Cronicas Macaenses

Blog-foto-magazine de Rogério P D Luz

Macau: Igreja, Largo e Rua de São Domingos

IGREJA, LARGO E RUA DE SÃO DOMINGOS

no coração do Centro Histórico de Macau

texto, fotografias e legendas de Manuel V. Basílio (Macau)

  • Macau foi um território português na China por cerca de 440 anos até ser devolvido em 1999

Reza a história que em 1587 vieram para Macau, provenientes do porto de Acapulco, no México, os dominicanos espanhóis António de Arcediano, Alfonso Delgado e Bartolomeu Lopes e que, pouco depois de terem chegado, fundaram a Casa de Santa Maria do Rosário e construíram uma capela, dedicada a Nossa Senhora do Rosário, com tábuas de madeira ou tabique (1). Os chineses deram então ao templo o nome “Pán Cheong T’óng” (“Pán Cheong”, tabique (2) e, “T’óng”, templo ou igreja). No entanto, a igreja de S. Domingos desde há muito que é designada, em chinês, por “Mui Kwâi T’óng” (“Mui Kwâi”, rosa (3), e “T’óng”, templo ou igreja), mantendo-se, entretanto, apenas na toponímia, o termo “pán cheong t’óng” nas designações do Largo de S. Domingos (Pán Cheong T’óng Ch’in Tei), Rua de S. Domingos (Pán Cheong T’óng Kái), e Travessa de S. Domingos (Pán Cheong T’óng Hóng).

Igreja de S. Domingos e Largo de S. Domingos, localizados no coração do Centro Histórico de Macau

Consta que a primeira igreja de arquitectura ocidental foi construída anos após os dominicanos espanhóis terem sido obrigados a sair de Macau e os bens que deixaram passaram a ser administrados por dominicanos portugueses. Só mais de um século depois, por iniciativa de frei José da Cruz, a igreja foi reedificada, e depois, em 1828, foi feita nova reedificação, passando a fachada a ter a actual configuração.

Em 1834, com a extinção e expulsão de todas as ordens religiosas no ultramar português, o Convento anexo à igreja ficou incorporado na Fazenda Nacional e tempos depois passou a ser usado como quartel de militares e, subsequentemente, adaptado para instalações de diversos serviços, nomeadamente Direcção de Obras Públicas, Corpo de Bombeiros e Estação Central dos Telefones.

Aspecto do antigo Convento dos Dominicanos de Nossa Senhora do Rosário, anexo à Igreja de S. Domingos. O edifício do Convento foi expropriado pelo governo depois da expulsão das ordens religiosas no ultramar português, em 1834, tendo subsequentemente servido para instalações de diversos serviços, o último dos quais foi a Inspecção de Incêndios e Telefones, até 1918 e, depois de desocupado, foi demolido por ameaçar ruína (foto baixada do blogue nenotavaiconta).

Em 1867, esteve ali instalado o Corpo de Polícia de Macau e, posteriormente, a Inspecção de Incêndios e Telefones, até 1918. Por falta de devida manutenção, depois de muito uso e desgaste, o Convento teve que ser demolido, quando já ameaçava ruína, restando presentemente a actual igreja, com parte do claustro do antigo Convento e a zona da torre sineira.

O claustro que restou do antigo Convento dos Dominicanos. Ao fundo, é a zona sineira da igreja, onde está instalado um museu – o Tesouro de Arte Sacra, inaugurado em 1997

A igreja de São Domingos, cujo nome completo é Igreja do Convento dos Dominicanos de Nossa Senhora do Rosário, é um belo e majestoso edifício, com uma esplêndida fachada marcada por vários elementos decorativos e frisos delicados em estuque pintado a branco sobre fundo amarelo-ocre, colunas de inspiração coríntia e janelas pintadas a verde com persianas. O interior da Igreja está dividido em três secções por duas filas de colunas, ligadas por arcos.

O interior da Igreja está dividido em três secções por duas filas de colunas, ligadas por arcos

No centro do altar-mor, há uma imagem de Nossa Senhora do Rosário, ladeada, do lado esquerdo, pela imagem de São Domingos, o fundador dos dominicanos, e do lado direito, pela imagem de Santa Catarina de Sena, uma das padroeiras da Diocese de Macau.

