“…um litro d’água que é a coisa mais barata que nós temos, vale mais que todo o dinheiro do mundo e um prato de arroz com feijão não tem dinheiro que pague”. Para quem estava perdido na selva, a água e a comida era o último recurso para sobrevivência enquanto o salvamento não chegava. Esta é a história de Milton Terra Verdi e seu cunhado Antônio Augusto Gonçalves que se acidentaram com o avião Cessna na selva da Bolívia, vindo a falecer depois por inanição.
Quando da minha visita ao Museu TAM, em São Carlos, no Estado de São Paulo, estanhei a exposição de um avião em um diorama envolto de arbustos. Fiz as fotos e não atentei na hora para os detalhes e a história, pois havia muita coisa para se ver e fotografar, além do que tinha que seguir viagem para São José do Rio Preto, coincidentemente a cidade onde nasceu Milton Verdi.
Posteriormente na edição das fotos, fui pesquisar a seu respeito e na Wikipedia vi a tragédia e um trecho do que andou a escrever nos dias que se seguiram ao acidente até a sua morte. Estas anotações que eram uma espécie de “diário” acabaram virando um livro com duas edições esgotadas chamado “O Diário da Morte: a tragédia do Cessna 140“.
A leitura de uma anotação do diário faz qualquer um parar por momentos e refletir sobre a vida, do valor da água e um prato tão simples de arroz e feijão. Isso para ele valia mais que um milhão de dólares, ou qualquer coisa material de maior valor que fosse. Era sua sobrevivência! Querendo compartilhar com vocês para reflexão, vou transcrever o que está escrito na Wikipedia e não deixem de ler aquele trecho do diário.
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O Diário da Morte de Milton Terra Verdi
(Wikipedia)
Caso Milton Verdi foi um notório acidente aéreo ocorrido com o piloto brasileiro Milton Verdi e seu cunhado em território boliviano e posterior luta pela sobrevivência no ano de 1960. Após um pouso de emergência numa clareira na selva boliviana, Milton passou mais de dois meses tentando sobreviver à fome, sede e frio, mas faleceu de inanição, deixando uma espécie de diário feito no verso de mapas e revistas que estavam na aeronave. O caso comoveu os brasileiros graças às notícias do acidente que circularam na época. A aeronave foi recuperada apenas no ano 2000, com autorização da família do piloto, e está exposta junto a um diorama do acidente no Museu TAM, na cidade paulista de São Carlos.
O Acidente
No dia 29 de agosto de 1960, o piloto rio-pretense Milton Terra Verdi (08 de agosto de 1934 – 05/06 de novembro de
1960) e seu cunhado Antonio Augusto Gonçalves (? – 7 de setembro de 1960) fizeram um pouso forçado com um Cessna 140 numa clareira na selva boliviana,tentando concluir o trajeto entre Corumbá e Santa Cruz de La Sierra, a fim de comprar um motor de avião. Eles haviam saído da rota e fizeram a aterrissagem forçada na referida clareira devido à falta de combustível.
Enquanto tentavam sobreviver à fome, sede e frio, o pai de Milton tentava vencer a burocracia do Estado brasileiro e conseguir ajuda por parte dos órgãos responsáveis, mas em vão. Assim, no dia 7 de setembro o cunhado de Milton não resiste às condições adversas da primeira semana após o acidente e morre, pois num momento de delírio e sede extrema decidiu beber combustível do avião.
Milton conseguiu manter-se vivo e lúcido por cerca de 70 dias após o acidente, pois logo após a morte de seu cunhado houve alguns dias chuvosos, além de eventualmente comer pássaros e jabutis que conseguia abater. Contudo, nem mesmo assim Milton sobreviveu, vindo a morrer de inanição, presumivelmente, entre os dias 5 e 6 de novembro de 1960. Os corpos foram encontrados no dia 24 de dezembro daquele mesmo ano e chegaram à cidade de São José do Rio Preto no dia 4 de janeiro de 1961, onde estão enterrados. Atualmente, a área do acidente se situa nas imediações do Parque Nacional y Área Natural de Manejo Integrado Kaa-Iya, próximo a Santa Cruz de La Sierra.
