Recebi do Jorge Basto (macaense residente em Portugal) esta excelente matéria sobre uma das maiores delícias da culinária chinesa, o << Lap Cheong>>, chouriço chinês ou chouriço china como dizem os macaenses. E, vamos ao que interessa:
(ao público brasileiro, veja a dica do blog no final da matéria)
LAP CHEONG (CHOURIÇO CHINÊS)
por Jorge Basto
O Melhor «Lap Cheong» do Mundo, existe ainda em Macau!
1. O que é o «lap cheong»?
«Lap cheong», termo em cantonense que traduzido à letra quer dizer «intestino encerado», mais conhecido por chouriço chinês, é como tal um enchido, seco e rígido, ligeiramente adocidado, feito usualmente com carne de porco picada (podendo incluir como variedades fígado de porco, pato ou perú que o escurecem) e gorduras, envolvido numa pele comestível, feita de tripa. Como condimentos, contém água de rosa, aguardente de arroz e molho de soja.
Existem 2 variedades básicas – magro ou gordo, consoante o teor de gorduras, e depois vermelho vivo ou escuro, consoante o teor de fígado e soja. O mais tradicional é o vermelho vivo e magro, e também o mais saboroso.
Pode ser cozinhado directamente em água, banho-maria, ou juntamente enquanto se coze o arroz, dando-lhe assim um sabor e um aroma deliciosos, assim que se destapa a panela…
Serve-se depois de cozido, cortado às rodelas, não perpendicularmente mas em diagonal, para melhor apresentação na mesa.
Como se vê, pode ser preparado por qualquer leigo em culinária! Tal como está basta, mas claro… pode ser misturado em pratos mais sofisticados, mas isso já fica para entendidos.
2. Como se compra e aonde?
2.1. Em Macau
Em Macau, existem diversas lojas que vendem «lap cheong», quase todas concentradas na zona do Mercado de S. Domingos.
Vende-se a peso, não em gramas ou libras, mas antes numa medida tradicional chinesa, o «can» (em cantonense). Este peso, que em macaense se chama «cate» corresponde a 604,8 gramas, ou 1,333 libras.
Mais ainda, o produto vendido não é pesado numa balança que um ocidental espera encontrar num super-mercado, mas antes numa balança tradicional chinesa, que o vendedor apresenta à frente do comprador, bem alto à sua vista, para garantir o rigor da medida.
Claro…, para um ocidental de nada serve, porque não entende aquelas marcações que se veem na régua horizontal, enquanto o vendedor desliza muito habilmente o contrapeso para mostrar, o mais honestamente possível para quem entender, o equilíbrio e horizontalidade da balança. Complicado, não é?
Chega-se agora à meta final que se pretende – onde encontrar o melhor «lap cheong» do Mundo?
Esse é o do tipo vermelho vivo e magro, com gordura quanto basta, portanto com reduzido colesterol e menos calorias, apenas «ligeiramente» adocicado, e por isso o mais saboroso.
Pois fica em Macau, junto ao Mercado de S. Domingos, na Rua dos Mercadores, transversal à Av. Almeida Ribeiro!
Essa loja, fazendo esquina com a Rua dos Mercadores e a Travessa da Porta (22º11’40.29’’ N, 113º21’40.31’’ E), existe desde os anos 50s e, pelo que se sabe, felizmente ainda existe! Tem uma área de apenas 3mx10m aproxidamente, e nunca foi modificada ou modernizada! Para que, pergunta-se?
O «lap cheong» de Macau apenas se vende no Inverno, de Dezembro a Março (por altura do Ano Novo Chinês), pois o calor de Verão não permite a sua produção, com a frescura, sabor e aroma necessários, tão exigentes na gastronomia chinesa e macaense! Felizmente, pode-se conservar em frigorífico durante longos meses.
A sua fama não se limita a Macau!
Assim, em jeito de conto, recordo-me de, depois de reuniões de trabalho com chineses de Hong Kong, eles me pedirem para os levar lá comprar «lap cheong» antes de apanharem o «jet-foil» de volta a HK.
