Apenas cerca de 40 pessoas compareceram à singela cerimônia particular.Foto do Jornal Tribuna de Macau
Cautelosa e discreta homenagem foi realizada em Macau, no dia 14 de Dezembro de 2013, um sábado, para lembrar os 500 anos da chegada do primeiro navegador português ao Sul da China, Jorge Álvares. Conforme relata o Jornal Tribuna de Macau (JTM), cerca de 40 pessoas compareceram ao evento particular que foi previamente avisado pela imprensa.
Nenhum representante dos governos de Macau e de Portugal, e nem membros da sociedade macaense em cargos ou posições de destaque compareceram à homenagem com deposição de uma coroa de flores junto ao monumento localizado no centro da cidade. Na tarde fria, ouviu-se intervenções que deram destaque à viagem que trouxe o primeiro europeu à China por via marítima.
Segundo o jornal Hoje Macau, dois dos organizadores da homenagem, citados os nomes de Albano Martins e Paulo Godinho, alegavam antecipadamente que a cerimônia não tinha cariz político, muito menos se pretendia politizar a questão. A iniciativa era atribuída a residentes de nacionalidade portuguesa e chinesa e que se pretendia celebrar as relações sino-portuguesas, iniciadas com a chegada de Jorge Álvares.
Relata o JTM que de acordo com Jorge Morbey, professor universitário e investigador da história das relações luso-chinesas, as ausências citadas podem ser explicadas ” pelo “convencimento” de que os “chineses são muito sensíveis a este tipo de questões”, embora quem tenha estudado a história saiba que “Jorge Alvares é tratado de forma muito neutra” ao contrário de outros vultos portugueses”.
Pela fotografia divulgada pelo JTM das pessoas que compareceram à singela cerimônia, fiz a contagem e vi rostos conhecidos e outros desconhecidos, bem como percebi muitas ausências. Ainda, não era um dia útil. Era fim de semana. O Encontro das Comunidades Macaenses de 2013 tinha encerrado há uma semana atrás, no dia 7, e provavelmente um razoável número de participantes ainda se encontrava em Macau. Eu que não viajei para o Encontro, estava no Brasil a acompanhar as notícias pelos jornais de Macau.
O que se pode falar desta homenagem, que se tornou uma tímida homenagem, que dá a impressão da decadência da presença portuguesa em Macau, se já não é um fato? O esforço dos organizadores foi louvável, merece aplausos, mas infelizmente ficaram a falar sozinhos tendo como companhia poucos teimosos que ainda tentam contar ao mundo que os portugueses lá estiveram por cerca de 440 anos. Depois ouvimos e lemos aqui e acolá bonitos discursos a destacar a lusofonia em Macau. Penso que um maciço comparecimento dos falantes da língua portuguesa, teria sido uma afirmação da lusofonia que se luta para a sua preservação. E lá são algo de 6 mil pessoas (salvo erro) que fazem parte da comunidade portuguesa/macaense. Eu, se estivesse em Macau, teria marcado a minha presença e documentado de todas as formas. Até hoje só vi as fotos do JTM! Infelizmente estas coisas acabam desanimando e decepcionando a gente.
Sinceramente, julgo que celebrar os 500 anos da chegada de Jorge Álvares não seria uma “ofensa” aos chineses, a começar que a estátua está lá no mesmo sítio, desde a sua inauguração. Se a sua presença em Macau incomodasse como a do Coronel Mesquita ou do Governador Ferreira do Amaral, certamente estaria abandonada numa praça em Portugal ou coberto por uma lona num depósito qualquer em Lisboa ou do Porto.
O fato dos chineses darem valor para a lusofonia, o que é bom para os negócios, seria como reconhecer que a presença portuguesa no passado e na atualidade tem as suas utilidades, e não homenagear merecidamente a quem deu início a tudo isso, isto é, Jorge Álvares, não terá sido excesso de cautela ou uma avaliação errônea do efeito da homenagem? Ou as eternas “rivalidades” tiveram algo a ver com isso?
Para lembrar, o Brasil, país lusófono, o maior parceiro comercial da China, comemorou efusivamente no ano 2000, os 500 anos do descobrimento pelo português Pedro Álvares Cabral, mesmo que tenha depois declarado unilateralmente a sua independência de Portugal. E agora vemos estes 500 anos de Jorge Álvares (por coincidência dois “Álvares”) comemorados por iniciativa apenas de “particulares”, uns valentes lusitanos. Sem querer ofender ou fazer uma crítica veemente, só posso dizer: uma tristeza assistir a tudo isso, passados apenas 14 anos da transição.
