Cronicas Macaenses

Blog-foto-magazine de Rogério P D Luz

Primórdios de Macau: a origem da Pataca e do Dólar

De autoria de Padre Manuel Teixeira, do livro-caderno Primórdios de Macau editado pelo Instituto Cultural de Macau em 1990, um texto sobre a origem da Pataca (dinheiro de Macau) e do Dólar (de Hong Kong e outros países):

PATACA E DÓLAR

Macau pataca 1906

Pataca de Macau de 1906

Inicialmente, foi cunhada em Espanha e, depois, no México. David Lopes explica a origem do nome: “O cunho de Carlos IV a figurar no verso – um escudo quartelado, com as armas de Leão e Castela e a coroa imperial, tudo entre as 2 colunas de Hércules, unidas em cima pela divisa latina plus ultra (a divisa de Carlos V  – e não IV – era “Plus ultra”, ou seja, “Mais além”. O imperador reduziu assim o antigo “Non plus ultra” = “Não mais além” – aludindo às conquistas durante o seu reinado) fez lembrar aos árabes o desenho e contorno das suas janelas; daí passarem a chamar-se bataca – moeda da janela.” Nós seguimos os árabes, alterando, no entanto, o b para p – pataca.

Como esta equivalia ao thaller austríaco, os anglo-saxões chamaram-lhe dólar; e, contemplando as duas colunas de Hércules no reverso, designaram-na com os nomes de “pillar dollar”.

Por seu turno, os chineses fixaram-se na cabeça do rei gravada no reverso da mesma e chamaram-lhe “cabeça do diabo” (kuai t’au ngan), pois é sabido que, para os chineses, os europeus eram os “diabos estrangeiros” (fan kuai lou). As patacas de Carlos IV eram chamadas “os quatro kông“; é que, na antiga escrita, o IV era representado por UB; os chineses tomaram estes números pelo seu carácter I (kông, isto é, trabalho) quatro vezes repetido.

Três raças, três mentalidades! Os árabes fixaram-se na imagem, semelhante a uma janela, e chamam-lhe bataca; os anglo-saxões, nas colunas, e designam-na “dólar do pilar” (pillar dollar); os chineses olharam para a régia cabeça e arrumaram-lhe com a “cabeça do diabo”!

Essa pataca mexicana pesava sete mases, dois condrins e sete caixas, ou seja, 26,06 gramas.

Em Xangai, a sei kông ngan (moeda dos quatro kông) manteve a sua superioridade até 1861, e valia mais um quinto que as outras; depois, depreciou-se.

Pataca de Macau de 1924

Pataca de Macau de 1924

Havia ainda uma pataca mexicana que, além das colunas, etc, ostentava a letra G ou G.a, denotando o lugar da cunhagem – Guadalajara, no México. Os chineses chamaram-lhe “pataca do gancho” (ngau-ch’in, isto é, ngau, gancho, e ch’in, moeda) pela semelhança desse G com o carácter ngau. Esta circulava com um desconto, às vezes de cinco por cento.

Os espanhóis chamavam à sua pataca “peso de à ocho reales”, “peso de plata”, “el duro.” O peso duro de oito reais exprimia o valor verdadeiro em prata; tratava-se da moeda por nós chamada pataca mexicana.

Após o estabelecimento dos espanhóis nas Filipinas, foi esta a moeda europeia mais comum e mais popular no Extremo Oriente. Peter Mundy, que visitou Macau em 1637, informa que, nesta cidade e em Cantão, o peso de oito reais valia sete mases e três condrins, ou sete mases e quatro condrins.

Os ingleses, nos seus domínios, chamavam à pataca “dólar mexicano”, para a distinguir do americano. Hoje, porém, esse nome foi substituído por “Hong Kong dollar”, “Singapore dollar”, etc. (Pe. Manuel Teixeira)

Hong Kong dollar 1959

Pataca de Macau de 1952

Pataca de Macau de 1952

Pataca de Macau de 1963

Pataca de Macau de 1963

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Autoria do blog-magazine

Rogério P. D. Luz, macaense-português de Macau, ex-território português na China, radicado no Brasil por mais de 40 anos. Autor dos sites Projecto Memória Macaense e ImagensDaLuz.

Sobre

O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.

Pesquise por tema e localidade (ordem alfabética)

Últimas 150 postagens

Estatísticas do blog

  • 1.531.207 hits

Monitoramento de visitas – contagem desde 01/Nov/2011

free counters

Postagens recentes: Blog do Projecto Memória Macaense

Dia de Macau – 24 de Junho de 2022 celebra 400 anos da maior derrota dos holandeses no Oriente, e Manuel V. Basílio nos conta como foi

Dia de Macau – 24 de Junho de 2022 celebra 400 anos da maior derrota dos holandeses no Oriente, e Manuel V. Basílio nos conta como foi

Hoje, 24 de Junho de 2022, comemora-se 400 anos de “A Maior Derrota dos Holandeses no Oriente” na sua tentativa de tomar Macau dos portugueses. Até a transição de soberania de Macau, de Portugal para a República Popular da China, em 20 de Dezembro de 1999, a data era comemorada como “DIA DE MACAU” ou “DIA DA […]

Macau: Bons tempos do Teatro Dom Pedro V recordados por Jorge Eduardo (Giga) Robarts

Macau: Bons tempos do Teatro Dom Pedro V recordados por Jorge Eduardo (Giga) Robarts

1 Aqueles bons tempos de Macau, que já não voltam mais, de peças teatrais com participação de macaenses, são recordadas por Jorge Eduardo (Giga) Robarts na sua página no Facebook. Com autorização do Giga, as imagens foram copiadas e editadas, inclusive seus textos. Fazem parte do seu acervo, bem como, partilhadas por seus amigos dessa […]

Duas histórias de Macau por Manuel V. Basílio: ‘A 1ª viagem portuguesa no sul da China’ e ‘O 1º acordo sino-português’

Duas histórias de Macau por Manuel V. Basílio: ‘A 1ª viagem portuguesa no sul da China’ e ‘O 1º acordo sino-português’

Nesta postagem, divulgamos duas histórias de Macau de autoria do Manuel V. Basílio, publicadas no Jornal Tribuna de Macau-JTM e que foram extraídas dos seus livros: A primeira viagem portuguesa no sul da China O primeiro acordo sino-português Nos artigos abaixo com os textos com ligação direta no JTM , clique em “continue reading” (continue […]

%d blogueiros gostam disto: