Cronicas Macaenses

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A história da rocha com desenho de barco no Templo da Barra em Macau

Rocha do Barco Oceânico (Ieong-Sun-Seak) no Pagode da Barra em Macau

Rocha do Barco Oceânico (Ieong-Sun-Seak) no Pagode da Barra em Macau

Esta rocha, ao contrário da Tái Ut (vide postagem), é mais conhecida pois fica logo na entrada do Templo da Barra, ou Templo Amá que se atribui a origem do nome de Macau, e abreviatura do nome da deusa Neáng-Má, cuja história é contada mais abaixo por Padre Teixeira.

Muitos devem achar interessante o desenho colorido do barco, imaginando apenas uma expressão de arte, porém desconhecendo o seu significado. A embarcação não é daqueles utilizadas na região do Sul da China, onde se encontra Macau, mas sim do Norte da China e que segundo a lenda trouxe a deusa Amá.

Conheça a história ou lenda, como queira, da rocha com o desenho do barco do pagode chinês da Barra, segundo relato do livro Monografia de Macau:

fotografia Rogerio P.D. Luz

Templo da Barra ou Templo Amá

Rocha do Barco Oceânico ( Lèong-Sun-Sèac)

Texto extraído do livro Ou-Mun Kei Leok (Monografia de Macau), pág. 50, de Tcheong-U-Lâm e Ian-KuongIâm. Edição da Quinzena de Macau de Outubro de 1979-Lisboa e traduzido do chinês por Luís Gonzaga Gomes 

… Existem, em Macau, três estranhos blocos de pedra. Um deles chama-se lèong-Sun-Sèak (Rocha de Barco Oceânico). Conta a tradição que, durante o reinado de Mán-Lêk (1573-1620), um grande barco de comércio de Fôk-Kin foi assaltado por um temporal que o pôs em grande perigo. Subitamente viu-se uma santa, de pé, na vertente duma colina. O barco estabilizou-se. Erigiram, então, um templo consagrado a T’in-Fei (Concubina Celestial), e deram a este sítio o nome de Nèong-Má-Kók (Ponta de Nèong-Má).

Nèong-Má* é o nome por que, em Fôk-Kin, é designada a concubina Celestial. Sobre a superfície da rocha que se encontra em frente do templo gravaram o desenho de um barco e os quatro caracteres lei-sip tâi-tch’um (atravessou com felicidade o grande mar) para tornar conhecido o extraordinário poder desta santa.

  • ong-Má ou Neang-Má (?): a grafia diverge de Luís Gonzaga Gomes, a primeira, e de Padre Manuel Teixeira, a segunda, nos seus textos. Este blog preferiu fazer a publicação fiel de cada um deles.

Templo da Barra.Macau 02

A deusa Neang-Má

Texto extraído do livro Toponímia de Macau, Volume I, pág.176, de autoria de Padre Manuel Teixeira. Edição da Imprensa Nacional-Macau de 1979

A festa de Amá, deusa de Fukien, protectora dos navegantes celebrava-se em Macau no primeiro dia da lua de Março; em Fukien era honrada no dia 23 da 3ª lua.

Neang-Má tem ainda os seguintes nomes: Ma-Chou-Poh: (Deusa da Barra) T’ien-Fei (Concubina do Céu ou de Deus), T’ien Hau (Rainha ou Fsposa do Céu), T’ien Hau Seng Mou (Santa Mãe, Rainha do Céu) (cf. Doré, Recherches sur les superstitions em Chine e Manuel des superstitions chinoises).

Silva Mendes desdobra esta deusa em duas, quando escreve: «Em Má Kok também se venera T’ien Hau, a esposa do Céu. Num altar está ela, e noutro distante, a concubina Niang Má. E, assim, leitores, quando fordes a Má Kok acender pivetes e bater cabeça, podereis, à vontade acendê-los e batê-la a uma, ou outra, ou a ambas. Eu costumo fazê-lo às duas». Segundo esta versão, foi uma concubina que deu o nome a Macau!

Pelo nome não perca…

Pobre Silva Mendes, a bater cabeça a uma concubina de metal! Um pouco antes, ele pregunta: «Quem era propriamente Niang Má? — Uma alma penada que andava neste mundo em forma de donzela acabando a sua expiação (diz uma versão da lenda); uma das três T’in Fei do Céu (diz outra, com mais acerto). O caso não é, porém, claro e, para ouvidos cristãos, algum tanto escabroso se me afigura, pois que as três T’in Fei, na língua de Camões, são as três Concubinas do Céu!

Blasfémia? Sob o ponto de vista cristão, para quem não sabe, talvez ou sim; sob o ponto de vista taoístico-budhista, não. Neste misto credo, o Céu é casado e tem, é bem de ver, uma esposa, que é T’in Hau, e também (podendo parecer isto menos santo, apesar de o ser muito) três concubinas, que são as três T’in Fei.

Misticamente o livro de devoção «Sang Yá Tai Shoei Pien» explica o caso assim (muito satisfatoriamente): Só o Céu é supremamente grande {T’ai lat); abaixo do Céu, Supremo Imperador, há duas classes de dignidades imediatamente inferiores {Ngi Siu). Espíritos terrestres. Estes dois Espíritos terrestres, melhor dizendo estas duas dignidades terrestres, são a terra e o triplo Espírito Aquático (mares, lagos, rios), espíritos femininos, porque terra é «Yin» (feminino) e água também — terra, isto é T’in Hau, a Imperatriz do Céu, e o Triplo Espírito ou Três Espíritos, isto é, Sam Tin Fei, as três Concubinas do dito» {Colectânea de Artigos de Manuel da Silva Mendes (Macau, 1964), Vol. IV, p. 126).

Templo da Barra.Macau 04

“acender pivetes e bater cabeça” forma de orar do taoismo-budista nos templos chineses

Templo da Barra.Macau 05

  • Este blog e o autor respeitam todas religiões, inclusive a taoista-budista, assim, qualquer forma de redação que se possa considerar ofensiva não expressa o nosso pensamento, apenas a reprodução fiel do texto do seu autor sem ferir a originalidade.
  • Fotografia de/photos by Rogério P.D. Luz

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Publicado às 17/09/2015 por em deusa Amá, Rocha do Barco e marcado , , , .

Autoria do blog-magazine

Rogério P. D. Luz, macaense-português de Macau, ex-território português na China, radicado no Brasil por mais de 40 anos. Autor dos sites Projecto Memória Macaense e ImagensDaLuz.

Sobre

O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.

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