PROCISSÃO DO CORPO DE DEUS
Texto e fotos de Manuel V. Basílio (Macau)
A festa do Corpo de Deus, ou Corpus Christi, ou mais precisamente, a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, é celebrada na quinta-feira seguinte ao Domingo da Santíssima Trindade, cuja origem remonta ao século XIII.
Em Portugal, a festa do Corpus Christi começou a ser celebrada em 1282, por ordem do rei D. Dinis. Desconhecemos em que ano ou época se iniciou a celebração desta festa em Macau. No entanto, Montalto de Jesus, no seu livro Macau Histórico, relata este incidente, ocorrido no tempo do Governador Ferreira do Amaral: “A 7 de Junho de 1849, a procissão de Corpus Christi, revestida de pompa da Igreja e do Estado, seguia pelas ruas de Macau, quando, no meio da multidão, um desconhecido que assistia à celebração, de uma proeminente e vantajosa posição, desafiou o uso dos países católicos romanos em tais solenidades, mantendo o chapéu posto, porque era protestante – James Summers, professor da Escola Colonial Chaplain, de Hong Kong. Vários cavalheiros protestantes que, por cortesia, mantinham a cabeça descoberta ordenaram-lhe que retirasse como os outros o chapéu, se quisesse evitar consequências desagradáveis. Mas ele preferiu ver o espectáculo e exibir o seu fanatismo. Um padre que passava pediu-lhe educadamente que tirasse o chapéu ante a hóstia que se aproximava e, ao ser ignorado, chamou a atenção de Amaral, que mandou uma ordenança com o mesmo pedido, tendo o dito personagem mantido a recusa. Por ordem de Amaral, Summers foi, por isso, detido e encarcerado na casa da guarda”. Seguiu-se um periodo de negociações para a libertação de Summers. Após várias discussões, sem resultados, os ingleses conceberam um plano e conseguiram entrar na sala do Senado, e o cabo que estava de folga e que deu o alarme foi logo morto. Em seguida, desarmaram a sentinela e feriram 3 guardas, conseguindo, assim, libertar Summers da prisão e levá-lo a um barco a remos, pertencente a uma frota inglesa, ancorada ao largo de Macau. Gerou-se então uma questão diplomática, que teve de ser resolvida entre Lisboa e Londres.
Pelo que sabemos, a procissão de Corpo de Deus não se realizou com regularidade em Macau, tendo havido interrupções, designadamente após a implantação da República, em 1910. A partir de então a Solenidade deixou de percorrer as ruas desta cidade, remetendo-se ao interior de igrejas. Depois de um período de interrupção, a procissão regressou às ruas, voltando a ser interrompida nos anos 70, mais concretamente a partir de 1974, talvez motivada por situações ocorridas em Portugal, na sequência da Revolução dos Cravos.
Após décadas de interrupção, este ano, por decisão do Bispo da Diocese, a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo voltou a ser celebrada, com a procissão a sair da Sé Catedral, nesta tarde do dia 18 de Junho, pelas 15H15, tendo percorrido o Largo e Rua da Sé, descido pela Travessa do Roquete, e seguindo depois pelo Largo do Senado até ao Largo de S. Domingos. Ali, o Santíssimo Sacramento foi levado para dentro da igreja, seguido de muitos fiéis, onde se fez uma benção solene. Em seguida, o cortejo saiu novamente para o Largo, dirigindo-se de regresso para a Sé Catedral, pela Travessa do Bispo. Diversamente de outras procissões, o andor que carregava o Santíssimo foi transportado durante todo o percurso apenas por sacerdotes.
Esta manhã, estávamos com receio de que a procissão não se realizasse, porque o tempo estava chuvoso. Felizmente, à hora em que fomos à igreja, a chuva abrandou e quando a procissão saiu, nem sequer uma pinga caiu do céu. No entanto, no início da noite, a chuva voltou a cair. Graças a Deus, a procissão realizou-se!
O Santíssimo Sacramento foi levado para dentro da Igreja de São Domingos, seguido de muitos fiéis, onde se fez uma benção solene. Foto M.V. Basílio
Em seguida, o cortejo saiu novamente para o Largo de São Domingos, dirigindo-se de regresso para a Sé Catedral, pela Travessa do Bispo. Foto M.V. Basílio
Diversamente de outras procissões, o andor que carregava o Santíssimo foi transportado durante todo o percurso apenas por sacerdotes. Foto M.V. Basílio
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Hoje, 24 de Junho de 2022, comemora-se 400 anos de “A Maior Derrota dos Holandeses no Oriente” na sua tentativa de tomar Macau dos portugueses. Até a transição de soberania de Macau, de Portugal para a República Popular da China, em 20 de Dezembro de 1999, a data era comemorada como “DIA DE MACAU” ou “DIA DA […]
1 Aqueles bons tempos de Macau, que já não voltam mais, de peças teatrais com participação de macaenses, são recordadas por Jorge Eduardo (Giga) Robarts na sua página no Facebook. Com autorização do Giga, as imagens foram copiadas e editadas, inclusive seus textos. Fazem parte do seu acervo, bem como, partilhadas por seus amigos dessa […]
Nesta postagem, divulgamos duas histórias de Macau de autoria do Manuel V. Basílio, publicadas no Jornal Tribuna de Macau-JTM e que foram extraídas dos seus livros: A primeira viagem portuguesa no sul da China O primeiro acordo sino-português Nos artigos abaixo com os textos com ligação direta no JTM , clique em “continue reading” (continue […]
No meu tempo de estudante, os Bispos eram muito+ velhos do que o atual, que não deve ter + de 55 anos. Se o meu prognóstico acertar, então se confirma uma vez mais, que o mundo deu uma grande reviravolta…
Olá Giga, já tem seus 61 anos e era Bispo Auxiliar de Hong Kong, sendo nomeado pelo Vaticano para Macau. Abraço