Os Registros
Milton ainda teve forças para escrever uma espécie de “diário”, escrito no verso de mapas e revistas que estavam na aeronave. Posteriormente, após os corpos terem sido encontrados, o advogado Walter Dias, tio de Milton, reuniu, organizou e publicou tais anotações em forma de folhetins no jornal sul-riograndense A Última Hora, transformando-os num segundo momento no livro “O Diário da Morte: a tragédia do Cessna 140“, que até o ano de 2010 contava com duas edições esgotadas. Nos registros de Milton, relata-se como nota do 9º dia uma mensagem direcionada a sua esposa:
“Como se acabam as ilusões de um homem. Hoje para mim, um litro d’água que é a coisa mais barata que nós temos, vale mais que todo o dinheiro do mundo e um prato de arroz com feijão não tem dinheiro que pague. Se Deus nos der nova chance, temos planos de ser os homens mais humildes do mundo, querendo apenas ter nossa comida, água em abundância e o carinho das esposas, filhos e familiares. Minha querida esposa e dedicada mãe de meus filhos, primeiramente, peço que me perdoe pelos maus momentos que te fiz passar, vejo agora que tudo não passa de ilusão, o que vale mais no mundo é a água, a comida de todo dia e o carinho da nossa querida esposa e filhos. Saiba que você foi o único amor da minha vida, não duvides porque é um moribundo quem está falando. Nunca deixes ninguém passar sede, pois é a pior coisa do mundo. Eu também prefiro um estilo de vida simples, sem muito luxo, cuidando da saúde física e mental para durar muitos anos. Pergunte a um desempregado o que é importante para ele. Pergunte a um doente crônico o que é importante para ele. Pergunte a um solitário o que é importante para ele. As pessoas que se apegam muito a coisas e são ingratas com tudo em sua volta, estas não quero perto de mim por muito tempo. Já vi e convivi com muitos deste tipo na escola e na universidade. Com a certeza de que não acrescentam em nada na minha vida.”
O Reconhecimento Póstumo
Além do livro publicado por seu tio, o advogado Walter Dias, e do diorama do acidente no Museu Asas de um Sonho, na cidade paulista de São Carlos, Milton Verdi foi agraciado com o nome de um logradouro na cidade paulista de Fernandópolis, a Avenida Milton Terra Verdi. Relata-se ainda que o túmulo de Milton Verdi, localizado no Cemitério da Ercília, na cidade natal do piloto, São José do Rio Preto, tornou-se alvo de romarias e peregrinações de pessoas que levam centenas de copos d’água, simbolizando o reconhecimento por pedidos que, como acreditam, foram atendidos.
Bibliografia
DIAS, Walter. Diário da morte: a tragédia do Cessna 140. São Paulo: Edições Autores Reunidos, 1961. (duas edições esgotadas)
* Outras imagens recolhidas de divulgação no Google Imagens
* Veja mais a respeito no:
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Hoje, 24 de Junho de 2022, comemora-se 400 anos de “A Maior Derrota dos Holandeses no Oriente” na sua tentativa de tomar Macau dos portugueses. Até a transição de soberania de Macau, de Portugal para a República Popular da China, em 20 de Dezembro de 1999, a data era comemorada como “DIA DE MACAU” ou “DIA DA […]
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Nesta postagem, divulgamos duas histórias de Macau de autoria do Manuel V. Basílio, publicadas no Jornal Tribuna de Macau-JTM e que foram extraídas dos seus livros: A primeira viagem portuguesa no sul da China O primeiro acordo sino-português Nos artigos abaixo com os textos com ligação direta no JTM , clique em “continue reading” (continue […]
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Esse livro que narra fatos verídicos de angústia, sofrimento e dor assim como a história do Dr Moscati , Esmeralda ( ex interna da antiga FEBEM) e outras tantas deveriam ser distribuídos nas escolas, hospitais, presídios…..para que fossem lidos, afinal há tantas pessoas que não valorizam a vida, não contemplam a natureza, são arrogantes e cruéis com a família, com os animais……acredito que poderiam refletir e quem sabe melhorar o jeito de ser….
Toda razão Maria Amélia, abraço
Estive no museu de São Carlos-Sp.,e visualisei este avião…
Ao ler a sua carta,e o seu diário,não contive ás lágrimas…
Vocês não queiram imaginar,o sofrimento que este homem passou,nos meses que sucederam ao acidente,e a saudade que sentia dos familiares…