Não temos que temer a justa homenagem aos 500 anos da chegada de Jorge Álvares ao Sul da China, por via marítima. Faz parte inseparável da história de Macau, dos portugueses e dos macaenses.
Homenagem deste blog, do seu autor e do Projecto Memória Macaense aos 500 anos da chegada de Jorge Álvares ao Sul da China.
JORGE ÁLVARES conforme a Wikipedia
Jorge Álvares (Freixo de Espada à Cinta, ? – China, 8 de Julho de 1521) foi um explorador português, o primeiro europeu a aportar na China, por via marítima, e, em 1513, a visitar o território que atualmente é Hong Kong .
Biografia
Foi um dos portugueses que, de Malaca, se dirigiram à China, sendo o primeiro a chegar à China, em 1513, na região sul, a mando do Capitão ou Governador de Malaca português, Jorge de Albuquerque, sobrinho do conquistador Afonso de Albuquerque.
A esta visita seguiu-se o estabelecimento de algumas feitorias portuguesas na província de Cantão, onde mais tarde se viria a estabelecer o entreposto de Macau. De acordo com os registos disponíveis, foi o primeiro europeu a alcançar e visitar o território que atualmente é Hong Kong.
Parece ter aportado na ilha de Tamão, situada em Chu-Kiang (através do Rio da Pérola, que passa em Cantão, que os ingleses chamam Pearls River), no distrito do Rio de Este. Castanheda diz que essa ilha ficava a 3 léguas da costa da China; Damião de Góis, a 3 léguas de Nantó, e Gaspar Correia, a 18 a 20 léguas de Cantão. Em vista disto, o historiador macaense José Maria Braga identificou Tamão como a ilha de Lin-tin.
Possuía um junco com o qual se dedicava ao comércio entre Malaca e Cantão, juntamente com Simão de Andrade e Rafael Perestrelo, pioneiros desse comércio, considerado ilegal pelos chineses.
Participou de uma guerra contra o sultão de Bintão, capitaneando uma galé na Armada Portuguesa. Com a abordagem de Tamang (Cantão), apesar da oposição do “Itau” (mandarim local), conseguiu estabelecer-se em uma praia na ilha de Sanchoão, onde ergueu uma cabana que servia de refúgio aos comerciantes clandestinos e onde, para se achar como em terra portuguesa, fizera assentar um padrão.
Passou assim a ser considerado como feitor português de Tamang, continuando, no seu junco, a navegar pelas Molucas. Nestas águas veio a ser atacado pelos indígenas de Ternate, vindo a ser gravemente ferido. Veio falecer na sua cabana, pedindo que fosse enterrado junto ao padrão que fizera erigir.
Jorge Álvares, em Tamão, terá levantado o primeiro Padrão Português na China; junto a esse Padrão sepultou em 1514 o seu filho. A 8 de Julho de 1521, o seu próprio corpo foi ali reunir-se às cinzas desse jovem, falecido seis anos antes do pai.
Terá morrido nos braços do seu amigo Duarte Coelho, famoso capitão dos mares do oriente, que o terá sepultado. O nosso grande cronista João de Barros diz que aquela terra de idolatria pode comer o seu corpo, mas visto que por honra de sua Pátria em os fins da terra pôs aquele padrão de seus descobrimentos, não comerá a memória de sua sepultura, enquanto esta nossa escritura durar.
Jorge Álvares, seu homónimo
Há informações acerca de outro Jorge Álvares (um filho, um homónimo?), um rico mercador português que, em 1544, foi ao Japão com Fernão Mendes Pinto e que escreveu “Informação do Japão”, a pedido de São Francisco Xavier. Auxiliou ainda este religioso tendo conduzido, da China, o seu converso japonês de nome Anger. Em 1552 o religioso aportou à ilha de Sanchoão gravemente enfermo, tendo sido acolhido por Jorge Álvares na sua cabana. Os cuidados que lhe proporcionou, entretanto, foram em vão, vindo o futuro santo a falecer.
* No blog Nenotavaiconta há mais informações a respeito de Jorge Álvares neste link:
http://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/11/04/historia-500-anos-da-chegada-de-jorge-alvares/
A notícia no Jornal Tribuna de Macau: http://jtm.com.mo/local/homenagem-cumprida/#sthash.wqL5TYEQ.dpuf
Jornal Hoje Macau: http://hojemacau.com.mo/?p=63771
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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Como português foi mesmo discreta demais essa comemoração que foi pouco publicitada pela imprensa radio de Macau etc.de raízes potugueses ou quaisquer individualidades infelizmente a grande maioria de portugueses nem souberam data e de qualquer comemoração num dia tão importante mas é mesmo lastimável que o assunto está assim tão esquecido pelos actuais portugueses quer pelos naturais ou radicados.