13 de Maio
(texto da Revista Macau de Junho de 1990 – não consta o nome do autor e as fotos são da publicação)
“Ave, Ave, Ave Marta…” o cântico encheu as ruas desde o Largo de São Domingos até lá ao aitos à Igreja da Penha. Eram largas centenas de fiéis, que uma vez mais, mantiveram viva a tradição do 13 de Maio. O dia dedicado a Nossa Senhora de Fátima. Em Macau, como de costume, foi dia de procissão…
Na segunda tarde de sábado do mês de Maio, as ruas encheram-se de gente, na cidade do Nome de Deus. Era a procissão de Nossa Senhora de Fátima a unir, de novo, a Igreja de São Domingos com a da Penha.
Foram cerca de três milhares os fiéis que, entoando cânticos de louvor a Maria, vieram para a rua, depois da celebração da missa em São Domingos, percorreram a baixa da cidade, e rumaram ao monte da Penha, já depois do pôr-do-sol.
A imagem de Nossa Senhora, rodeada de flores, era transportada por “meninas da Congregação de Fátima”.
O Bispo de Macau, Dom Domingos Lam, membros do Cabido, Sacerdotes e Missionárias, integraram também esta manifestação de fé, que todos os anos se repete desde 1929.
O culto de Nossa Senhora de Fátima encontrou em Macau um dos primeiros centros de intensa devoção.
O culto público foi anunciado no primeiro dia de Maio de 1929, em S. Domingos, com um tríduo de preparação a começar no dia 10. “Haveria missa de manhã, o Terço, prática e benção do Santíssimo à tarde, concluindo-se cada dia com o hino de N. S. de Fátima”, como rezava então a imprensa da época.
No primeiro dia do tríduo, prossegue o relato, “o Pe. Roliz benzeu a imagem que iria na procissão e fora enviada de Portugal. O dia 13 de Maio foi de romagem de Fé, com Missa de Pontificai pelo então Bispo de Macau, Dom José da Costa Nunes, tendo ficado o SSmo. exposto todo o dia até às Vésperas de Pontifical à tarde, a que se seguiu o Sermão.”
O padre Antônio Roliz, S.J. terá sido o grande entusiasta que trouxe para as ruas de Macau o culto de Nossa Senhora.
Afinal, sempre era mais fácil trazer o culto mariano até Macau do que levar até Fátima, todos os anos, os milhares de fiéis da Cidade do Nome de Deus.
No ano inaugural do culto a Nossa Senhora de Fátima, o primeiro pregador convidado para o Sermão, foi o padre Antônio Maria Alves, jesuíta e superior das Missões de Shiu-Hing. O padre Alves lançou, então, um apelo que todos os presentes prometeram cumprir. O de, todos os anos, haver peregrinação no dia 13 de Maio, até à Penha (que representaria, assim, a Serra d’Aire de Macau), dando-se corpo desta forma, a uma união espiritual com os imensos peregrinos da Cova da Iria.
Nesse ano pioneiro, a procissão fez o trajecto usual. “Sé, Largo do Senado, e São Domingos. A imagem da Senhora levava uma preciosa auréola e pendente das mãos um rico rosário de ouro, obtido por subscrição pública, e durante a procissão contava-se o Terço e hinos à Senhora”.
O êxito da primeira romagem levou os responsáveis a lançar a idéia de criação de uma entidade que assegurasse a continuidade daquela manifestação de Fé.
A 13 de Dezembro de 1929 fundava-se a Congregação de Meninas, designada de N. S. de Fátima, que dura até hoje (1990) e se dedica a organizar os festejos de 13 de Maio.
No ano seguinte, as cerimónias religiosas seriam rodeadas ainda de maior solenidade.
A festa começou a ser precedida de novenas, tendo a procissão, propriamente dita, obtido tal acompanhamento humano que, segundo se falava na altura, desde 1904 que “não se vira em Macau uma procissão tão bem organizada, tão piedosa e tão concorrida”.
Esta procissão tão piedosa, seria também, a primeira que levaria os fiéis até à Igreja da Penha, dando-lhe o contorno que ela mantém ainda hoje.
Esta manifestação de fé não seria sobressaltada pelo decorrer dos tempos. A Segunda Guerra Mundial, que veio a alterar significativamente a forma de viver desta população (de súbito acrescida com largos milhares de refugiados), acabou por avivar a devoção deste povo a Nossa Senhora.
As procissões que se realizaram nos anos de guerra estavam cheias de fiéis devotos, que imploravam graças à Virgem de Fátima. E, de facto, Macau manteve-se durante esses anos conturbados, como terra de paz…
A Procissão contravou inalterável, afinal tal qual como hoje (1990) a conhecemos. Em 1978. já a liturgia começou a ser celebrada em Português e Chinês, de forma a que toda a comunidade de Macau tivesse o ensejo de rezar, de verdade, na sua própria língua.
Desde o já longínquo ano de 1929, que a 13 de Maio as ruas de Macau se enchem de gente de fé. E ninguém quer ouvir falar do ano em que a tradição possa vir a acabar.
Nota: A tradição é mantida em Macau até nos dias de hoje, mesmo após a sua transição pelos portugueses para a China.
Veja o vídeo da procissão em 2011, em Macau, divulgado pelo Jornal Tribuna de Macau no YouTube:
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
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