Complementando a postagem anterior (clicar aqui para ver) que noticiou o falecimento do artista plástico nascido em Macau: Luís Luciano Demée, aqui mais algumas das suas pinturas e o artigo-dedicatória de autoria de Carlos Marreiros, também de Macau, publicada na Revista Macau de Novembro de 1985.
(clicar nas imagens para ampliar)
Luís Demée
Texto de Carlos Marreiros – Revista Macau edição de Novembro de 1985
“Onde Ulisses avistou Nausica com o Verão brincando nas areias espreita agora a nádega indecisa e vagabunda de qualquer sereia se não for de algum anjo sodomita.” (Eugénio de Andrade, <Escrita da Terra>)
E então que viajemos … e então que viajemos … e então que viajemos …
A «cor» das tintas é mero produto industrial, químico-cosmético. Nos olhos não é só problema dos oftalmologistas. Na vida,
enquanto fenómeno puramente solar, pertence aos deuses. Os deuses estão loucos, alguém gritou. Na arte é tudo isso – afirmação banal que se aceita. O que já não é pouco, Talvez seja ainda muito mais!
Não recuso, necessariamente, ver na obra plástica de Luís Demée, mensagens. Mas, mais que isso, mais do que momentos discursivos de conteúdo subjectivo ou não, é o convite para participarmos numa viagem. As Portas do Império estão abertas, se aceitarmos a participação. E cheiram a cravo e a canela. Um império de territórios vastos de cor, Sem Título, através do expresso Linha Amarela que se explode em polígonos e paisagens sem pontos de ruga. E apenas o embarque no Cais de Jade, onde flutua a Barca das Pérolas. Que as asas de uma infância se fizeram viajantes, nas velas de um junco-borboleta-do-mar-errante.
E os eternos triângulos e pentágonos, que trinta anos na Invicta-cinzenta-de-águas-furtadas, deixaram, primeiro, numa pós-adolescência tímida e experimental, e depois, numa prolongada sedimentação, de amor e sense-of-belonging. É um Porto de emo(sen)sações, que os vinte-e-oito sóis do pequeno céu azul não fazem acabar o Último Dia do Verão, de um Marco manchado, que se inventou às riscas.
A travessia continua, por entre campos e bosques de geometria, ora descritiva, às vezes analítica. O amor e os hinos de glórias predominam na trilogia das cores primárias, que se fazem arco-íris. Arco-íris, que por sua vez, se derrete em mil estrelinhas, aquela criatura cintilante, fôfa-min – fá-tón, Láctea, como a Via.
Mas não só, Os Guardas da Rainha, um enfadonho e robótico exército de soldados com cabeça de ameixa, marcha sobre nós. Mas num ápice, o exército torna-se inofensivo, porque comestível.
Uma vasta superfície de crateras. Uma auto-estrada de azinhagas, rasga a negritude do alcatrão, e um veículo vermelhão foge a todo o gás. Imparável. Um Dia Virá, precisa Luís Demée. Lindíssimo.
Por detrás de O Biombo Branco esconde-se a Cidade Submersa. Sem escafandro, mergulhamos na sua frescura azul, ora fumegante ora aquática, por entre arcos de uma arquitectura renascença. Apenas a continuação de uma viagem que só agora começou. E não termina. Termina, isso sim, este (pre)texto, alinhavado durante as travessias que Luís Demée nos faz transportar — todos aqueles que estiveram nas Galerias do Leal Senado e do Museu Luís de Camões de Macau. E quiseram aceitar a proposta do artista.
Eu aceitei. E gostei muito. Obrigado Luís Demée.
Biografia
Nasceu em Macau em Novembro de 1929. Recebeu as suas primeiras lições de desenho da saudosa D. Milly Catela, vindo depois a ser discípulo de George Smirnoff. Ainda em Macau realizou em 1951, uma exposição individual e participou em exposições do Hong Kong Art Club.
Bolseiro da Caixa Escolar de Macau, ingressou na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, em 1952, continuando os seus estudos, a partir do ano seguinte, na Escola Superior de Belas-Artes do Porto.
