A ponte metálica que liga a parte alta e a parte baixa de Paranapiacaba, passando sobre a linha ferroviária
(veja outra postagem “Paranapiacaba, lugares e detalhes” com mais fotos)
Visitar a vila de Paranapiacaba é fazer um passeio à história da primeira ferrovia do estado de São Paulo, cuja construção coube à inglesa São Paulo Railway no final do século XIX. A companhia operava a estrada de ferro que realizava o transporte de cargas e de pessoas do interior paulista para o porto de Santos e vice-versa.
Situada quase ao sopé da Serra do Mar, Paranapiacaba pertence ao município de Santo André, apesar de estar mais próxima da cidade de Rio Grande da Serra. Nos tempos em que existia o transporte de passageiros por trem para Santos, o trajeto era feito pela cidade e a descida da Serra do Mar era uma aventura contemplando belas paisagens. Um trem chamado de “locobreque”, autêntico trator, tinha a função de frear a composição na descida da serra, que simultaneamente puxava outra que subia. Hoje continua funcionando, porém apenas para transporte de cargas, uma vez que lamentavelmente foi desativada aquela destinada a passageiros, mas tive sorte de viajar nela enquanto operacional.
A nossa visita à vila ocorreu num dia nublado, que poderia ser um sinalizador que haveria nevoeiro ou neblina, mas por teimosia lá rumamos embora imaginava que poderia fazer boas fotos e depois limpava o tempo no início da tarde, o que não ocorreu. Um forte nevoeiro com chuviscos alternados durou o dia inteiro, e o resultado: boas fotos como imaginava, mas era tão forte que mal enxergava 50 metros à frente e forçou o uso de capa de chuva e proteção à máquina fotográfica. Não deu para ver o relógio tipo Big Ben de jeito nenhum e nem sonhar as vistas panorâmicas. Fica devendo um novo passeio em tempo claro e céu azul.
A alternativa mais fácil para ir a Paranapiacaba é pela linha regular de trem da CPTM da Estação Brás à Estação de Rio Grande da Serra (foto). Viagem em 55 minutos.
Alternativas para a viagem
O que muita gente almeja, como nós, é viajar pelo trem turístico que parte uma vez por semana, aos domingos, da Estação da Luz. Porém é dificílimo conseguir uma vaga, mesmo com dois meses de antecedência como é permitido. Caso tenha sorte, tente pelo site da CPTM (Cia. Paulista de Trens Metropolitanos).
O que é mais prático e sem precisar de agendar, é a linha regular e diária da CPTM na Estação do Brás (mudou, saía da Luz), ponto inicial com acesso pelo metrô na estação de mesmo nome, e desça na Estação de Rio Grande da Serra, o ponto final. A viagem dura 55 minutos. Lá, saindo da estação, atravesse a linha do trem, pegue a direita e depois à esquerda e logo verá os ônibus azuis que levam a Paranapiacaba numa viagem de cerca de 20 minutos. É cobrada a tarifa urbana. Se perguntar a qualquer pessoa, como fizemos, receberá orientação para localizá-los. O ponto final do ônibus é na parte alta da vila, avistando logo em seguida a Igreja à direita.
Para ir de carro, melhor se orientar pelo mapa do Google, embora pela minha pesquisa, não é tão difícil assim. Mas ir de trem é mais característico, pois fica parecendo viagem ao tempo, à nostalgia e romântico, mesmo pela linha regular. Não são tão modernos como aqueles que vão para Mogi das Cruzes que parecem metrô, mas são aceitáveis pois tem mais barulho de “trem”.
Para nós, saindo de casa até a vila, via metrô-trem-ônibus, durou pouco menos de duas horas. Não tão tanto tempo assim, para quem está acostumado com esta cidade grande de São Paulo de longas distâncias.
Em Rio Grande da Serra, para pegar o ônibus para Paranapiacaba: atravesse a linha do trem, vire à direita e depois à esquerda e vai ver os ônibus azuis, conforme podem visualizar pela foto. A viagem demora cerca de 20 minutos e paga a tarifa de R$ 3,05 (em agosto/2014)
(Fotografia de/Photos by Rogério P.D. Luz)
Fotos e postagens
Vou dividir as fotos e textos explicativos sobre Paranapiacaba em duas postagens. Nesta, uma visão geral de como vi a cidade através do nevoeiro, e noutra sobre atrações específicas, como Clube Lira, a Igreja. E após nova visita com céu azul, volto a postar sobre a cidade, espero, com vistas panorâmicas, o Big Ben paranapiacabano, etc.
A chegada à parte alta da cidade
A cidade se divide em parte alta e parte baixa onde residiam os trabalhadores da rede ferroviária e os ingleses. A parte alta de Paranapiacaba é onde você chega de ônibus, que é a área mais nova da cidade construída por imigrantes portugueses que, ao ver o seu progresso com os ingleses da malha ferroviária, se estabeleceram no local construindo suas residências ao estilo português mais a igreja católica, pois lá na parte baixa não há nenhum templo pois os ingleses são anglicanos (cisão da igreja católica romana) e não tiveram interesse em construí-lo.
