Manuel V. Basílio (Macau) nos conta mais uma interessante história da nossa Macau, antiga possessão portuguesa na China, que tem a ver com um templo chinês e os detalhes do bairro onde se encontra localizado, a Horta da Mitra, mais conhecida como “Chéok Châi Yün” em chinês cantonense:
O TEMPLO AO DEUS DA TERRA NO BAIRRO DA HORTA DA MITRA
texto, fotos e legendas de Manuel V. Basílio, e também imagens de Augusto do Rosário e Carlos Dias
O alfinete vermelho indica o lugar onde está o T’ou Tei Miu ou Fôk Tâk C’hi, do Bairro da Mitra, um templo dedicado ao Deus da Terra. O ícone azul, um pouco acima, indica a localização do Mercado Municipal da Horta da Mitra. Origem: Google Maps
O Bairro da Horta da Mitra fica mais ou menos limitado pelas Ruas do Noronha, Nova à Guia e da Colina e era pela Rua da Colina que até meados do século XIX corria um pano de muralha que subia da Porta do Campo, passando pelo Forte de S. João (localizado próximo da actual Travessa de S. João), até ao Forte de S. Jerónimo (no qual, nos anos 1900, havia umas casas onde funcionou o Observatório Meteorológico de Macau, antes de o morro ter sido aplanado e aproveitado para o alargamento das instalações do Hospital Conde S. Januário). Ficam situadas dentro deste Bairro as Ruas da Cal, da Mitra, da Surpresa, de Dezoito de Dezembro, Tomás da Rosa e parte das Ruas de Henrique de Macedo e Horta e Costa, as Travessas do Mercado Municipal e de S. João, bem como o Largo do Mercado Municipal e o Mercado da Horta da Mitra.
A Horta da Mitra (adiante, abreviadamente, a “Horta”) é ainda conhecida, em chinês, por “Chéok Châi Yün” (significando “Chéok Châi”, passarinho, e “Yün”, horta), ou seja, a Horta de Passarinhos. O caracter “yün” ( 園 ) tanto pode significar “jardim”, como “horta” ou “terreno com plantações”, dependendo do contexto em que esse caracter se insere ou a forma como é empregue. Como, naqueles tempos, grande parte daquela área era utilizada para cultivo de frutas e produtos hortícolas, por conseguinte, a designação mais apropriada seria horta e não jardim. O termo “jardim”, em chinês, resulta da combinação dos caracteres “fá yün” ( 花 園 ) e “fá” ( 花 ) , isoladamente, significa “flor”.
“… a quem pertenceu a Horta”
Não vamos aqui abordar, detalhadamente, a quem pertenceu a Horta, se pertenceu à Mitra (isto é, à Diocese), ou se a Mitra vendeu essa Horta a Francisco António Pereira Tovar, ou como essa Horta entrou na posse de Francisco Paulo Noronha (a quem é dedicada a Rua do Noronha, localizada no actual Bairro da Mitra), que em 1871 pediu ao governo uma indemnização pela expropriação da sua propriedade.
Sabe-se que, em meados do século XIX, parte da encosta da Horta da Mitra era ocupada por famílias chinesas, que viviam em barracas de óla, e que se dedicavam a plantações, bem como ao cultivo de vegetais e, diariamente, levavam os seus produtos a um largo, próximo do local onde actualmente começa a Rua da Colina, para serem vendidos, visto que ali funcionava um mercado ao ar livre, em que se vendia também carne e peixe, em condições pouco higiénicas.
Devido ao aumento da população que vivia em barracas naquela encosta, rapidamente construídas sem as mínimas condições, umas juntas às outras, gerou-se uma situação que favoreceu ao surgimento de uma catástrofe, ocorrida no dia 9 de Dezembro de 1865, como consta do seguinte relato: “No sábado à noite houve incêndio na povoação estabelecida no recinto da chamado Horta da Mitra. Soprando o vento do norte, e sendo de óla todas as barracas daquela pequena povoação, o incêndio depressa se desenvolveu, e apesar da prontidão dos socorros, não foi possível obstar a que as chamas devorassem cerca de 200 barracas. Às 11 horas da noite achava-se completamente extinto, tendo principiado o incêndio pelas 8 horas”.
