No ano de 2015, em que Macau comemora o aniversário de 10 anos de reconhecimento pela UNESCO do seu Centro Histórico como Patrimônio Universal da Humanidade, o Farol da Guia completa 150 anos como ‘o primeiro farol de características modernas e Ocidentais a ser construído no Extremo Oriente*‘. O aniversário acontece no dia 24 de setembro (1865 – 2015).
*Wikipédia
O Farol, construído pelos portugueses, tem o seu aniversário comemorado pelo atual Governo chinês resultante da transição de soberania de Portugal para a China em 1999, com diversas iniciativas como a abertura de novo Centro de Informações, lançamento de selos comemorativos e abertura por tempo determinado do seu interior para visitação pública. Isto explica a magia de um território onde dois povos, duas culturas, convivem harmoniosamente, e o patrimônio histórico deixado pelos portugueses é apreciado pelos chineses, especialmente pelos que vêm do continente da China, conforme atestam reportagens nos jornais.
O interior do Farol aberto por tempo determinado para visitação pública em Julho de 2015. Foto de M.V. Basílio
Vejamos o que o saudoso e célebre historiador de Macau, Padre Manuel Teixeira, nos conta sobre o Farol da Guia no seu livro “Toponímia de Macau”. O texto escrito em 1965 foi adaptado na contagem do tempo para o ano de 2015:
(Fotografias de/photos by Rogério P.D. Luz/em 2006 e M.V. Basílio/em 2015)
O Farol da Guia
do livro Toponímia de Macau – autor: Padre Manuel Teixeira
Foi o primeiro que luziu nas costas da China. Acendeu-se pela primeira vez a 24 de Setembro de 1865. Foi construído sob a direcção do governador José Rodrigues Coelho do Amaral, sendo um hábil macaense, Carlos Vicente da Rocha, o autor do seu engenhoso maquinismo, que funcionava com um candeeiro de petróleo.
A construção foi custeada pela comunidade estrangeira de Macau, tendo à testa o comerciante H. D. Margesson, que tinha a sua firma na Rua Central, n.° 17.
Tão curioso era o modelo desse farol que o seu autor o enviou para Lisboa, onde se conservou muito tempo na Sala do Risco do Ministério da Marinha até que um incêndio o devorou.
Vem a talho de foice notar que Carlos Vicente da Rocha descende duma ilustre família macaense, de que ainda hoje existem vários descendentes.
Nasceu a 12 de Outubro de 1810 e faleceu a 21 de Abril de 1883, sendo o oitavo filho de Vicente Caetano da Rocha, nascido em Macau a 7 de Agosto de 1768 e falecido a 14 de Março de 1851, e de Rita Maria da Conceição, nascida a 19 de Maio de 1774 e falecida a 12 de Julho de 1837.
Carlos Vicente da Rocha, sendo tesoureiro da Fazenda e capitão do Batalhão Nacional, casou a 19-V-1865 com D. Joana Maria Lopes, nascida a 22-VI-1814, falecida a 9-V-1871, filha do Capitão Constantino José Lopes e de D. Ana Joaquina Heitor Lopes.
O Cap. Constantino Lopes é um macaense que se distinguiu em 21 de Janeiro de 1810, na gloriosa batalha contra a esquadra de piratas chineses, cujo chefe era «Cam-Pau-Sai», que espalhava o terror pelas costas da China. Os nossos alcançaram uma estrondosa vitória, capturando o próprio «Cam-Pau-Sai». A nossa esquadra compunha-se de seis navios, sendo um deles, o S. Miguel, comandado pelo Cap. Lopes.
Voltemos ao farol.
Um aviso aos navegantes, datado de 2 de Outubro de 1865, e assinado pelo Cap. do Porto de Macau, José Eduardo Scarnichia, anunciava:
«Desde a noute de 24 do mez passado se começou a acender um novo pharol construido na fortaleza de Nossa Senhora da Guia, da Cidade de Macau.
O pharol está na latitude de 22° ÍV N., e na longitude de 113° 335 E, de Greenwich. A elevação da luz é de 101,5 metros acima do nivel do mar, nas mais altas marés de tempo calmo.
A torre do pharol mede 13,5 metros da base à cupola, tem a forma octogonal e é pintada de branco. A lanterna é vermelha. A luz é branca e rotatória, fazendo um giro completo em 64″ de tempo. Pode ser vista a vinte milhas, em tempo claro».
Dez anos após a construção deste farol, precipitou-se sobre Macau o mais violento tufão que registam as efemérides desta Província. Foi o próprio construtor do farol, Carlos Vicente da Rocha, que mandou disparar os tiros, anunciando a aproximação desse tufão de 22 de Setembro de 1874. O farol sofreu várias avarias, tendo de ser reconstruída a sua torre.