Perguntava eu, surpreso: – Como conhecem essa loja?
Respondiam-me: – Já é famosa e em HK não há assim! Levo para mim e para amigos que me pediram…
Mas acautelem-se os leitores! O tal «lap cheong» de boa-excelente qualidade não é barato… podendo hoje chegara 150 patacas ou mais (cerca de 14 euros, 19 US dólares) o tal «can» de 0,6 kg, que tem cerca de 14 chouriços, ou melhor 7 pares, pois não se vende à peça!
2.2. Em Lisboa
Para a comunidade macaense que reside em Lisboa, já existiu bom «lap cheong» até cerca de 2009, do tipo vermelho vivo e razoavelmente magro. Era produzido em França e exportado mundialmente, embalado em pacotes de plástico de 500 gramas, alguns sob vácuo,
Existem 3 mercearias da especialidade na Rua da Palma, junto ao Largo Martim Moniz, em Lisboa.
Depois dessa data, apenas se encontram essas embalagens com o mesmo aspecto exterior, mas que depois de abertas e cozidas revelam um resultado desolador – a pele do chouriço é em plástico, e por conseguinte não comestível. Uma pena… para quem o aprecia, na sua integralidade!
Torna-se portanto necessário retirar primeiro a pele de plástico antes de o cozinhar, correndo-se o risco de o desfazer durante a cozedura…
Ou então, coze-se assim mesmo com o plástico, que se retira depois.
Em conclusão, chegamos a esse fabuloso…
Quem é Jorge Basto? Conheça-o numa próxima postagem com recordações da sua casa no Tap Seac, ele que foi o autor do cd “Macau em Palavras” de 1998 e da tradicional família macaense Basto.
* Nota do blog ao público brasileiro:
Se deu água na boca e a vontade de experimentar, este chouriço chinês <lap cheong> é facilmente encontrado nas mercearias chinesas do bairro da Liberdade. Duas delas ficam na Praça da Liberdade, em São Paulo, uma Tou Wa ao lado do Bradesco e outra ao lado do McDonald. Anote o nome em chinês. Há atendentes brasileiros que entendem de todas as guloseimas chinesas. Particularmente, dentre as variedades, umas nacionais, prefiro os fabricados no Canadá (com pele comestível). São mais gostosos. Isto, se o seu paladar aceitar alimentos adocicados. Não é barato como diz a matéria, inclusive em São Paulo, mas comparados com as boas linguiças está por aí, preços parecidos. Dois chouriços e você está jantado! Vale experimentar sem medo, e se gostar … xiiii !
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Não poderia este blogue deixar de fazer mais um registo histórico de uma tradição mantida na Macau do ano de 2023, hoje, território da República Popular da China. Assim, o nosso colaborador, Manuel V. Basílio, macaense residente em Macau, nos dá o relato, com fotos, sobre a procissão de Nossa Senhora de Fátima realizada no […]
No Anuário de Macau do ano de 1962, nas páginas finais, vários anúncios publicitários encontravam-se publicados, os quais, reproduzimos abaixo para matar as saudades de quem viveu aquela época de ouro, ou então, para curiosidade daqueles que possam se interessar em conhecer, um pouco mais, aquela Macau de vida simples, sem modernidade, mas, mais humana.
Páginas digitalizadas do Anuário de Macau, Ano de 1962, o que aparentemente foi o último da série, ficamos aqui a conhecer quem eram as pessoas que ocuparam cargos no – Governo da Província e Repartições Públicas. Mesmo passados mais de 60 anos, agora que estamos na década com início em 2020, muitos nomes ainda estão […]
Passo a seguir o seu blogue, que só hoje descobri, desde Macau.
Lap cheong em Macau, comprado nos mercados, é uma tentação!!
Uma satisfação ter-te como leitor Pedro. Lap cheong é mesmo uma tentação deliciosa, se não fosse a preocupação com o colesterol. Abraço!