Apesar do sucedido, muito não tardou para que ressurgissem das cinzas novas barracas, voltando a população a ocupar aquela encosta e a viver em construções precárias, com problemas de higiene e falta de saneamento básico. Assim, com o decorrer dos tempos, a Horta da Mitra tornou-se numa zona insalubre e era encarada como um latente foco de infecções. Perante esta situação, o então governador Tomás de Sousa Rosa ordenou o saneamento de toda aquela zona, cujo trabalho ficou a cargo das Obras Públicas, então dirigido pelo director José Maria de Sousa Horta e Costa (que mais tarde veio a ser nomeado, por duas vezes, Governador de Macau, em 1894 e em 1900).
Antigo mercado da Mitra, cujo modelo arquitectónico é idêntico ao que existiu na Rua do Cunha, Taipa
Planeou-se então a construção de um novo bairro, com a abertura de seis ruas longitudinais e cinco transversais, tendo as barracas ou casebres sido demolidos, para dar lugar à construção de casas de pedra e cal, em cujas ruas foi lançada uma rede de esgotos a ligar ao grande cano, existente na Rua do Campo e, seguidamente, a partir de 1885, as ruas foram sendo calçadas. Com a realização daquelas obras de melhoramento, a insalubridade naquela zona ficou praticamente extinta. Além disso, havendo necessidade de encerrar o mercado ao ar livre, que não dispunha das requeridas condições de higiene, construiu-se um mercado com cobertura, apenas suportada por colunas, sem paredes à volta. Esse mercado durou até finais dos anos 30 do século passado, altura em que foi demolido, tendo então sido construído o actual mercado, concluído em 1939 e inaugurado no ano seguinte.
Lápide existente numa das paredes do Mercado Municipal da Mitra, em que está assinalado o ano da construção e também a data da inauguração. Foto M.V. Basílio
Templo “Deus da Terra”
Aquando da abertura das novas vias públicas do Bairro da Mitra, já lá existia um altar ou pequeno templo dedicado a “deuses penates”, ou “deus da terra”, como é actualmente designado, o qual teve de ser demolido, devido ao alinhamento da rua principal do Bairro. Existem em Macau vários templos ao Deus da Terra ou “T’ou Tei Miu” ( 土 地 廟 ), também conhecido por “Fôk Tâk Ch’i” ( 福 德 祠 ), sendo o do Patane o maior que existe em Macau, além de “altares de rua”, que podemos encontrar em bairros ou em certas vias públicas da zona velha da cidade, ou então mini altares colocados junto à entrada de casas, visto que o Deus da Terra é muito venerado pela comunidade chinesa, por acreditar que possui poderes para proteger a saúde e a família.
Templo ‘Deus da Terra’. Pela porta abobadada, entra-se ao pátio do Templo. O altar fica ao fundo do lado direito. Foto M.V. Basílio
Decerto não teria sido do agrado dos moradores a demolição daquele pequeno templo ou altar na Horta da Mitra. No entanto, quem deu ordens de demolição, também procurou remediar o mal necessário, porquanto mandou, em seguida, construir um novo templo para o gáudio dos moradores. O novo templo ficou concluído e inaugurado em Maio de 1886 (correspondente à Quarta Lua do Ano 12 do reinado de 光 緒 ( Kóng Sôi ou Guangxu), como atesta uma lápide, inscrita em português e em chinês, incrustada no canto superior do lado esquerdo da parede do átrio do templo, com os seguintes dizeres:
HAVIA ANTIGAMENTE NA HORTA DE MITRA UM PAGODE DE DEOSES PENATES QUE FOI DEMOLIDO QUANDO NELLA SE ABRIRAM VIAS PÚBLICAS.
FELIZMENTE SUA EXA. O GOVERNADOR ROZA, PELA CARIDADE E BENEVOLÊNCIA QUE O ANIMA, MANDOU RECONSTRUIR ESTE PAGODE DE DEOSES PENATES NO LOCAL ONDE ACTUALMENTE SE ACHA COLLOCADO E OS MORADORES DA HORTA DE MITRA, GRATOS POR ESTE FAVOR, E NÃO TENDO OUTROS MEIOS DE TESTEMUNHAR SUA GRATIDÃO, MANDARAM GRAVAR ESTA INSCRIPÇÃO PARA TRANSMITTIR AOS MORADORES A MEMÓRIA DESTE BENEFÍCIO FEITO AO POVO.