Durante 45 anos brilhou este farol no alto da colina da Guia, donde se disfruta o panorama mais vasto e mais encantador de Macau e ilhas circunvizinhas.
O tempo foi exercendo a sua acção destruidora, e em 29 de Junho de 1910, esse farol cedeu o lugar a outro, de aparelhagem moderna, de rotação, importado de Paris.
O Cap. Eduardo Lourenço, no Número Único, publicado em Macau em 1898, evoca com emoção a figura do velho soldado Diogo, que se apaixonou pela Guia, passando longas vigílias na contemplação estática do seu farol:
«O primeiro faroleiro foi o velho Diogo, brigada reformado, que acumulava também as funções de fiel da fortaleza; de aspecto marcial e rude no trato, personificava a antiga educação do soldado, para o qual a disciplina era tudo.
O farol merecia-lhe particulares cuidados: Não podia telerar que a luz amdrtecesse e muito menos se apagasse, com receio dalgum conflito internacional para o país e por isso as suas vigílias eram todas na contemplação do seu farol».
Como o velho Diogo, também nós nos deleitamos hoje na contemplação do centenário farol.
Este farol é um símbolo — símbolo daquela luz que há quatro séculos (e meio, em 2015) se acendeu em Macau e que nunca mais se extinguiu.
Luz da Fé a iluminar o Oriente envolto nas trevas do paganismo.
Foco do lusismo que daqui irradiou pelas plagas mais remotas deste velho continente.
Fulcro da civilização latina e cristã, portadora de valores espirituais, morais e intelectuais, perante os quais se curvou o Oriente milenário.
O Japão deve a sua primeira escola de medicina cirúrgica europeia ao P. Luís de Almeida, S. J., a sua primeira imprensa aos jesuítas e as suas primeiras armas aos portugueses.
O Vietnão deve aos mesmos jesuítas a romanização da sua língua — o Quoc-ngu.
Em Pequim, os jesuítas foram astrónomos, matemáticos, geógrafos, médicos e pintores.
Farol da Guia — símbolo daquela luz puríssima que em Macau se acendeu há quatro séculos (e meio, em 2015) e que ainda hoje continua a brilhar.
O que diz a Wikipédia sobre o Farol da Guia
O Farol da Guia, é um farol macaense localizado na colina de mesmo nome, próximo do canto SE da península de Macau, região administrativa especial na costa do Mar do Sul da China.
É uma torre de alvenaria de pedra, em forma de tronco de cone, com cerca de 13,5 m de altura. A base do farol tem um diâmetro de 7 m que se estreita até aos 5 m no topo, onde foi construída uma galeria circular de serviço, e uma outra mais abaixo, de observação. A torre de 3 andares, pintada de branco com bordadura amarelo-dourado, tem um exterior rústico e simples, em harmonia com a capela que lhe está adjacente. Uma lanço de escada em espiral, situado no interior da estrutura, permite o acesso à lanterna com cúpula vermelha.
O Farol da Guia foi construído no interior da Fortaleza de mesmo nome, junto da Capela de Nossa Senhora da Guia, e está com estes incluído na Lista dos monumentos do “Centro Histórico de Macau”, classificado como Património Mundial da Humanidade da UNESCO.
As coordenadas geográficas de Macau (21º 11” Norte e 113º 55” Leste) estão registadas com base na localização exacta do farol.
Salvaguarda do Património
Em Julho de 2007, uma organização preservacionista (Liga de Preservação do Farol da Guia), causou grande controvérsia ao apresentar queixa ao Centro do Património Mundial da UNESCO pelo impacto negativo que poderia causar a construção em grande altura nas imediações da colina da Guia, bloqueando a vista (e a luz) do farol.
“Quando surgirem conflitos entre a salvaguarda do património cultural e o desenvolvimento económico”, defende a população da RAEM*, “deverão existir medidas predefinidas que assegurem o cumprimento do princípio da prioridade da protecção do património”, segundo as opiniões recolhidas na primeira fase da consulta pública feita já em 2008, que irá contribuir para a elaboração da Lei de Salvaguarda do Património Cultural.
* RAEM=Região Administrativa Especial de Macau (denominação oficial após a transição de soberania de Macau)
Cronologia
Características
Originalmente o aparelho iluminante funcionava com lamparinas de parafina, sistema planeado por Carlos Vicente da Rocha, um português nascido em Macau, tendo hoje o farol, um moderno sistema de iluminação, com característica de luz (fl. 1s, ec. 2s; fl. 1s, ec. 6s). Existe ainda um mastro junto ao farol, onde é hasteada a bandeira de aviso de aproximação de tufões
* Agradecimentos a M.V.Basílio (Macau) pelas fotos e imagens digitalizadas.
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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