O Presidente de República de Portugal, Cavaco Silva, em sua visita a Macau em 17/05/2014. Foto postada no grupo Conversa entre a Malta no Facebook
Há 20 anos atrás, quando Macau ainda era portuguesa, o então Primeir0-Ministro de Portugal, Cavaco Silva, visitava Macau. Depois da transição de soberania, ainda esteve no território.
No dia 17 passado, em 2014, voltou a pisar o antigo território de Portugal, porém desta vez como Presidente de República, acompanhado do último Governador de Macau, Vasco Rocha Vieira, que o recepcionou naquela função em 1994. Foi uma breve visita: chegou no sábado e partiu no domingo, após visita a China, e não podia deixar de dar uma parada em Macau, mesmo que fosse por tão pouco tempo.
Vejamos então como foi essa visita de 1994, objeto de artigo na Revista Macau naquela época:
(Nota: para quem não saiba, a transição de soberania de Macau, de Portugal para a China, ocorreu em 20/12/1999)
CAVACO SILVA EM MACAU – CONFIANÇA NO FUTURO
artigo de Paulo Ramalheira – Revista Macau Maio 1994 (fotografias da revista)
Se ainda formos a tempo, o primeiro-ministro Cavaco Silva quer que Macau se transforme, até 1999, numa praça financeira forte, onde os interesses de Portugal e dos seus agentes económicos assumam a correspondente fatia legada pela herança histórica
Restam pouco mais de cinco anos para se ver o resultado do repto agora relançado pelo chefe do Governo. Cinco anos de esperança, cinco anos de confiança.
Ao longo dos seus quatro dias em Macau, Cavaco Silva nunca hesitou em transmitir a mensagem que reteve da sua visita a Pequim e dos seus encontros com os mais altos dirigentes da nação chinesa: os compromissos assumidos entre Portugal e a China em relação a Macau serão, agora e sempre, respeitados escrupulosamente pelos dois países.
A par da tentativa do relançamento da cultura empresarial portuguesa em Macau, esta foi talvez a mais importante mensagem política do primeiro-ministro durante a sua visita a Macau, a segunda como chefe do Governo nos últimos sete anos.
Assim que acabou de atravessar a fronteira das Portas do Cerco, no dia 16 de Abril, o primeiro-ministro não quis deixar de dar o tom que haveria de servir de mote para todas as suas intervenções políticas no território: Venho a Macau trazer uma mensagem de confiança no futuro.
Nos encontros que uns dias antes tinha mantido em Pequim com os dirigentes da China, Macau foi igualmente a razão principal de todas as conversações, o que, aliás, reflecte o papel que o território ocupa nas relações luso-chinesas, nunca abaladas por questões alheias aos interesses do território e das suas populações.
Ao longo dos anos da transição, onde se tornou mais visível a face do desenvolvimento económico e social de Macau, Portugal tem jogado sabiamente no tabuleiro do xadrez internacional das relações com a China inspirado pela necessidade de não perturbar este “laboratório”, onde cerca de 400 mil pessoas tem fortes expectativas em relação ao seu futuro.
A todos os portugueses residentes em Macau, incluindo os de etnia chinesa, o primeiro–ministro fez questão de exprimir e de garantir que Portugal não deixará de assumir as suas responsabilidades perante todos os que, por uma razão ou outra, queiram deixar o território antes da passagem do exercício da soberania para a República Popular da China, o que acontecerá antes do início do século XX. Mas o chefe do Governo foi também claro na sua mensagem ao convidar todos os que aqui residem a aqui permanecerem depois de 1999, para darem o seu contributo a esta importante “joint-venture ” luso-chinesa, porventura o mais importante desafio político de Portugal da década de 90 e, a par de Hong Kong, a nova face que a República Popular da China quer dar de si própria ao mundo.
Com uma agenda sobrecarregada, calculada ao minuto, Cavaco Silva cumpriu ao longo dos seus quatro dias em Macau um itinerário que “tocou” premeditadamente em todos os grandes dossiês da transição, onde Portugal pretende deixar uma imagem de marca que não se desvaneça com o passar dos tempos ou com a mudança dos homens.
Na sessão solene de boas vindas, perante uma ilustre plateia composta por deputados e dezenas de outros convidados, entre os quais o representante de Pequim em Macau, Cavaco Silva reforçou a sua convicção de que Portugal e a China partilham o mesmo interesse na estabilidade do território e na criação de um clima de confiança no seu futuro. Pela nossa parte, saberemos manter estrita fidelidade à letra e ao espírito da Declaração Conjunta, que passou a constituir um elemento essencial de referência, disse.
Tal como havia já feito em Pequim, Cavaco Silva voltou a referir que Macau constitui para Portugal um desígnio nacional, desígnio este que impõe que o nosso país continue a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para honrar os compromissos históricos que tem para com a população de Macau, trabalhando para o seu progresso e para que a transição da administração se faça na estabilidade e na confiança.
Numa saudação ao primeiro-ministro, o governador Rocha Vieira disse, na ocasião, que se torna essencial assegurar a estabilidade de Macau para além do período de transição, o que recomenda que tudo se faça para que ele seja compatível com as futuras realidades da região administrativa especial de Macau, sem precisar de ser sujeito a alterações que o descaracterizem.