Altar-mor da igreja de S. Domingos

No centro do altar-mor, está a imagem de Nossa Senhora do Rosário, ladeada, do lado esquerdo, pela imagem de São Domingos, o fundador dos dominicanos, e do lado direito, pela imagem de Santa Catarina de Sena, uma das padroeiras da Diocese de Macau

Num nível mais abaixo, vê-se a Cruz da Ordem de São Domingos e, no topo, está uma imagem do Sagrado Coração de Jesus. No tecto, está pintado um emblema da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário.

No tecto, está pintado um emblema da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário

Tempos houve em que a igreja de S. Domingos funcionou provisoriamente como Sé Catedral, nomeadamente após o edifício da Sé ter ficado arruinado com a passagem de um violento tufão, em 5 de Agosto de 1835. A nova Sé Catedral levou quase 15 anos para ser totalmente reconstruída e só em 1850 é que voltou a reabrir ao culto.

É na igreja de S. Domingos que se celebra anualmente a Novena de Nossa Senhora de Fátima e, a 13 de Maio, sai desta igreja a Procissão de Nossa Senhora de Fátima (4), cuja imagem é levada até à Ermida de Nossa Senhora da Penha, acompanhada por inúmeros fiéis. O culto à Nossa Senhora de Fátima é já uma tradição local, mantida desde 1929 (5).

Procissão de N. S. Fátima, a 13 de Maio de 2016, a sair da igreja de S. Domingos

Em princípios dos anos noventa do século passado, a igreja de S. Domingos encontrava-se em mau estado de conservação e carecia de obras urgentes. Foi então que a igreja foi completamente restaurada e só foi reaberta em 23 de Novembro de 1997, tendo ainda sido inaugurado, naquele ano, o Tesouro de Arte Sacra (6), um museu instalado na zona da torre sineira da igreja, após as devidas adaptações.

Placa alusiva à inauguração da igreja, após o restauro, em 1997

A Igreja de São Domingos está incluída na Lista dos Monumentos Históricos do “Centro Histórico de Macau”, bem como na Lista do Património Mundial da Humanidade da UNESCO.

Placa toponímica do Largo de S. Domingos, afixada na parede da fachada da igreja

LARGO DE S. DOMINGOS

Embora o Largo de S. Domingos não seja enorme, é suficientemente espaçoso, por onde circulam diariamente muitas pessoas, sendo ali um ponto de interligação entre o Largo do Senado e a Rua de S. Domingos, estando esta rua em comunicação directa com a Rua de Pedro Nolasco da Silva, que vai ligar à Rua do Campo. Outrora, o percurso que ia desde o Largo do Senado até onde terminava a Rua do Hospital (7), chegou a ser a rua principal de Macau, onde viviam abastados negociantes e onde diversas firmas estrangeiras tinham a sua sede comercial, e teria sido esta “rua principal” que ficou conhecido, em chinês, pelo nome “OU MUN KÁI”, ou seja, a “Rua de Macau”. Hoje em dia, apesar de a área territorial de Macau ter expandido imenso comparativamente ao passado, o termo “Ou Mun Kái” continua a ser usado por muitos chineses para designar Macau. Por se situar no coração da cidade, tanto o Largo do Senado como a Rua de S. Domingos continuam a ser uma zona de muito movimento, pois todos os dias e sobretudo nos fins de semana ou em dias feriados, inúmeros visitantes por lá circulam, a ponto de aquele percurso se tornar quase intransitável.

Largo de S. Domingos, em Novembro de 2018. A artéria do lado esquerdo é a Rua de S. Domingos

A tradição comercial, principalmente nas imediações do Largo de S. Domingos, já vem de séculos passados. Outrora, aquela zona fazia parte do chamado Bazar Chinês. Há vários desenhos de George Chinnery em que se pode ver o comércio de rua, junto à Igreja de S. Domingos, com vendilhões ali instalados.

Desenho de George Chinnery, em que se vê parcialmente a fachada da igreja de S. Domingos, bem como o Convento anexo à igreja e, ainda, muitos vendilhões instalados no Largo de S. Domingos

Comércio de rua, com vendilhões instalados junto à igreja de S. Domingos. Desenho de George Chinnery, no ano de 1836

Do Largo, passando pela Travessa do Soriano, mesmo junto do Mercado de S. Domingos, vai-se à Rua dos Mercadores, outra via comercial também muito movimentada. Ou então, indo pela Rua de S. Domingos, a partir da igreja, e virando depois à esquerda, logo na primeira via, entra-se na Rua da Palha, por onde normalmente transitam muitas pessoas, sobretudo quando os visitantes pretendem chegar às Ruínas de S. Paulo. Apesar dos grandes empreendimentos, efectuados pelas actuais concessionárias de casinos, quer em Macau, quer na Taipa, com excelentes “resorts”, “shoppings” e outros equipamentos à “Las Vegas”, o coração da cidade continua a pulsar com vigor e saudavelmente.

