Caros leitores(as), aqui uma crónica (crônica) que fala de forma fantasiosa e resumidamente desta raça macaense, em vias de extinção, não tão para já, mas com base na história do que teria sido real. Assim não leve tão a sério o que está escrito e nem se exalte, pronto para meter a faca e críticas ao autor, certo? Vai dizer que esse Rogério gosta de criar encrencas, como uns me acham assim!!! O texto mistura lá o português falado em Portugal e no Brasil, às vezes uma bagunça, uma tarefa complicada para o autor residente em território brasileiro de onde vem a maioria dos visitantes deste blog. ‘Tá meio bagunçado mesmo. Se a crónica contribui, se realmente contribui, você que o diga, para falar um pouco da nossa gente fruto da presença portuguesa em Macau por cerca de 440 anos, enfim, para falar “ser macaense”, é um pouco disso aí, mas há muito o que falar. Inspirei-me e pensei no texto em plena madrugada quando custou um pouco para pegar o sono de novo! Abraços, Rogério P D Luz
Para início de conversa, Macau não seria Macau se os portugueses não tivessem pisado no território lá no século XVI, o mesmo período em que chegaram ao Brasil. Ponto!
Foram ficando, ficando, uns negócios aqui e acolá, bom para os chineses do pequeno povoado condenado a ser mais um das milhares parecidos na China. Provavelmente seria hoje apenas uma cidade chinesa comum como as vizinhas, com inúmeros prédios mas sem a personalidade deixada pelos portugueses, fato que a presença não foi imposta, nem conquistada como os ingleses em Hong Kong por conta da exigência na Guerra do Ópio. Por tudo isso, dizem que não é para chamar Macau de antiga colónia (colônia) portuguesa, mas melhor chamá-la de território. Nos tempos de Salazar, era uma província ultramarina de Portugal.
Neste “fica fica”, os portugueses acabaram obtendo autorização do imperador chinês para lá ficar e desenvolvê-la. Óptimo, diriam os portugueses e os chineses que na sua sabedoria secular sabem bem selecionar o que lhe é útil sem patriotada. Aí, as chinesinhas eram meigas, um jeito feminino que lhe é peculiar e que até hoje atrai muitos ocidentais. Os gajos marinheiros e comerciantes atraídos pela seda não eram bobos nem tontos e nem cegos, e logo aparecem uns putinhos/as (meninos/as) com feições mestiças de china/portuga, fora que outros gajos que trouxeram suas esposas e também geraram filhos no terra que São João abençoaria no futuro, por ocasião da falida invasão holandesa que não poupou o Brasil.
Acontece que esses jovens não foram estudar em escolas chinesas, não senhora, mas sim em escolas portuguesas e falavam português, talvez até proibidos de falar o chinês. Assim, como o território chamava-se Macau, então esses novos gajos, além de portugueses teriam que ser chamados de um outro nome , de uma raça de gente lá nascido. Vai que um ilustre cidadão, que a história esqueceu de anotar seu nome nos registros, pensou: seria macauense, o que seria certo tal como Macau+ense, mas não seria melhor abreviar? Então raciocinou: Maca+ense, que ficaria mais simples de pronunciar sem que o “u” ficasse muito acentuado.
Daí ao longo dos anos, essa nova raça em Macau, o macaense, começava a se diferenciar dos chineses, que orgulhosamente e simplesmente se chamavam de “chineses de Macau” e se alguém os chamasse de macaenses, diriam logo: “tiu ah” (fod_-s_), somos “ou mun chai” (filhos da terra). Provavelmente achavam que era um palavrão (asneira) e julgo que até hoje, muitos chineses nem sabem pronunciar ou nem sabe o que é macaense! Uns cidadãos até querendo fazer uma média com os chineses, chamava-os de ‘macaense’ e logo recebiam um “tiu ah“, hehehe …
Essa nova raça, macaense, cheio de estilo, falava português para china não entender e até que ensaiavam umas palavras em chinês no comércio, pois como iriam comprar “char siu” ou “vá mui” com o china da esquina. Poderiam até levar “siu háp” e “kéon” no lugar daqueles itens, sem perceber! Ora bolas … hehehe.
Com o tempo, foram estabelecendo umas regras para determinar quem era macaense e quem não era “a nossa malta“. Até foram democráticos, diria eu, pois admitiram que para ser da malta, poderia ser de outra mistura de raças, ou o chinês que adotou o nome português que na minha época diziam de “baptizado”, mas não era unanimidade. As rixas entre os próprios macaenses eram frequentes, pois as rivalidades originariam entre aqueles que eram dessa ou aquela escola ou bairro, sem falar que se viam situações que chegavam “às vias de fato” com aqueles que por infortúnio tiveram que abandonar a hoje próspera Xanghai por conta da revolução chinesa. Conta uma piada que se no universo existisse apenas dois macaenses, seguramente eles passariam o tempo todo a discutir por divergência pessoais.