QUARTA LUA DO ANNO 12 DE QUON SU
MAIO DE 1886
Lápide colocada no átrio do Templo para testemunhar a gratidão dos moradores ao Governador Tomás de Sousa Rosa, por ter mandado construir um novo Templo, inaugurado em Maio de 1886. Foto M.V. Basílio
De salientar que esta lápide, com inscrição bilingue, é a única que existe num templo chinês em Macau, atestando desta forma o seu valor histórico, pela homenagem feita a um Governador de Macau, que ainda viu a conclusão da obra, porquanto, após ter sido exonerado daquele cargo, apenas embarcou para Lisboa, meses depois, no dia 23 de Agosto de 1886. Também em homenagem ao Governador Tomás de Sousa Rosa, foi dado, no ano seguinte, em 20 de Janeiro de 1887, o seu nome à rua principal do Bairro da Mitra, onde se encontra localizado o dito Templo. A Rua de Tomás da Rosa começa na Rua do Campo, entre os prédios 280 e 290, e termina na Rua Nova à Guia, entre os prédios 190 e 200 e esta Rua tem uma característica muito peculiar, pois tem 9 lanços de escadas de pedra, com 8 degraus em cada lanço, perfazendo, assim, um total de 72 degraus, que vão desde a Travessa do Mercado Municipal até à Rua Nova à Guia. É a escadaria mais longa, inserida numa via pública, em Macau, além de ter o auspicioso número 9 (ou seja, 9 lanços de escadas e 72 degraus, sendo que 7 e 2 também somam 9), bem como o número 8 (8 degraus em cada lanço, que multiplicando por 9 lanços, perfazem o total de 72 degraus). Na numerologia chinesa, o 8 e o 9 podem ter vários significados, designadamente, o de prosperidade, fortuna ou riqueza para o número 8, e o de longevidade ou durabilidade para o número 9. Teriam sido estas particularidades intencionalmente planeadas e executadas por mestres de obra chineses, por questão de “fông sôi” (fengshui) ou por outro motivo? Só demos conta destes pormenores depois de galgarmos todos os degraus, contando-os um a um, bem como os respectivos lanços.
Troço da Rua de Tomás da Rosa, que vai da Travessa do Mercado Municipal à Rua Nova à Guia. A escadaria que se vê na foto tem 9 lanços e, em cada lanço, há 8 degraus, perfazendo, assim, o total de 72 degraus. Foto M.V. Basílio
O estilo e detalhes do templo ‘Deus da Terra’
Embora o Templo tenha sido restaurado em 2005, as características arquitectónicas mantêm-se, pois a estrutura deste templo é essencialmente do estilo de Leng Nam ou Lingnan, estando a parte superior das paredes encimada por balaustradas verdes vidradas e ornamentada com florais, o que demonstra a típica fusão entre elementos chineses e ocidentais.
Os caracteres 福德祠 (“Fôk Tâk Ch’i”), dispostos na forma clássica, isto é, da direita para a esquerda, no topo da entrada abobadada. Foto M.V. Basílio
Transpondo a entrada abobadada, podemos ver, do lado direito do pátio, um altar e, do lado esquerdo, uma porta, por cima da qual estão gravados os caracteres 公 所 (kông só), a qual dá acesso a uma sala pública, para fins administrativos e outros fins. Na parede do lado esquerdo, mais ou menos à altura da letras “kông só”, podemos então contemplar a referida lápide, com inscrições em português e em chinês (foto abaixo), pintadas a ouro.
Na parede do lado esquerdo, junto à porta que dá acesso à sala pública, pode-se ver uma lápide com inscrições em português e em chinês, cujas letras estão pintadas a ouro. Foto M.V. Basílio
O Templo é dedicado a “Fôk Tâk Cheng Sân” ( 福 德 正 神 , o Deus da Felicidade e da Virtude, também conhecido por Deus da Terra), no qual estão expostas imagens de outras divindades e, ainda, diversos objectos de culto e decorativos, doados por moradores do bairro. Diariamente, moradores devotos, quando passam pelo Templo, não deixam de lá entrar para fazer uma vénia ou prece ao “T’ou Tei Yé Yé” (uma forma de saudação mui carinhosa ao Deus “Yé Yé” da Terra, ou seja, Deus “Vovô ou Avozinho” da Terra), ou para acender pivetes ou incensos, ou então para depositar oferendas. O Deus da Terra é representado pela imagem de um ancião com um sorriso afável, podendo estar acompanhado de uma anciã, também sorridente e afectuosa, que lhe chamam “T’ou Tei P’ó P’ó” ( 土 地 婆 婆 ) , significando “P’ó P’ó” a “vovó ou avozinha”).