Placa toponímica da Rua de S. Domingos, um modelo adoptado antes da transição de soberania e que ainda não foi substituído pelo actual modelo.

A RUA DAS MARIAZINHAS

Durante décadas, sobretudo na segunda metade do século XX, o troço da Rua de S. Domingos, que ia junto da Travessa do Bispo até ao começo da Rua de Pedro Nolasco da Silva, ou seja, no ponto onde entronca com a Calçada das Verdades e o Beco da Arruda, era conhecido por “Rua das Mariazinhas”.

Outro aspecto da Rua de S. Domingos, visto junto da Travessa do Bispo. Ao fundo, onde está a circular um veículo automóvel de cor escura, é o ponto em que termina a Rua de S. Domingos.

Troço da Rua de S. Domingos, que durante décadas ficou conhecido por “Rua das Mariazinhas”. Esta foto foi feita no local onde termina a Rua de S. Domingos, ou seja, no ponto em que entronca com a Calçada das Verdades (no lado direito) e o Beco da Arruda (no lado esquerdo)

O primeiro estabelecimento conhecido por Mariazinha estava localizado na Rua de S. Domingos nº 22-B, o qual ostentava na tabuleta, bem como nos seus sacos de compras, o dístico comercial “YENG WA Mariazinha”, uma loja que vendia perfumes, cosméticos, produtos de higiene, brinquedos e bijutaria. No lado oposto da rua, no prédio nº 21-A, havia outro estabelecimento denominado Quinquilharias Tung Fong (Mariazinha) (8), que vendia vestidos de seda, bordados, bibelôs, perfumes e artigos variados, em que a palavra Mariazinha aparecia escrita entre parêntesis no dístico comercial. Como Mariazinha era um nome popular, ao lado da referida Yeng Wa, havia ainda uma outra quinquilharia, que vendia brinquedos, artigos de vestuário, sobretudo roupa para bebés e crianças, denominada Lei Ün Kei, e que também se autointitulava “Mariazinha”, embora este nome não figurasse no seu dístico comercial. Ora, com duas ou três Mariazinhas, de diferentes donos, naquele troço da Rua de S. Domingos, esta situação até causava certa confusão entre clientes portugueses. Em virtude de haver mais do que uma Mariazinha, durante décadas, aquele troço ficou conhecido por “Rua das Mariazinhas” e cujas lojas eram normalmente identificadas pelo tipo de mercadorias que vendiam. Com o encerramento dos respectivos estabelecimentos, o último dos quais foi a Quinquilharia Tung Fong (Mariazinha) (9), hoje em dia, os portugueses recém chegados já nem ouvem falar da “Rua das Mariazinhas”.

Depois do encerramento de actividade da Quinquilharia Tung Fong (Mariazinha), a loja foi remodelada e passou a ser uma sapataria, sob a designação ROAD STAR, explorada por um dos filhos, que deixou figurar na tabuleta, em letras menores, a anterior designação Quinquilharia Tong Fong (Mariazinha).

Do lado esquerdo, está o prédio nº 21-A da Rua de S. Domingos, onde o estabelecimento comercial Quinquilharias Tung Fong (Mariazinha) exerceu actividade durante décadas. Presentemente, é uma relojoaria, denominada CITY CHAIN

Tal como o nome “Rua das Mariazinhas”, que praticamente caiu em desuso, o mesmo troço desta Rua de S. Domingos (em cantonense, Pán Cheong T’óng Kái) era outrora também conhecido pelo nome “Tái Pou Lám”, que significa “andar a passos largos”.