Foi membro da XX Missão Estética de Férias promovida pela Sociedade Nacional de Belas– Artes. Terminado o Curso Superior de Pintura, partiu para Paris como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian.
Em 1960 apresentou a sua tese na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, com classificação de 20 valores, bom com distinção e louvor. Em 1961 foi convidado a exercer as funções de, assistente na Escola Superior de Belas-Artes do Porto.
Na I Bienal de Paris foi-lhe atribuída uma Bolsa de Estudos pela Federação dos Críticos de Arte de Paris. Foi galardoado com o Prémio Nacional de Pintura Sousa Cardoso.
Foi convidado pela Fundação Gulbenkian a visitar, em Londres, a «Exposição de Pintura e Escultura de uma Década». Visitou, em Colónia, «West-kunt».
Realizou viagens de estudo pelo Médio Oriente, Grécia, Itália, Alemanha, França, Bélgica e Holanda. Participou em edições de serigrafia da Escola Superior de Belas-Artes do Porto, da Árvore, do Grupo Série.
Executou pinturas murais em fresco, vitrais, tapeçaria e acrílicos para o Palácio da Justiça do Sabugal, hotéis e edifícios públicos. Era professor na Escola Superior de Belas-Artes do Porto.
Entre outras participou nas seguintes exposições: Exposição individual em Macau. Em 1948-49-50-51, Exposição do Hong Kong Art Club.
Salões da Sociedade Nacional de Belas-Artes. VI, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV e XV Exposições Magnas da Escola Superior de Belas-Artes do Porto. IV, V e VI Exposições dos Novíssimos.
Exposições dos 6 Artistas premiados nas 6 Exposições dos Novíssimos. II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Gulbenkian.
Exposição Itinerante «Arte Por tuguesa Contemporânea» da Fundação Gulbenkian. I Bienal de Paris. Exposição de Arte Moderna na Biblioteca do Museu de Amarante.
III Bienal de Paris. Exposição de Arte Moderna do Museu José Malhoa. VII Bienal de S. Paulo. Exposição no Brasil comemorativa do IV Centenário do Rio de Janeiro. Exposição inaugural da Galeria Abel Salazar.
Exposição da Cooperativa das Actividades Artísticas «Árvore». Levantamento da arte do séc XX (Centro de Arte Portuguesa Contemporânea). Artistas do Norte na galeria Divulgação (Lisboa).
Colectiva I e Amadeu Sousa Cardoso na Galeria Tempo (Lisboa). Arte Moderna Portuguesa em Viana do Castelo. Exposição do Bicentenário da E.S.B.A.P.
Bienais Internacionais de Cerveira. «Artista do Oporto» em Vigo. «4 Dias de Arte Portuguesa», em Sevilha. «Figurativo ou Abstracto», exposição promovida pela Universidade do Minho.
Convidado a representar-se na «Exposição de Arte Portuguesa» em Recife, S. Paulo e Rio de Janeiro. Exposição do Ministério da Cultura «Os Portugueses no Mundo». Exposição dos Artistas do Norte de Portugal em Wiesloch, Munique, Hamburgo, Karlsruhr e Bona. Está representado em colecções: Centro de Arte Contemporânea – Museu Nacional Gomes dos Reis. Centro de Arte Moderna – Fundação Calouste Gulbenkian. Museu de Ovar. Museu de Amarante. Colecções particulares em Portugal, Brasil, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos.
ENTREVISTA COM LUÍS DEMÉE
Edição e Montagem: António Maria Mota Vale da Conceição
Entrevista conduzida por António Conceição Júnior para o Museu de Arte de Macau
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Hoje, 24 de Junho de 2022, comemora-se 400 anos de “A Maior Derrota dos Holandeses no Oriente” na sua tentativa de tomar Macau dos portugueses. Até a transição de soberania de Macau, de Portugal para a República Popular da China, em 20 de Dezembro de 1999, a data era comemorada como “DIA DE MACAU” ou “DIA DA […]
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