Em 23/06/2013, Mariazinha Lopes Carvalho fez uma apresentação em patuá de Macau em duas partes. Na primeira, a dama do dialecto macaense em São Paulo, sózinha, a lamentar a ausência do seu antigo parceiro de patuá: Armando Ritchie, apresentou-se com um diálogo “Chicói vai dôtor” que provocou risos.
Na 2ª parte, teve como parceiro o Pedro Almeida que foi “importado” do Rio de Janeiro e que será objeto de outra postagem. Assim, nesta vou apresentar o texto e o vídeo que gravei na festa da Casa de Macau, celebrando o Dia de Macau e o Aniversário da Casa.
Leia o texto abaixo e em seguida assista o vídeo.
“Chicói vai dôtor”
um texto em patuá de Macau de autoria e apresentado por Mariazinha Lopes Carvalho
Primeiramente gostaria de dar um recado ao nosso grande colaborador Armando Ritchie e com certeza nesta festa ele faz muita falta em todas as áreas:
Uvi Armando Estopôr:
Vôs largá iou onçôm-onçôm, corê vai Macau chapá co Dóci Papiaçám fazê Teatro Patuã
Cuas vôs pensá… iou sentá atráz chupá dedo?
Vôs vai chupá ôvo estopôr.
Iou qui capaz, nunca perdê tempo, azinha-azinha já vai aranjá ôtro home
Pedro Almeida di Rio de Janeiro, contente qui contente já corê vem São Paulo chapá co iou fazê Patuá.
Unga ucho uide grandi pa vôs di vossa sempri Mariazinha Buricida.
—————–
Uvi, nhonha-nhonha di Casa di Macau, estunga patuá qui iou iscrevê sâm pa vosôtro, prestá atenção. 24 ano já passá e nôs 24 ano más vêla. Ai qui triste, non têm más home-home assubiá fio-fio, corê atrás di nôs! Agora quim corê atrás di nôs sâm:atrite/atrose/osteoporose/catarata/surdo uvi tudo ancusa trocado, taufu pa tausi. Pió sâm ficá montông-montông, mas graças a Dios nossa cabéça sâm melhó qui home-home. Olá, unga dia iou já iscutá conversa di dôs home. Unga perguntá: Uvi vôs têm pressám alto? Ôtro respondê: Iou-sa pressám ta uide bom, somente quelóra iou fica uide excitado pressám subí alto qui alto, acabá-ia torná decê pa basso. Ôtro falá: Rapaz, vôs sâm divéra pantominéro, iou nádi acreditá, co vossa idade inda pôde chuchú?
Uví amiga-amiga si vôs querê bem di vosso marido, prestá atençám, uví iou-sa conselho. Quelóra acompanhá vosso marido vai olá dotôr non pôde dessá ele onçôm-onçôm papiá. Olá cusa já acontecê co iou e Chicoi. Nôs dôs intrá juntado dotôr virá falá pa ele: Sr. Francisco, como está? Ele respondê: Iou ta uide bom, non têm nada, sâm iou-sa mulér forçá iou vêm olá vôs. Vontade sâm chiquí estunga estopôr. Iou ameaçá, pa frente vôs vai intrá mudo sai calado, iou qui vai fala tudo. Ôtro dia já caregá ele vai olá Urulogista. Sabe cusa sâm urulogista? Sâm dotôr qui examiná tudo asnéra di hone-home
Nôs dôs intrá, dotôr cumprimentá:
Então Sr. Francisco como está, está bem?
Iou respondê: Si ta bem dotôr cusa nôs ta fazê aqui, olá vossa cara?
O que sente Sr. Francisco
Iou isplicá: Mijá unchinho unchinho tudo ora:
Quais os medicamentos que está tomando?
Iou: bla bla bla, bla bla bla
Minha senhora, seu marido é mudo? Iou fica cara di tacho.
Vamos então fazer o teste de toque
Sabe cusa sâm teste di toque? Sâm chuchú dedo na ôlo-deco.
Cusa… iou largá iou-sa Chicoi co ôlo-deco virado pa lua, qui ancusa estunga dotôr usá pa chuchú ele-sa ôlo-deco! Azinha-azinha iou corê empê atrás di dotôr pa vigiá. Dedo tremê-tremê iou pensa: ta ferado, estunga dotôr nádi acertá, iou precisa ajuda..
Uvi dotôr nuncassâm pa estunga lado, vai unchinho más pa drêto, agora unchinho más pa esquerdo, ai já ultrapassá-ia, agora voltá unchinho más pa drêto……. Iou nunca entendê, ele expulsá iou fora di sala…..
* Hoje gostaria de prestar uma homenagem às chistosas damas minhas amigas macaenses de coração, para quem o nome de Macau tem sempre um significado muito especial. Com muita amizade e admiração, dedico este Patuá a vocês, aquelas que trabalham e lutam pela preservação da nossa tradição e cultura.
Quando me refiro às amigas macaenses ou macaístas, não são somente aquelas que nasceram em Macau, mas todas aquelas, independente de nacionalidade, que colaboram com esta Casa e que chamo com muito orgulho de “Nossa Gente”.
Nota do editor: Infelizmente, o patuá de São Paulo caminha aos poucos para o seu fim. Como podem ver nas últimas apresentações publicadas neste blog, a Mariazinha “carrega nos ombros” os últimos suspiros do dialecto macaense em São Paulo. Os seus principais parceiros foram embora do Brasil: Armando Ritchie e Telma Antunes Brito. Está difícil conseguir colaboradores para o teatro e não há ninguém criativo com conhecimentos do patuá para substituí-la.
Mariazinha, nem sempre devidamente reconhecida e valorizada, até esquecida em determinadas ocasiões, vai “levando” as suas apresentações, que hoje ficam restritas a diálogos, tendo até que “importar” ajuda do seu colega do Rio de Janeiro, o Pedro Almeida. Já sentindo o peso da idade e das suas limitações, não consegue, como eu, enxergar um futuro para o patuá em São Paulo. Os jovens ou até aqueles que poderiam adquirir ou desenvolver algum conhecimento do patuá, para pelo menos manter, mesmo precariamente, alguma chama do dialecto candidato a Patrimônio Intangível pela UNESCO , simplesmente sumiram. Sejam quais os motivos do sumiço … evaporaram! Triste ter que escrever isto … mas é a pura realidade que se certifica a cada dia ou evento. Tomara que algum dia surja uma luz no fim do túnel …
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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