Um relato que procura retratar o Ano Novo Chinês comemorado pelos chineses em Macau nos anos 50. Isto consta do livro de autoria de António Emílio Maria Rodrigues da Silva – Usos e Costumes dos Chineses de Macau Anos 50 – editado pelo Instituto Cultural de Macau em 1997, antes do território ser devolvido pelos portugueses para a China em 1999.
A rigor, salvo uns detalhes misturados com a modernidade, julgo que pouco mudou no jeito de comemorar pelos tradicionais chineses, fiéis aos costumes dos seus ancestrais.
O postagem é oportuna, haja visto que o Ano Novo Chinês de 2015 se inicia no dia 19 de Fevereiro. Kung Hei Fát Chói e vejamos o que o autor conta, com fotografias do próprio livro:
ANO NOVO CHINÊS – ANOS 50 EM MACAU
Texto de autoria de António Emílio Maria Rodrigues da Silva – do livro Usos e Costumes dos Chineses de Macau Anos 50
As seis principais festividades que o povo chinês se obstina em observar, a despeito de terem sido oficialmente abolidas, são as do Ano Novo, a do Barco Dragão, a da Colheita, a da Pura Claridade, a de Todas as Almas e a Outonal.
As três primeiras são chamadas iân-chit, isto é, festividades destinadas aos mortais e as três últimas kuâi-chit ou sejam, destinadas aos espíritos.
De todas a mais prolongada, ruidosa e aparatosa — aquela que se festeja com o maior entusiasmo é de San Nin — Ano Novo — para a qual os chineses fazem todos os sacrifícios durante o ano com o fim de economizar aquilo que será dispendido, generosamente nos três dias de tão notável solenidade.
O dia do Ano Novo Chinês é, vulgarmente, designado, por Nin–Tch’o-lat — o 1º dia 1 do ano.
Convém esclarecer que na China antiga a divisão do ano era muito diferente da nossa; era o ano repartido por doze luas, umas de 29 outras de 30 dias, o que daria ao ano 11 dias menos do que tem o nosso; todavia, remediavam isto repetindo em períodos de 2 a 3 anos a contagem de mais um mês lunar, a que eles denominavam mês lunar intercalar.
Continuando na descrição das festas do Ano Novo Chinês, sabemos que uma semana antes dessa data ou mesmo antes, no dia 20 do último mês lunar, principiam as limpezas nos estabelecimentos chineses e as casas particulares a serem fornecidas do maior número de bugigangas, de grande profusão de flores naturais e artificiais, para ornamentarem as suas habitações, como nós costumamos fazer pela altura do Natal.
À medida que as lojas se vão enfeitando, vão sendo postos em quantidade crescente à venda pelas ruas ramalhetes e vasos de flores.
É costume durante esta quadra festiva armar bancadas, em bambu, no Largo do Senado (na parte central da cidade), onde se expõem toda a espécie de flores.
Na última semana do ano, nenhum chinês deixará também de tomar um banho geral, sendo o corte do cabelo feito, igualmente, com a devida antecedência, pois nas vésperas do Ano Novo, as barbearias costumam levar o dobro do preço da tabela usual. As mulheres que ainda não abandonaram os hábitos antigos submetem, nesses dias, os seus cabelos às mãos hábeis de penteadeiras. As mais modernas não abandonam os cabeleireiros.
No porto interior e nos portos das ilhas é considerável o número de embarcações que engalanam as suas melhores vestes com estandartes, bandeiras, etc.
Dois dias antes do Ano Novo recrudesce o entusiasmo. Os bairros comerciais chineses apresentam uma iluminação feérica. Ouve-se a musicata oriental por todas as ruas, é um nunca acabar de panchões.
Nessa ocasião realizam-se inúmeras compras e liquidam-se todas as contas do ano. É nesta quadra que se verificam casos de suicídio de chineses por não poderem solver os seus compromissos.
As casas de jogos têm fabulosa concorrência com gente das regiões circunvizinhas e é a única altura do ano em que os funcionários públicos também as podem frequentar.
É da praxe ir o governador e algumas famílias de funcionários públicos mais categorizados experimentar a sorte no fan-tan ou no ku-sec.
No dia do Ano Novo os chineses fazem os seus sacrifícios e as preces respectivas, por toda a parte, nas suas casas, nos pagodes, nas ruas e nas embarcações.
Nesta época, visitam os seus parentes mais próximos e maiores amigos, e presenteiam-se mutuamente.
À chegada de qualquer visita o chinês — que é tradicionalmente cheio de etiqueta — costuma recebê-la à porta da casa. A visita ao aproximar-se a um ou dois metros do dono da casa, sauda-o, sendo simultaneamente correspondido, dizendo efusiva e mutuamente Kông Hei, Kông Hei e Kông Hei Fat Ch’oi que significa “respeitosas alegrias, respeitosas alegrias” e que “as riquezas se manifestem”.
Essas saudações são sempre acompanhadas de gesto respeitoso constituído pela elevação de ambas as mãos, com os braços arqueados de forma a que as extremidades dos dedos duma mão fiquem apoiados ligeiramente nos nós dos dedos da outra, movendo-se as mãos assim unidas airosamente, três vezes, de cima para baixo, da altura do nariz ao ventre.
Ao fim de três dias de festa, as lojas e as oficinas recomeçam os trabalhos — Hoi Nin —, sendo este acto também festejado com panchões e concluído com um grande banquete.
Antes de concluir este resumo acerca das festas do Ano Novo Chinês não podemos deixar de acrescentar ser um dos assuntos que mais preocupa o chinês, na véspera do ano, a substituição dos dísticos auspiciosos colados não só nos dois lados e em cima da porta principal como em quase todas as portas do interior da sua residência, inclusivamente, as da cozinha. Tais dísticos exprimem desejos de ventura, sucesso nos negócios, numerosa prole, descendência ininterrupta, longa vida, honraria e riquezas, ocupando, porém, lugar proeminente o caracter Fôk (felicidade) elegantemente caligrafado, em grandes recortes de papel vermelho com o formato de losangos.
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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