Há, pelo menos, duas versões acerca desse nome “Tái Pou Lám”. Consta que, em princípios do século XX, quando a Rua de S. Domingos foi reconstruída e renovada, no seguimento de um projecto proposto pelo grande obreiro de vias públicas, o engenheiro Abreu Nunes, Director das Obras Públicas, as obras que lá se fizeram implicaram a expropriação e a demolição de prédios velhos, passando aquela Rua a ser mais larga e com um novo alinhamento, e tais obras proporcionaram mais espaços para novas construções (10). Enquanto os novos prédios não eram edificados, não havia sombra sequer em todo aquele troço da rua e o sol abrasador batia directamente no solo empedrado ou no piso de terra batida e, deste modo, ficava ardente nas tardes do verão. Como naqueles tempos era hábito de chineses pobres, incluindo operários, andarem descalços, por isso, quando caminhavam debaixo do sol fulgurante, era necessário “tái pou lám”, ou seja, andar a passos largos, a fim de minimizar o ardor causado à planta dos pés.  Uma outra versão mais antiga refere que apenas uma parte da Rua de S. Domingos era conhecida por “Tái Pou Lám”, ou melhor, o troço situado próximo da Calçada das Verdades até à Travessa dos Anjos, onde dantes terminava a referida Rua.  Como consta de publicações oficiais, existiu em meados do século XIX uma via designada Travessa dos Diabinhos, que começava na Rua do Campo e acabava na Rua de S. Domingos. Quando os ricos negociantes chineses começaram a residir naquela travessa, o nome Diabinhos (“kwâi châi”, 鬼仔) não era agoirento e, por isso, foi depois alterado para Travessa dos Anjos.  Ora, quem eram os “diabinhos”?  Para os chineses, os filhos de portugueses eram conhecidos por “kwâi châis”, e como estes diabinhos gostavam de assustar ou pregar partidas aos chineses quando por ali passavam, por isso, com receio de algum mal lhes possa acontecer, tinham que “tái pou lám”. 

Recentemente, perguntámos a várias pessoas, sobretudo as que vivem há largos anos na Rua de S. Domingos, se sabem onde era rua que antigamente se chamava “tái pou lám” e a resposta obtida era simplesmente “ng chi” (não sei) ou “mei t’éng kwó” (nunca ouvi).

ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS QUE EXISTIRAM NA RUA DE S. DOMINGOS,

A PARTIR DE MEADOS DO SÉCULO XX ATÉ À RESPECTIVA CESSAÇÃO DE ACTIVIDADE

No rés-do-chão dos prédios da Rua de S. Domingos, outrora funcionaram, tal como hoje funcionam, estabelecimentos comerciais, excepto o prédio nº 13, que o empresário José Maria da Luz mandou construir em 1927 para sua residência. Deste prédio apenas resta a fachada, porquanto, depois de ter sido vendido, foi demolido e reconstruído para fins comerciais.

O prédio nº 13 da Rua de S. Domingos foi mandado construir por José Maria da Luz em 1927 para residência da sua família. Após ter sido vendido, foi mais tarde demolido e reconstruído para fins comerciais, tendo-se mantido apenas a fachada.

Os estabelecimentos comerciais a seguir mencionados não representam uma listagem completa e sequencial de todos aqueles que exerceram actividades, em diferentes períodos de tempo, na Rua de S. Domingos, porquanto apenas se pretende aqui recordar alguns deles que se tornaram memoráveis, enquanto estiveram em actividade. Assim:

(No lado de numeração policial ímpar)

Do Largo de S. Domingos até à Rua da Palha

Alfaiataria WENG WA ( 永華洋服 ) e, depois, Sopa de Fitas MAK KAO KEI (麥九記麫家) ; Café CHIP SENG (捷成咖啡公司) ; BARBEARIA SANITÁRIA PORTUGUESA ( 美斯髮型屋 ) ; FARMÁCIA UNIVERSAL ( 環球大藥房) ; Livraria LAP SON (立信書局) ; Artigos Eléctricos POU WA (寶華電業器材) .

Da Rua da Palha até ao Beco da Romã

Livraria e Papelaria HO TAI (可大), uma loja muito frequentada pela juventude, porque era ali que se vendiam os livros “hit songs” e cópias de fotos de actores e cantores então em voga; Padaria SAM HO (三可麵飽公司) ; Livraria SIU SIU (小小書店) ; Artigos Eléctricos CHUI MAN KEI (徐文記電器 ) ; Artigos de Escritório YEK CHI (益智文具) ; Café HEONG TOU (香島咖啡) ; Lavandaria WA MEI (華美洗衣) ; Café MA HENG HONG (馬慶康咖啡).