Outra ladeira da parte alta. Lá no topo, em tempo bom, pode-se avistar a torre de relógio tipo Big Ben de Londres, que não deu para ver em nenhum ângulo devido ao nevoeiro.
A ponte metálica que liga a parte alta e a baixa, e que passa sobre a linha ferroviária
A travessia da ponte metálica que liga a parte alta e a baixa, em dias de nevoeiro é andar para o nada
A linha férrea
A caminho do litoral ou para o interior, ou como pátio de manobras, a linha férrea em Paranapiacaba é um legado inglês, mas somente em material. Os ingleses não deixaram descendentes e todos foram embora após concluídas as obras. Tal como nas suas colônias pelo mundo, não deixam um povo que se possa chamar “fruto de mistura de raças”, a exemplo dos portugueses, italianos e outras raças.
A parte alta de Paranapiacaba dos ingleses e dos operários de São Paulo Railway
Museu do Castelo
Essa residência, também denominada de “Castelinho”, fica localizada no alto de uma colina, com uma excelente vista privilegiada para toda a vila ferroviária, foi construída por volta de 1897 para ser a residência do engenheiro-chefe, que gerenciava o tráfego de trens na subida e descida da Serra do Mar, o pátio de manobras, as oficinas e os funcionários residentes na vila. Sua imponência simbolizava a liderança e a hierarquia que os ingleses impuseram a toda a vila; ela é avistada de qualquer ponto de Paranapiacaba. Dizia-se que de suas janelas voltadas para todos os lados de Paranapiacaba, o engenheiro-chefe fiscalizava a vida de seus subordinados, não hesitando em demitir qualquer solteiro que estivesse nas imediações das casas dos funcionários casados.(Wikipedia)
A casa do gerente geral fica no topo do morro podendo ser visualizado de qualquer parte da cidade, como pode assim vigiar os empregados ou dar a sensação de estarem sendo vigiados, mesmo na sua ausência.
O interior do Museu do Castelo. Cada quarto tem a sua cor, dependendo da sua função e o efeito psicológico que pode provocar nos visitantes e empregados.
Acesso ao Museu Castelo que carece de uma boa reforma nos móveis e no imóvel, com algumas janelas caindo aos pedaços.
Cenas urbanas da Parte Baixa da vila com nevoeiro
Os alojamentos para os trabalhadores
Os ferroviários eram divididos pelos ingleses em operários braçais, que por sua vez, em casados e solteiros, e engenheiros. Cada classe tinha uma moradia específica fornecida pela empresa. Obviamente os engenheiros viviam em moradias mais luxuosas em área nobre.
Casas geminadas de quarto em madeira
Os ferroviários que possuíam família, com esposas e filhos, habitavam casas com maior número de cômodos. Eram construídas em madeira e cobertas por folhas de zinco. Esta tipologia era próxima às geminadas duas a duas.(Wikipedia)
Casas de solteiros
Características da arquitetura hierarquizada de Paranapiacaba, as casas de solteiros eram conhecidas como barracos. Foram construídas em madeira, exceto duas em alvenaria.Essa tipologia foi criada pela São Paulo Railway, e a Rede Ferroviária Federal deu continuidade, construindo-as em alvenaria. A planta dessas casas possui dormitórios, sanitários e cozinha para pequenas refeições, serviam para alojar o grande fluxo de homens solteiros, que preenchiam as vagas de ferroviários. Havia poucos sanitários e chuveiros, já que os trabalhadores se revezavam em turnos.(Wikipedia)
Antigo mercado
O antigo mercado foi construído em 1899 para abrigar um empório de secos e molhados, e, posteriormente, uma lanchonete. Após muitos anos fechado, foi restaurado pela prefeitura de Santo André e tornou-se um centro multicultural. Com sua posição central privilegiada, permite que os eventos realizados tenham um cenário charmoso na serra.(Wikipedia)
Museu do Funicular
Trata-se da exibição das máquinas fixas do quinto patamar da segunda linha e a do quarto patamar da primeira linha, que transportavam o trem por meio do sistema funicular. No museu, há, também, a exposição de diversos objetos de uso ferroviário, fotos e fichas funcionais de muitos ex-funcionários da ferrovia.(Wikipedia)
Clube União Lira Serrano
Esse clube é a união da Sociedade Recreativa Lira da Serra e do Serrano Atlético Clube os dois incentivados pela São Paulo Railway. Sua sede foi edificada na década de 1930, época das últimas construções da SPR, como o antigo II Grupo Escolar, ambos localizados na antiga Praça Prudente de Moraes. O prédio em madeira, coberto por telhas francesas, possui um hall de entrada que distribui os acessos. O salão se transformava em quadra de futebol.