Até Dezembro de 1999, com o Rocha Vieira ainda a governar Macau como o último governador português da história de 440 anos, o nascido no território nas condições que você leu acima, desde que não tenha pulado de parágrafo, tinha a sua naturalidade anotada nos registros como Macau – Portugal, tal como vejo no meu bilhete de identidade de estrangeiro emitido no Brasil. Hoje, seguramente, constaria, para quem nasceu após 20 de Dezembro de 1999 como Macau – China. Isto é o começo de uma nova história dos macaenses, e se, ao longo do tempo continuariam a se chamar de macaenses aqueles nascidos no território já chinês e que perderiam o elo português, se ainda saberiam falar o idioma no futuro? Talvez pela minha idade não viveria para ver essa transformação ou o fim de uma raça que se formou ao longo dos 440 anos de Portugal na China.
Caros amigos(as), Ser Macaense é além da consciência da história de formação da sua raça, é também ter o sentido de preservação, pois no futuro isso cairá em desuso. Assim aproveite para ser macaense enquanto pode. Seguramente, os últimos sobreviventes ouvirão dos filhos em chinês “pára (para) com isso de macaense, é o passado, Portugal já foi embora há muito tempo“. Provavelmente não saberão como se definir, ou se chamarão simplesmente de “chineses de Macau“, pois com o tempo e a partida para o além daqueles que ainda carregam aquela mistura de raças acabará prevalecendo apenas a raça chinesa. É um processo normal de vida, só ver as Malacas ex-portuguesas ou até a Índia ex-portuguesa onde ainda poderá ter bons resistentes de quem ainda tem aquele espírito lusitano, mas poucos, muito poucos!
É isso aí, e assim caminha a humanidade! Numa outra crónica ainda falarei mais sobre este negócio de Ser Macaense, ou o tal Orgulho, se não tiverem lido isto na minha entrevista ao boletim A Voz da ADM, mas mesmo assim, há muito o que se falar. Sei que vão dizer que esta explanação fantasiosa está incompleta, e está mesmo, mas vale para uma crónica sem consequências!
À memória do meu irmão Álvaro (da direita), com os amigos Virgílio Mendonça e Frederico Martins, em Macau, anos 60.
Primeiro cd da Tuna Macaense. Anteriormente, em 1980, com outra formação, foi lançado um cassete do grupo.
(imagem obtida do site http://www.atividades-educativas.net
o autor deste blog à direita e esposa Mia com o nobre escritor macaense Henrique Senna Fernandes, mais Júlio Branco e Alex Airosa, em São Paulo.
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Hoje, 24 de Junho de 2022, comemora-se 400 anos de “A Maior Derrota dos Holandeses no Oriente” na sua tentativa de tomar Macau dos portugueses. Até a transição de soberania de Macau, de Portugal para a República Popular da China, em 20 de Dezembro de 1999, a data era comemorada como “DIA DE MACAU” ou “DIA DA […]
1 Aqueles bons tempos de Macau, que já não voltam mais, de peças teatrais com participação de macaenses, são recordadas por Jorge Eduardo (Giga) Robarts na sua página no Facebook. Com autorização do Giga, as imagens foram copiadas e editadas, inclusive seus textos. Fazem parte do seu acervo, bem como, partilhadas por seus amigos dessa […]
Nesta postagem, divulgamos duas histórias de Macau de autoria do Manuel V. Basílio, publicadas no Jornal Tribuna de Macau-JTM e que foram extraídas dos seus livros: A primeira viagem portuguesa no sul da China O primeiro acordo sino-português Nos artigos abaixo com os textos com ligação direta no JTM , clique em “continue reading” (continue […]
Por ter vivido cerca de 50 meses em Macau, onde me nasceu um filho, este artigo foi lido com interesse. Conforme ia lendo ia-me recordando dos Goeses que ainda hoje resistem. Os Macaenses também vão perdurar, creio. Ainda me recordo do sr Henrique da Senna Fernandes e respectiva família. Força Macaenses.
Obrigado Xavier pelo comentário. A expectativa na crónica seria a longo prazo, embora a torcida é para que o prazo seja ainda bem maior. Ainda há uma geração de pré-transição ainda viva e pode dar um bom fôlego, mas conforme relatos, dá para sentir nuns novos o modo de ver Macau e a forma de sentirem-se cidadãos do território.