Do Beco da Romã até à Calçada das Verdades

Café T’ÁN TOU (檀島咖啡) ; LAU FÓ KEI (劉科記) ; Quinquilharia TIN SAN (天生百貨) ; Quinquilharia TUNG FONG (Mariazinha) (東方百貨公司) ; Farmácia Chinesa LUEN ON (聯安中藥房) ; Sapataria TAI KÓNG (大光皮鞋); Loja de Frutas KAM KEI (錦記生果) ; Sopa de Fitas NGAN HEI (銀禧麫家) ; MAY MAY KONG SI (美美公司) ; Padaria MAXIM (美心餅店) ; Sapataria A-LÓ (亞羅皮鞋) .

(No lado de numeração policial par)

Do Largo de S. Domingos até à Travessa da Sé

Barbearia SHANGHAI (上海理髮公司) ; Alfaiataria CHIM WA (占華洋服) ; Casa de Penhores TAK SENG (德成大押) ; Alfaiataria NGA WA (雅華時裝) ; Alfaiataria TAI KUN (大觀時裝) e, no primeiro andar, Dentista Liu Yick Tong (廖益棠牙醫) ; Fazendas WENG SAN (永新絲綢服裝行) ; ÜN CHI HONG (原子行).

Da Travessa da Sé até à Travessa do Bispo

Alfaiataria HANG IAU (恆友洋服) ; Tabacaria LÓK KEI (樂記行) ; Relojoaria MENG KEI (明記鐘錶店) ; COLÉGIO CHUNG WAH (中華英文書院 ), um estabelecimento de ensino de chinês e inglês, que ocupava o r/c e o 1º andar; Taxi NEW YORK (紐約的士) .

Da Travessa do Bispo até ao Beco da Arruda

Barbearia HONG SENG (康城髮廊 ); Alfaiataria WA TANG (華登西裝) ; Quinquilharias SAN KWONG (新光百貨) ; LEI ÜN KEI (李源記百貨) (11) ; YENG WA Mariazinha (英華百貨), esta loja, no prédio nº 22-B; e, a partir deste prédio, desde nº 24 até nº 36, funcionaram, em épocas diferentes, nomeadamente Quinquilharias LAU IEONG KEI (劉楊記), Livraria SENG KWONG (星光書店), Foto PAK HAP (百合照相), Sorvetes CHIU KEI (超記雪糕), Leitaria I SON (義順鮮奶), Barbearia LOK SENG (樂聲美容院), Restaurante PARIS (巴黎餐廳) e, no primeiro andar, Salão de Bilhar TAI TONG (大同俱樂部) e, no último prédio da rua, Tipografia e Artigos de Escritório VO KEI (和記印刷行). Antes da demolição do antigo prédio nº 20, a Engª. Gaby de Senna Fernandes tinha o seu Gabinete de Engenharia no 1º andar.

Sapataria A-Lo, a mais antiga loja ainda em actividade desde o século passado. A rampa do lado direito é a Calçada das Verdades, por onde se pode ir até à Fortaleza do Monte.

À excepção da Sapataria A-LÓ (亞羅皮鞋), todos os estabelecimentos comerciais acima referidos já não se encontram em actividade na Rua de S. Domingos, uns encerraram mais cedo que outros, restando apenas alguns que se mudaram para outras localidades (12), primeiramente devido à demolição dos antigos prédios para reconstrução de novos edifícios, sobretudo do lado de numeração policial par e, mais tarde, por aumento excessivo do preço de arrendamento, que actualmente só é comportável para estabelecimentos que vendem artigos de luxo ou de marca, tais como relojoarias, ouriversarias, vestuário e calçado de desporto, perfumarias e produtos de beleza ou cosméticos. No meio de tanta concorrência, nem todas as lojas conseguem sobreviver ao negócio e, por isso, hoje em dia é habitual ver lojas a fecharem após alguns anos de actividade, sobretudo quando o contrato de arrendamento não é renovado, motivado por aumento do preço do arrendamento, podendo assim os proprietários alugar os seus prédios a quem ofereça o valor pretendido. Mantém-se também em funcionamento a LIVRARIA PORTUGUESA, que abriu as portas a 11 de Junho de 1985, e que continua a ser um local bastante visitado por clientes residentes e turistas.

