Talvez na sua visita ao Templo da Barra, também conhecido por Templo da deusa Amá, que se atribui a origem do nome de Macau, você não tenha dado a devida importância àquela rocha com a inscrição dos caracteres chineses da foto abaixo.
Pois saiba que existe uma lenda sobre aquela inscrição na rocha que fica localizada na parte alta da área do pagode chinês, subindo as escadarias. Não confunda com a rocha com um desenho de um barco que se encontra em frente ao templo, que será tempo de outra postagem.
A lenda contada por Luíz Gonzaga Gomes no livro Curiosidades de Macau Antiga, foi resumida por Padre Manuel Teixeira no livro Toponímias de Macau e aqui vai reproduzida:
A Rocha T’ai-Ut (Causa primordial)
Reprodução da publicação de Padre Manuel Teixeira no livro Toponímia de Macau, editada pela Macau-Imprensa Nacional em 1979
Luís G. Gomes, em Curiosidades de Macau Antiga, p. 19-22, conta a lenda que deu origem a estas letras e que nós vamos resumir:
O Porto Interior de Macau via-se sempre coalhado de lorchas de todos os portos da China. Esta gente do mar, em face dos perigos experimentados nas viagens, era muito devota da T’in-Hau (Soberana do Céu), venerada no templo da Barra.
Apesar disso, todos os anos, na proximidade da sua festa — o dia 23.º da 3.ª lua — ocorria um naufrágio em frente do templo. Atribuíram o incidente ao facto de ela deixar o santuário, nessa ocasião, para ir visitar a sua terra natal, Tin-Pou, em Fukien.
Um ano, ao aproximar-se a festa, os barcos dos portos fluviais do interior, içaram as velas e velejaram velozmente em direcção a Macau para honrar a T’in-Hau. Além da mercadoria, traziam montanhas de papéis dourados, imitando «sapecas» e papéis litúrgicos para queimarem no templo da Barra a fim de aplacar a deusa.
Aportaram ali todas as lorchas, excepto a de Mak-Kam-Tai. Nisto viu-se para além das Nove Ilhas um ponto negro que depois se verificou ser o barco perdido que voava em direcção à Barra.
De repente, rebenta uma tremenda borrasca. Uma nuvem negra absorveu as vagas, formando uma altaneira coluna que, entumescendo de momento a momento, se concentrou num centro aspirante que, em desvairado revoluteio, envolveu essa lorcha na sua espiral, desconjuntando-lhe, no seu temeroso amplexo, as juntas do cavername.
No entanto, perdido o seu potencial de aspiração, o «rabo do Dragão» desfez-se e a lorcha, elevada a grande altura, veio esfrangalhar-se em mil pedaços de encontro à superfície do mar.
Seguiu-se uma calma impressionante.
Apesar do desastre ter ocorrido em frente do templo da Barra, onde estavam surtas centenas de lanchas, estas nada sofreram nem se aperceberam da tragédia.
Mas ali estavam dois sobreviventes para testemunhar o ocorrido.
Como todos os anos apareciam nesse local destroços de misteriosos naufrágios, cresceu a devoção dos marítimos à deusa.
Nesse tempo, um famoso geomante, da província de Kuang-tung, chamado Lai-Pou-I, veio até Macau e foi visitar o templo da Barra. Ao chegar perto dum enorme rochedo, tirou a sua ló-p’un (bússola dos geomantes), apalpou o long-mak (pulso do dragão) e exclamou para os circunstantes:
«Não há dúvida. É aqui que a virulência nociva do ar é mais acentuada».
Perguntou se nas imediações do templo costumava haver desgraças. Quando lhe narraram os naufrágios, Lai-Pou-I sentenciou:
«Se não tratarem de contrabalançar, quanto antes, a influência do ar nocivo, este local presenciará desgraças muito mais frequentes. É que a corrente da Ribeira Grande, na fronteira ilha da Lapa, entra na porção do rio que fica em frente do templo, escavando no seu ímpeto o leito, de forma a moldá-lo em uma larga e profunda bacia semelhante a uma rede de pesca. A Ribeira Grande, por sua vez, age como um pescador que está de pé a lançar a sua rede, em que é colhida todos os anos uma embarcação».
Ouvindo isto, os marítimos subscreveram uma larga soma para ele neutralizar essa nefasta influência.
O grande Lai-Pou-I foi-se à rocha, traçou com firmeza dois grandes caracteres vermelhos — T’ai-ut, (causa primordial), frase sagrada do taoismo eficacíssima contra qualquer desgraça. Debaixo da rocha, enterrou uma espada com o gume voltado para a Ribeira Grande para cortar as cordas da nefasta rede. E pronto! O malfazejo pescador nunca mais pôde puxar a sua nefasta rede, assim a Barra viu-se para sempre livre de naufrágios.
Tudo isto, graças ao genial Lai-Pou-I, ao T’ai-ut e à tal espada desembainhada.
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Não poderia este blogue deixar de fazer mais um registo histórico de uma tradição mantida na Macau do ano de 2023, hoje, território da República Popular da China. Assim, o nosso colaborador, Manuel V. Basílio, macaense residente em Macau, nos dá o relato, com fotos, sobre a procissão de Nossa Senhora de Fátima realizada no […]
No Anuário de Macau do ano de 1962, nas páginas finais, vários anúncios publicitários encontravam-se publicados, os quais, reproduzimos abaixo para matar as saudades de quem viveu aquela época de ouro, ou então, para curiosidade daqueles que possam se interessar em conhecer, um pouco mais, aquela Macau de vida simples, sem modernidade, mas, mais humana.
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