Mas também é essencial — recordou o dirigente macaense — que este sistema político próprio preserve vectores estruturantes da cultura política ocidental, como são a separação dos poderes, com a indiscutível independência do poder judicial e o respeito pelos direitos humanos, garantidos pelo direito escrito como suporte da defesa dos direitos individuais.
Para reforçar esta última vertente da intervenção cultural de Portugal em Macau, o primeiro-ministro visitou o Tribunal Superior de Justiça, criado em Março de 1992 no âmbito da lei de bases do sistema judiciário de Macau, que tornou praticamente autónoma a justiça em Macau, pondo fim a uma ligação tutelar de mais de quatro séculos a Lisboa.
Em contraste com a formalidade da visita à sede da mais alta instância do poder judiciário do território, o chefe do Governo passeou-se pelas ruas daquilo que considerou o Macau profundo, o Macau com uma forte influência portuguesa, não desperdiçando a oportunidade de beber uma bica e tomar o paladar a um palmier no Bolo de Arroz, uma pastelaria portuguesa que funciona desde há meia dúzia de meses como uma espécie do consulado da doçaria lusitana.
Foi ainda nesta visita ao território que o primeiro-ministro teve oportunidade de inaugurar um dos chamados “grandes empreendimentos” do período da transição: a Ponte da Amizade, que, além de passar a constituir a segunda travessia entre a península de Macau e a Ilha da Taipa, marca igualmente o princípio de uma nova era que Macau vai viver quando o seu aeroporto, em construção em pleno leito do Rio das Pérolas, estiver operacional, o que acontecerá em Janeiro de 1996.
É este aeroporto, cujas obras foram visitadas pelo primeiro-ministro, que garantirá ao território a autonomia suficiente para que Macau possa encarar o seu futuro numa perspectiva claramente optimista, alicerçada num desenvolvimento sustentado em bases sólidas e onde a prestação de serviços irá emergir cada vez mais no conjunto das variáveis que hoje caracterizam a sua economia, em rápida mudança.
Desde que chegou a Pequim, com uma delegação de cerca de 70 empresários — a maior representação que alguma vez acompanhou o chefe do Governo numa visita ao estrangeiro —, Cavaco Silva percebeu que, para as empresas portuguesas, perder mais tempo pode significar perder a oportunidade de se estar presente num mercado cujas potencialidades ninguém consegue hoje em dia medir com grande rigor.
Foi por isso que, a par dos seus contados de natureza política, Cavaco Silva privilegiou sempre nesta visita a Macau o relacionamento dos empresários que o acompanharam com os agentes económicos locais, assinalando em variadíssimas ocasiões que o território de Macau representa um activo importantíssimo na fixação de uma cultura empresarial portuguesa na região do sudeste asiático — a zona de maior crescimento económico em todo o mundo.
Durante a estada de Cavaco Silva em Macau, os empresários que o acompanhavam fizeram centenas de contactos com homens de negócio locais, trocaram cartões e trocaram ideias, chegando mesmo a ser assinadas as actas de constituição de algumas joint-ventures, que todos esperam possam representar o princípio de uma nova era nas relações económicas de Portugal com a região onde Macau se insere.
Já na recta final da sua visita a Macau, esta questão foi novamente retomada pelo chefe do Governo português durante um encontro com os jornalistas, realizado no complexo turístico de Hac-Sá, um dos mais “saborosos” espaços de lazer num território que projecta no sector do turismo um dos seus sustentáculos económicos.
Mas foi igualmente neste encontro com os profissionais de comunicação social que acompanharam a sua visita a Macau que Cavaco Silva quis deixar clara a sua mensagem de apoio e solidariedade, considerando o período de transição que se vive, em relação aos órgãos próprios de Governo do território.
O Governo de Portugal — disse então o primeiro-ministro — apoia totalmente o general Rocha Vieira no exercício das suas funções, notando ainda que a forma como o governador tem desempenhado o cargo ao longo de quase três anos é demonstrativa de que a sua nomeação foi uma escolha acertada. No fundo, um prémio já aguardado para o governador de Macau, que não deixou ao acaso nenhum pormenor da visita do seu ilustre hóspede.
Dragão chinês “vivificado” por Cavaco Silva na inauguração da Ponte da Amizade, a 2ª ligação Macau-Taipa
A nova ponte Macau-Taipa, Ponte da Amizade, foi inaugurada com a passagem de um dragão humano com 1559 metros e transportado por 2800 pessoas ao longo de mais de quatro quilómetros da ponte. Entrou para o livro de recordes no Guinness Book of Records.
IMAGENS DA VISITA EM 17-18/MAIO/2014
Cavaco Silva com membros da comunidade macaense/portuguesa na recepção em Macau em 2014 (foto da página no Facebook de Fernando C.Gomes)
O último governador português de Macau, Vasco Rocha Vieira, foi convidado de Cavaco Silva para a viagem. Na foto com Fernando C.Gomes, à direita. Foto da sua página no Facebook.
Cavaco Silva e esposa visitam a Cidade Proibida em Beijing, China, em 2014 (foto do Jornal Tribuna de Macau)
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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