A Livraria Portuguesa, onde começa o troço da Rua de S. Domingos, outrora conhecido por “Rua das Mariazinhas”

NOTAS:

(1) Era o sistema de construção adoptado nos primórdios do estabelecimento dos portugueses, incluindo as primeiras capelas ou igrejas, que eram feitas de tábuas de madeira. As igrejas construídas com paredes de taipa só tiveram lugar a partir de princípios do século XVII. Apesar disso, apenas a igreja de S. Domingos ficou com a designação “Pán Cheong T’óng” até ser alterada para “Mui Kwai T’óng”.

(2) Significado do termo “pán cheong” constante do Dicionário Chinês-Português, editado em 1962, pelo Governo da Província.

(3) Relativo a rosário, visto que a igreja é dedicada à Nossa Senhora do Rosário.

(4) Em Setembro de 2017, as procissões católicas de Nossa Senhora de Fátima e do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos foram incluídas na lista de património intangível de Macau.

(5) Em 2017, ano do Centenário das Aparições em Fátima, por decisão do Bispo da Diocese, D. Stephen Lee, as comemorações de 13 de Maio tiveram lugar na Sé Catedral, em vez de na Igreja de S. Domingos, onde tradicionalmente se realizam desde 1929.

(6) O Tesouro de Arte Sacra é um espólio constituído por cerca de 300 artefactos religiosos, dos séculos XVII a XIX, os quais incluem objectos sacramentais em prata, bronze e ouro, estátuas em madeira, gesso e marfim, pinturas a óleo, etc.

(7) A Rua do Hospital foi alterada para Rua de Pedro Nolasco da Silva, em 6 de Junho de 1942. Era na Rua do Hospital onde estavam sediadas as mais importantes firmas estrangeiras, até serem transferidas para Hong Kong, depois de esta ilha ter sido cedida ao Reino Unido, em 1842, pelo Tratado de Nanjing, na sequência da derrota da China na 1ª Guerra do Ópio.

(8)  O estabelecimento comercial Quinquilharias Tung Fong, quando iniciou a sua actividade, não tinha o nome Mariazinha escrito entre parêntesis, e naquela altura estava localizado no prédio nº 20 da Rua de S. Domingos. Mais tarde, mudou-se para o prédio nº 21-A, no lado oposto da rua, onde continuou a exercer a sua actividade até ao encerramento, ocorrido em princípios do século XXI.

(9) A Quinquilharia Tung Fong (Mariazinha), depois de encerrar seu negócio, um dos filhos continuou a explorar no mesmo local uma nova actividade – uma sapataria, sob o dístico comercial ROAD STAR, mantendo-se, no entanto, na tabuleta, a designação, em letras pequenas, Quinquilharia Tong Fong (Mariazinha). Esta nova actividade não prosperou e acabou por encerrar definitivamente todo o seu negócio.

(10) Depois da reconstrução e renovação, em princípios do século XX, a Rua de S. Domingos ficou mais larga que a Rua do Hospital (presentemente, Rua de Pedro Nolasco da Silva), que agora começa no edifício do Teatro Capitol, em vez de na Travessa dos Anjos.

(11) Junto a LEI ÜN KEI havia uma pequena e estreita loja, denominada “Leong Iao” (良友), que atraía a rapaziada, visto que era onde se vendiam viaturas em miniatura “Dinky Toys”, além de outros brinquedos tão apreciados, que a juventude gostava de possuir ou coleccionar.

(12) Os estabelecimentos que se mudaram para outras localidades e continuaram as suas actividades foram, designadamente, Café CHIP SENG (捷成咖啡公司) ; Livraria SENG KWONG (星光書店); e Leitaria I SON (義順鮮奶), conhecida pelo nome “a vaquinha”, por a tabuleta apresentar o desenho de uma vaca leiteira. Em virtude de mudanças frequentes de estabelecimentos comerciais, não estão referidos neste trabalho todos aqueles novos estabelecimentos que operaram na Rua de S. Domingos depois do ano 2000.

Fontes de consulta: Toponímia de Macau, de Pe. Manuel Teixeira, e o blogue nenotavaiconta, nomeadamente no respeita à Igreja e Convento dos Dominicanos de Nossa Senhora do Rosário.

Rua de S. Domingos, com as actuais lojas

Fachada da igreja de S. Domingos, vista da Rua de S. Domingos

Outro aspecto da Rua de S. Domingos, vendo-se do lado direito a entrada para a Rua da Palha, que vai ter às Ruinas de S. Paulo. O conjunto de prédios com varandas e o prédio mesmo ao lado da igreja foram construídos no terreno anteriormente ocupado pelo antigo Convento dos Dominicanos.

