Publicação assinada por Monsenhor Manuel Teixeira na Revista Nam Van de Abril de 1986, conta que Macau tem (ou teve) quatro Padroeiros: Nossa Senhora da Conceição, São João Baptista, São Francisco Xavier e Santa Catarina de Sena. Já em 1647 o Senado de Macau já estabelecia a comemoração das datas festivas com “confissão e comunhão”.
Nos tempos em ainda residia em Macau, nos anos 60, o Padroeiro mais festejado era São João Baptista pois na sua data de 24 de Junho era feriado e comemorava-se o Dia de Macau, que hoje foi extinto após a transição de soberania em 1999. Na atualidade a comunidade macaense celebra a data com festa junina, tal como se comemora no mundo lusófono. Não saberia dizer exatamente se nos dias de hoje ainda se celebra os padroeiros de Macau, talvez pelos devotos católicos.
Dividi o artigo em partes, sendo que esta primeira, fala de Nossa Senhora de Conceição, uma das padroeiras de Macau (hoje China), bem como da Macau brasileira, cuja imagem acolhe quem passa pelo portal da cidade.
Para ser sincero, não sabia que a Virgem Imaculada era padroeira da nossa Macau e com esta descoberta, acaba-se acrescentando mais uma das semelhanças entre as duas Macau. Fico feliz pois enriquece o meu esforço para um contato formal com esta Macau brasileira, localizada no Estado do Rio Grande do Norte (RN), em 2013, objeto de duas reportagens que fiz para o Jornal Tribuna de Macau. No entanto, a Macau (ex-território português na China) não deu a mínima importância ao fato, afinal, foi meramente a iniciativa de uma individualidade, o Rogério, acompanhado da sua esposa brasileira Mia. Talvez dessem algum valor se fosse por uma pessoa jurídica. Pelo menos valeu o meu esforço para mostrar como é esta Macau brasileira. Como diz a canção: “Macau Sã Assi” até que um dia vire “Ao Men Sã Assi”, e não está longe. Aí o mundo terá apenas duas Macau, do Brasil e da França, e vamos matar as saudades do nome Macau lá no Rio Grande do Norte, apenas.
(veja também: (2) Os 4 Padroeiros de Macau-S.João Baptista e Monumento da Vitória; (3) Os 4 Padroeiros de Macau-S.Francisco Xavier; (4) Os 4 Padroeiros de Macau-St.Catarina de Sena )
OS QUATRO PADROEIROS DE MACAU – parte (1)
por Monsenhor Manuel Teixeira – Revista Nam Van edição de Abril de 1986
(fotografias de/photos by Rogério P.D. Luz)
Em 1647, estando em vereação os oficiais do Senado, «acordaram que no dia em que se fizesse a festa de cada um dos ditos Padroeiros (de Macau), convém a saber: — a Virgem N. Senhora da Conceição, o glorioso S. João Baptista, S. Francisco Xavier e S. Catarina de Sena, os oficiais que naquele ano servirem de juízes, Vereadores, Procurador da Cidade e Escrivão da Câmara se confessem e comunguem na igreja em que se fizer a festa de cada um dos ditos Padroeiros» . Temos aqui mencionados oficialmente os quatro Padroeiros de Macau. Vamos tratar de cada um em particular.
Há perto de 60 anos que andamos procurando nos arquivos e nas várias histórias de Macau a data da proclamação de N. Sra. da Conceição como Padroeiro desta cidade e nunca a encontrámos. Quer dizer que Macau não fez uma proclamação oficial própria nem uma eleição particular da Virgem Imaculada como sua Padroeira. Porquê?
Porque não era necessário. Já o Rei a tinha feito para Portugal e seus territórios ultramarinos, nos quais se incluía Macau. Sendo assim, era desnecessária uma nova proclamação quer do bispo quer do Senado desta Cidade do Nome de Deus.
Eis o documento ou provisão régia de 25 de Março de 1646:
«D. João, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, etc… Faço saber aos que esta minha Provisão virem, que, sendo ora restituído, por mercê muito particular de Deus Nosso Senhor, à Coroa destes meus Reinos e Senhorios de Portugal; considerando que o Senhor Rei D. Afonso Henriques, meu Progenitor,… tomou por especial advogada sua a Virgem Mãe de Deus, Nossa Senhora, e debaixo dê sua sagrada protecção e amparo lhe ofereceu todos os seus sucessores, Reinos e Vassalos…
Estando (eu) ora junto em Cortes com os três Estados do Reino… Com parecer de todos, assentamos de tornar por Padroeira de nossos Reinos e Senhorios a Santíssima Virgem Nossa Senhora da Conceição» .
O rei fez ainda a promessa solene de defender sempre a Imaculada Conceição. Supomos que esta decisão foi comunicada a todos os territórios ultramarinos que de boa vontade aceitaram N. Sra. como sua padroeira. Esta suposição torna-se certeza ao ver o que os jesuítas fizeram em Macau, segundo refere o P. Cardim: «E pois a devoção de Sua Majestade à Imaculada Conceição da Virgem Maria Senhora Nossa é tão concluída não só nos reinos de Portugal e seus senhorios mas em toda a cristandade, manifesta pelo decreto que Sua Majestade fez nas cortes de 1646 de defender sempre a Imaculada Conceição, ficara o real Colégio de Macau com o título de Imaculada Conceição; e parece foi já providência divina, que no frontispício, que se fez de padroeira na fachada da igreja do mesmo Colégio, no ano de 1640, se pusesse no nicho do meio uma imagem de Senhora fundida de bronze, com o triunfo da Imaculada Conceição em rodaz aberto na pedra, obra de meio relevo, com que realça mais a majestade do frontispício, e agora o título da igreja e colégio a devoção de Sua Majestade» .
Quer dizer: Ao Colégio e à Igreja da madre de Deus, após as cortes de 1646, foi dado o título de Imaculada Conceição; já em 1640 se colocara a sua brônzea estátua na fachada com os caracteres chineses que dizem; «A Santa Mãe calca a cabeça do dragão», i. é a Imaculada esmaga a cabeça da serpente. Os anjos em volta da estátua veneram a Imaculada, celebrando o seu triunfo.
Macau, território português, recebeu jubilosamente como sua Padroeira a Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal e de seus Reinos e Senhorios.
E interessante notar que desde tempos imemoriais se guardava no altar de N. Sra. da Conceição, na Sé, o bastão que os governadores recebiam na tomada de posse e depois ali depositavam.
O Leal Senado não se esqueceu dos padroeiros da Cidade. No Salão Nobre, na ala direita de quem entra, abre-se o Oratório da Imaculada Conceição, com um simples altar, onde campeia a Virgem.
À direita da Virgem, ergue-se numa peanha a estátua de S. João Baptista.
A estátua da Virgem foi esculpida em Manila em 1819, como se vê da carta que o procurador do Sendo, Domingos Pio Marques, escreveu a Manuel José Peintezenaver, incumbindo-o de «mandar fazer em Manila uma imagem de N. Ser. da Conceição»; deveria ser perfeitíssima, feita pelo melhor artista, «toda de boa madeira e inteiriça, e a sua altura não deverá exceder 4 palmos, incluindo a penha, que tudo deve vir já pintado e doirado no melhor primor».
Realmente essa imagem, que ainda hoje se venera na Capelinha do Senado, é um primor.
Os vereadores, antes de 1910, ali ouviam missa antes das sessões . A estátua de S. João Baptista era levada em procissão em 23 de Junho, véspera do dia da festa, 24, que ainda hoje (1986) é feriado municipal (não é mais após a transição em 1999).
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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