Um aspecto, em pormenor, do altar, estando o Deus “Vovô” da Terra, no lado direito, e a “Vovó”, no lado esquerdo.. Foto M.V. Basílio
A festividade em honra ao Deus da Terra
A festividade em honra ao Deus da Terra é celebrada anualmente no segundo dia do segundo mês do calendário lunar. Para esta celebração, montam uma enorme estrutura de bambú, com um palco ao lado do templo, e um troço da Rua de Tomás da Rosa até próximo da Travessa do Mercado Municipal é coberto com um toldo. As celebrações prolongam-se por vários dias e, durante esse período, as ruas que convergem ao templo são engalanadas com grinaldas de vários tamanhos e dedicatórias alusivas à festividade, ostentando também bandeiras e flâmulas a desfraldar ao vento. Durante o período da festividade, moradores e apreciadores da ópera cantonense vão ali juntar-se, sobretudo ao fim da tarde ou no período da noite, para conviver e assistir às actuações de actores, convidados para o efeito. No próprio dia da festividade do Deus da Terra, celebram-se os rituais religiosos do costume, incluindo o “pái sân” ( 拜 神 ) , cerimónia de adoração aos deuses ou ídolos), queimam-se pivetes de vários tamanhos e fazem-se oferendas, para expressar graças ao Deus da Terra ou pedir a bênção da sua protecção, não faltando também o estralejar de panchões, a dança de leões e outras exibições. À noite, para encerramento da festa, realiza-se um jantar de ementa chinesa, servido em dezenas de mesas dispostas na rua principal e nas ruas transversais, destinado a residentes do bairro, incluindo antigos residentes que regressam ao bairro para prestar homenagem ao deus protector, e os que têm mais de 60 anos de idade participam gratuitamente no jantar, a convite da Comissão Organizadora, durante o qual os convivas vão partilhando alegria num fragoroso ambiente festivo e de grande animação, a perdurar pela noite dentro.
O porco assado, depois de “pái sân” (adoração a deuses), é cortado em pedaços e distribuído a participantes dessa cerimónia. Foto Augusto do Rosário
(clicar nas fotos menores para ampliar e/ou passar o mouse/rato sobre elas para ler as legendas)
O templo ‘Deus da Terra’
Aspecto exterior do Templo, vendo-se uma velhinha a fazer uma oferenda ao Deus da Terra. Foto M.V. Basílio
Balaustradas verdes vidradas e florais, utilizados como motivos decorativos. Esta simbiose de elementos chineses e ocidentais é característico no estilo de Leng Nam ou Lingnan. Foto M.V. Basílio
Um bolo depositado na mesa de sacrifício para significar uma oferenda ao Deus “Vovô” da Terra. Foto M.V. Basílio
Bairro Horta da Mitra ou “Chéok Châi Yün”
Um aspecto da Rua de Tomás da Rosa, vendo-se, ao fundo, uma escadaria que sobe até à Rua Nova à Guia e, no canto da rua do lado direito, o Templo dedicado ao Deus da Terra. Foto M.V. Basílio
O mais vulgar modelo de um mini altar dedicado ao Deus da Terra, geralmente colocado junto à porta de entrada de moradias. Foto M.V. Basílio
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Não poderia este blogue deixar de fazer mais um registo histórico de uma tradição mantida na Macau do ano de 2023, hoje, território da República Popular da China. Assim, o nosso colaborador, Manuel V. Basílio, macaense residente em Macau, nos dá o relato, com fotos, sobre a procissão de Nossa Senhora de Fátima realizada no […]
No Anuário de Macau do ano de 1962, nas páginas finais, vários anúncios publicitários encontravam-se publicados, os quais, reproduzimos abaixo para matar as saudades de quem viveu aquela época de ouro, ou então, para curiosidade daqueles que possam se interessar em conhecer, um pouco mais, aquela Macau de vida simples, sem modernidade, mas, mais humana.
Páginas digitalizadas do Anuário de Macau, Ano de 1962, o que aparentemente foi o último da série, ficamos aqui a conhecer quem eram as pessoas que ocuparam cargos no – Governo da Província e Repartições Públicas. Mesmo passados mais de 60 anos, agora que estamos na década com início em 2020, muitos nomes ainda estão […]
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