Há duas postagens atrás, publiquei um relato de Jorge Remedios que recordava os tempos vividos no bairro social Tamagnini Barbosa, em Macau (ex-Portugal, na China), na qualidade de refugiado da II Guerra Mundial. Muitos conhecem o nome de Tamagnini Barbosa, mas quem foi ele? Como se tornou Governador de Macau por três vezes? Vejamos a sua biografia:
O Governador em Hong Kong (ex-colónia inglesa), em 1927, passando revista ao Queen´s Royal Regiment, na companhia do seu homólogo britânico, Sir Cecil Clement
(em português-Portugal)
TAMAGNINI BARBOSA: TRÊS VEZES GOVERNADOR
por Eduardo Tomé – Revista Macau Dezembro de 1996
Era um bebé de quatro meses, quando a 22 de Janeiro de 1882 desembarcou em Macau, ao colo de seus pais, o conselheiro Artur Tamagnini Abreu Barbosa e Fátima de Sousa Tamagnini. Frequentou o Seminário de S. José e o Liceu, só regressando à metrópole com 17 anos, indo estudar para Coimbra, onde se licenciou em professorado e pedagógicas.
Viria a abraçar a carreira colonial, à semelhança de seu pai, inspector-geral da Fazenda do Ultramar, de quem foi secretário, acompanhando-o em 1903 em missão de serviço a Cabo Verde, Guiné, S. Tome e Angola, viagem que repetiria em 1905, com a variante de ter sido estendida a Moçambique.
Iniciou a sua carreira dentro do Ministério das Colónias como escriturário dos serviços da Fazenda de Timor, tendo sido sucessivamente promovido, tendo chefiado diversas repartições, vindo a ser director-geral da Administração Política e Civil.
Foi chefe de gabinete do seu irmão, brigadeiro João Tamagnini Barbosa, quando este era ministro das Colónias, bem como co-proprietário de um dos mais prestigiados estabelecimentos de ensino de então, a Escola Nacional, em Lisboa, onde se ministrava o ensino básico, secundário e comercial, tendo sido seu director e professor de português, literatura portuguesa, francês e inglês.
Matrimoniado com Margarida Vieira de Melo, que faleceu cedo, dela teve uma filha, Maria Amália Tamagnini, que em Macau se enamorou do comandante da canhoneira “Macau”, o primeiro-tenente Joaquim Alves Pereira da Fonseca, mais tarde almirante e comandante-geral da Armada, com quem casou, tendo já ambos falecido.
Artur Tamagnini tinha 35 anos quando, em segundas núpcias, desposou uma sua aluna, Maria Anna Acciaioli, então com 16 anos. Em Março de 1918 foi nomeado Governador de Macau, desembarcando no território a 12 de Outubro, contava a sua mulher 19 anos, pelo que terá sido a mais jovem primeira dama. Por ter mudado o ministro das Colónias, em 21 de Julho do ano imediato, foi chamado a Lisboa e substituído.
A jovem Primeira Dama, Maria Anna Acciaioli Tamagnini, e o Governador, em finais dos anos 20. Maria Anna foi a idealizadora da construção do bairro social Tamagnini Barbosa, e é autora dos poemas do livro Lin Tchi Fá – Flor de Lótus, da Colecção Poetas de Macau do Instituto Cultural de Macau
Da segunda esposa, Tamagnini Barbosa teve cinco filhos, Artur Manuel (falecido em desastre de aviação), Mariano Alberto, Miguel Ângelo (igualmente falecido em acidente de aviação), Marco Antônio e Alberto Manuel (falecido de angina diftérica, aos 10 anos).
Novamente nomeado Governador de Macau, em Julho de 1926, chegou ao território a 8 de Dezembro, aqui permanecendo até 19 de Novembro de 1930. Menos de três anos após regressar a Portugal, sofre um rude golpe, a sua jovem esposa, com 33 anos incompletos faleceu durante o parto do seu filho Alberto Manuel, desaparecendo assim prematuramente a talentosa poetisa autora de Lin Tchi Fá.