No pavimento superior, encontra-se o coro (foyer), que dá acesso à sala de troféus, onde se pode apreciar uma vasta coleção da premiação de futebol e outras atividades esportivas ocorridas no antigo clube – testemunhos da história local. Contam os antigos que os jogadores locais, nas partidas contra visitantes, eram grandemente beneficiados pela espessa neblina que amiúde se abatia sobre o campo, por terem desenvolvido uma espécie de sexto-sentido baseado na audição. (Wikipedia)
Um pouco da história de Paranapiacaba – segundo a Wikipedia
Paranapiacaba é um distrito do município de Santo André, no estado de São Paulo, no Brasil. Surgiu como centro de controle operacional e residência para os funcionários da companhia inglesa de trens São Paulo Railway, companhia esta que operava a estrada de ferro que realizava o transporte de cargas e pessoas do interior paulista para o porto de Santos e vice-versa.
“Paranapiacaba” originou-se do termo tupi paranapiacaba, que significa “lugar de onde se vê o mar”, através da junção de paranã (mar), epiak (ver) e aba (lugar)
Pátio ferroviário, estações e relógio
A São Paulo Railway inaugurou sua linha férrea em 1º de janeiro de 1867. Ela, primeiramente, serviu como transporte de passageiros; também serviu como escoamento da produção de café da província paulista para o porto de Santos. Em 1874, foi inaugurada a Estação do Alto da Serra, que, mais tarde, seria denominada Paranapiacaba.
No ano de 1898, foi erguida uma nova estação com madeira, ferro e telhas francesas trazidos da Inglaterra. Esta estação tinha, como característica principal, o grande relógio fabricado pela Johnny Walker Benson, de Londres, que se destacava no meio da neblina muito comum naquela região.
Com o aumento do volume e peso da carga transportada, foi iniciada em 1896 a duplicação da linha férrea, paralela à primeira, a fim de atender à crescente demanda. Essa nova linha, também denominada de Serra Nova, era formada por 5 planos inclinados e 5 patamares, criando um novo sistema funicular. Os assim chamados novos planos inclinados atravessavam 11 túneis em plena rocha, enfrentando o desnível de 796 metros que se iniciava no sopé da serra, em Piaçagüera, no município de Cubatão. O traçado da ferrovia foi retificado e suavizado e ampliaram-se os edifícios operacionais. A inauguração deu-se em 28 de dezembro de 1901.
A primeira estação foi desativada e reutilizada, posteriormente, como cooperativa dos planos inclinados. A 15 de julho de 1945, a “Estação do Alto da Serra” passa a se denominar “Estação de Paranapiacaba”. A 13 de outubro de 1946, a São Paulo Railway foi encampada pela União, criando-se a “Estrada de Ferro Santos-Jundiaí”. Somente em 1950 a rede passa a unir-se à Rede Ferroviária Federal.
Em 1974, é inaugurada o sistema de cremalheira aderência. No ano de 1977, a segunda estação foi desativada, dando lugar à atual estação. O relógio foi transferido do alto da estação anterior para a base de tijolo de barro atual. A 14 de janeiro de 1981, ocorreu um incêndio na antiga estação, destruindo-a completamente. O sistema funicular foi desativado em 1982. Em 2010, o Correio fez lançamento de selo postal ostentando o patrimônio ferroviário de Paranapiacaba.
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Não poderia este blogue deixar de fazer mais um registo histórico de uma tradição mantida na Macau do ano de 2023, hoje, território da República Popular da China. Assim, o nosso colaborador, Manuel V. Basílio, macaense residente em Macau, nos dá o relato, com fotos, sobre a procissão de Nossa Senhora de Fátima realizada no […]
No Anuário de Macau do ano de 1962, nas páginas finais, vários anúncios publicitários encontravam-se publicados, os quais, reproduzimos abaixo para matar as saudades de quem viveu aquela época de ouro, ou então, para curiosidade daqueles que possam se interessar em conhecer, um pouco mais, aquela Macau de vida simples, sem modernidade, mas, mais humana.
Páginas digitalizadas do Anuário de Macau, Ano de 1962, o que aparentemente foi o último da série, ficamos aqui a conhecer quem eram as pessoas que ocuparam cargos no – Governo da Província e Repartições Públicas. Mesmo passados mais de 60 anos, agora que estamos na década com início em 2020, muitos nomes ainda estão […]
Pingback: Paranapiacaba no Festival de Inverno de 2019 com imagens em grande angular | Cronicas Macaenses
Oi, tudo bem? Você sabe informar se o nevoeiro dura o dia todo?
Bela postagem!
Olá Leandro, naquele dia, durou o tempo todo em que estive lá, de manhã até o meio da tarde. Noutro dia em que fui com tempo bom, foi céu azul até a minha partida. Acho que depende da vontade da nuvem que baixar por lá, rs, mas é o básico de lá. Obrigado pelo comentário, um abraço.
Fotos lindíssimas e roteiro muito bem elaborado, tudo de extremo bom gosto. Parabéns !!!!
Obrigado Lui. Vê se vai lá um dia por essa aventura de trem. Abraço
Muito interessante esse lugar, manero mesmo! Pretendo um dia visitá-lo. Parece ser meio mal assombrado hehe valeu pela dica!!