Junção da Rua de S. Domingos com a Rua da Palha

Rua de S. Domingos, no troço a partir do cruzamento entre a Rua da Palha e a Travessa da Sé

Rua de S. Domingos, vista junto da Travessa do Bispo, que fica do lado esquerdo. Em frente, onde acaba a calçada à portuguesa, termina a zona pedonal

Aspecto da Rua de S. Domingos, do lado de numeração ímpar, em Novembro de 2018.

Pormenores das varandas de um conjunto de prédios, do lado de numeração policial ímpar, da Rua de S. Domingos

Antes da demolição dos antigos prédios, a Yeng Wa Mariazinha exercia actividade na actual loja “ecco” e onde está “adidas” outrora estava a Quinquilharias Lei Ün Kei. Junto a esta loja havia um estreito corredor, onde se vendiam brinquedos, nomeadamente os “Dinky Toys”

Rua de S. Domingos, próximo do cruzamento com a Travessa da Sé (lado direito, a seguir ao edifício amarelo, onde outrora estava “UN CHI HONG”, conhecida por loja americana) e a Rua da Palha (lado esquerdo)

Aspecto da Rua de S. Domingos, nos anos 70-80 do século passado. Em finais da década de 1900, o pavimento deste troço da rua foi revestido com calçada à portuguesa, passando a ser uma zona pedonal.

Largo e Rua de S. Domingos, nos anos 70-80

Edifício situado no Largo de S. Domingos, mesmo em frente à igreja, onde Sun Chung Hong, agente exclusivo de cervejas Tsingtao, tinha o seu estabelecimento. Foi neste prédio que o médico O Lon (柯麟), um membro do partido comunista, enviado para Macau em 1935, abriu a sua clínica médica e onde ele colocou, em 1 de Outubro de 1949, a bandeira vermelha de cinco estrelas para celebrar a implantação da República Popular da China. O Lon (柯麟) exerceu funções de director do Hospital Kiang Wu.

Edifício nº 2 do Largo de S. Domingos, onde esteve instalada a Livraria Po Man Lau (寶文樓印務書局 , cujos caracteres, em chinês, representam Pou Man Lau Tipografia e Livraria, embora dedicasse também a outras actividades, designadamente, fotografia e papelaria), era um estabelecimento comercial muito activo e popular, principalmente durante os anos 50 do século passado. Mudou-se depois para o Largo do Senado, nºs 13-15, onde funcionou até ao seu encerramento.

Edifício (já demolido), localizado na junção entre a Travessa da Sé e a Rua de S. Domingos

Um novo prédio, cuja construção ficou concluída em 2018, localizado mesmo na esquina entre a Travessa da Sé e a Rua de S. Domingos (ver o antigo prédio na foto anterior)

O primeiro e o segundo prédio do lado esquerdo (nºs. 18 e 18-A), na esquina entre a Travessa do Bispo e a Rua de S. Domingos, depois de demolidos, construiu-se naquele mesmo terreno um edifício multi-pisos, denominado Wing Son Kók ( 永順閣 ), no qual está a funcionar, no rés-do-chão, desde 1985, a Livraria Portuguesa

Do lado esquerdo, o conjunto de prédios, entre a Travessa do Bispo e a Travessa da Sé, construído no primeiro quartel do século XX, foi já completamente demolido

Publicidade da Barbearia Sanitária Portuguesa no Anuário de Macau de 1950

Publicidade da Farmácia Universal no Anuário de Macau de 1950

(Texto, fotos e respectivas legendas de MV Basílio. Salvo indicação em contrário, as fotos antigas foram baixadas da internet, designadamente do grupo Antigas Fotos de Macau).

Um comentário em “Macau: Igreja, Largo e Rua de São Domingos

  1. Jorge Basto
    13/12/2018

    Muito boa publicação. Sobre Mariazinhas que me lembre teve origem numa loja que era a tal da «Mariazinha» que vendia para as «gnau-pos» (ie portuguesas) porque falava algo em português

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Rogério P. D. Luz, macaense-português de Macau, ex-território português na China, radicado no Brasil por mais de 40 anos. Autor dos sites Projecto Memória Macaense e ImagensDaLuz.

Sobre

O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.

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