Em Novembro de 1936, Tamagnini Barbosa foi pela terceira vez nomeado Governador de Macau, desembarcando no território em 11 de Abril do ano imediato. Foi de avião à Conferência Colonial, na metrópole, em Abril de 1939, regressando ao território em Agosto, também de avião — facto extraordinário para a época, pois as viagens aéreas ainda não estavam vulgarizadas. Viria a falecer no palacete de Santa Sancha, a 10 de Julho de 1940, contava 59 anos, vítima de uma anemia cerebral, numa altura em que Macau vivia uma situação muito difícil, com uma população acrescida de largas dezenas de milhares de refugiados, fugidos à guerra sino-nipónica e à ocupação japonesa, receando-se a todo o momento que o território pudesse ser também invadido.
Era possuidor de 16 condecorações, entre as quais a medalha de ouro de serviços distintos, a medalha de mérito naval, a Legião de Honra, a Ordem de Santiago e Espada e a Ordem Militar de Avis. Publicou o trabalho Giro Bússola e Elementos Magnéticos da Província de Moçambique.
Foi dado o seu nome a uma avenida de Macau e no Jardim da Flora existe um busto seu — que o seu filho Mariano gostaria que, após 1999*, fosse colocado no Jardim Museu Agrícola Tropical, em Lisboa, onde já existe um arruamento e um arco dedicados a Macau. Também o grande bairro social que mandou construir, e só há poucos anos foi demolido, ostentava o seu nome: Bairro Tamagnini Barbosa. É lembrado no território como um dos seus mais dedicados governadores.
*Lembrete: esta biografia foi escrita em 1996. As fotos foram publicadas nessa edição da Revista Macau cujo tema principal era “Uma missão quase impossível” sobre Mariano Tamagnini Barbosa.
Foto acima e as abaixo: O funeral de Artur Tamagnini Barbosa: uma enorme manifestação de pesar pelo desaparecimento do tri-Governador . em 10 de Julho de 1940.
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Hoje, 24 de Junho de 2022, comemora-se 400 anos de “A Maior Derrota dos Holandeses no Oriente” na sua tentativa de tomar Macau dos portugueses. Até a transição de soberania de Macau, de Portugal para a República Popular da China, em 20 de Dezembro de 1999, a data era comemorada como “DIA DE MACAU” ou “DIA DA […]
1 Aqueles bons tempos de Macau, que já não voltam mais, de peças teatrais com participação de macaenses, são recordadas por Jorge Eduardo (Giga) Robarts na sua página no Facebook. Com autorização do Giga, as imagens foram copiadas e editadas, inclusive seus textos. Fazem parte do seu acervo, bem como, partilhadas por seus amigos dessa […]
Nesta postagem, divulgamos duas histórias de Macau de autoria do Manuel V. Basílio, publicadas no Jornal Tribuna de Macau-JTM e que foram extraídas dos seus livros: A primeira viagem portuguesa no sul da China O primeiro acordo sino-português Nos artigos abaixo com os textos com ligação direta no JTM , clique em “continue reading” (continue […]
Recordo perfeitamente deste governador e, principalmente do seu funeral, cujo caixão foi depositado na Sé Catedral de Macau, por alguns anos (devido à segunda guerra mundial). Quando aportou a Macau o primeiro navio nacional “Colonial” em l946 o féretro do governador e do 2º tenente piloto aviador Silveirinha (falecido num desastre de avião com o sargento/mecanico Girão, cujo aparelho caiu sobre umas casinhas na rua da Esperança – em Tap Siac em 1939 -, quando deitavam uns panfletos), o N/M “Colonial” transportou os caixões forrados de zinco para Portugal. Eu tinha na data 8 anos de idade, mas a minha memória diz-me que foi isso mesmo. E como era o primeiro navio nacional que aportava Macau depois de muitos anos, seguiram no mesmo as famílias de Eduardo Francisco, Diamantino Ferreira e outros funcionários “ngaus” que tinham direito à licença graciosa e alguns estudantes de Macau que iriam frequentar curso superior, entre os quais os meus cunhados Edmundo (Edi) e Henrique S. Fernandes, José (Apache) Rodrigues e outros. Giga.