bom quilate, e demonstram o nível artístico que ali atingiu a arte litográfica. (Maria Archer)
QUEM É MARIA ARCHER ?
Maria Emília Archer Eyrolles Baltasar Moreira, conhecida como Maria Archer (Lisboa, 4 de Janeiro de 1899 – Lisboa, 23 de Janeiro de 1982), foi uma escritora portuguesa
Nascida em Lisboa, mudou-se para Moçambique com os pais e seus cinco irmãos em 1910. Só terminou a escola primária aos 16 anos, tendo para isso que insistir com seus pais, que achavam desnecessária a sua formação. A família voltou para Portugal em 1914, mas dois anos depois estava novamente na África, desta vez na Guiné-Bissau.
Em 1921, enquanto seu pai regressava a Portugal, Maria Archer casou-se com o também português Alberto Teixeira Passos. O jovem casal fixou residência em Ibo. Cinco anos mais tarde, após o surgimento do Estado Novo e a crise subsequente, o marido perdeu o emprego num banco e os dois mudaram-se para Faro. Em 1931, divorciaram-se.
Separada, foi morar com os pais em Luanda, onde iniciou sua carreira literária. Publicou a novela Três Mulheres, num volume que continha também a aventura policial A Lenda e o Processo do Estranho Caso de Pauling, de António Pinto Quartin.
Voltou para Lisboa, onde iniciou um período de intensa atividade, produzindo obras sobre a sua vivência na África. Em 1945, aderiu ao Movimento de Unidade Democrática (MUD), grupo de oposição ao regime salazarista. Suas obras passaram a ser censuradas. O romance Casa Sem Pão (1947) foi apreendido. Sem condições de viver da sua produção intelectual, refugiou-se no Brasil, onde chegou em 15 de julho de 1955.
No seu exílio, colaborou com os jornais O Estado de São Paulo, Semana Portuguesa e Portugal Democrático e Revista municipal de Lisboa (1939-1973). Alternou-se entre a literatura de temática africana e as obras de oposição à ditadura portuguesa .
Voltou para Portugal em 26 de Abril de 1979, internada na Mansão de Santa Maria de Marvila, em Lisboa, um asilo onde passou seus últimos três anos de vida. (Fonte: Wikipedia)
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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