Breve histórico de Coloane, ilha de Macau, que difere bem da península pela sua vegetação ainda preservada, onde se pode respirar ar puro e viver longe de uma cidade entupida de prédios e superpovoada com mais de 600 mil habitantes para um pequeno espaço territorial.
A ilha não é um costumeiro lugar onde se vai visitar nas viagens de saudades ou por turistas, e se o for, é uma visita rápida. Por dificuldades de locomoção, a última vez que a visitei foi há mais 18 anos na minha viagem a um dos Encontros das Comunidades Macaenses, e também graças à boa vontade de um amigo na época um residente.
UM HISTÓRICO DE COLOANE, ILHA DE MACAU (uma visão em 1984)
Texto extraído do livro “Cartilha para Coloane” edição do Instituto Cultural de Macau em 1990
Autores: Jerzy Wojtowicz e Diane Haigh em língua inglesa – tradução para o português por Lúcia Pombeiro
Uma narrativa histórica (de 1984). Um recital de acontecimentos que sucederam ou podem ter sucedido. O processo histórico de desenvolvimento da vila e das forças que a moldaram.
A história começa em Coloane, a ilha mais distante de Macau, no estuário do Rio das Pérolas.
A ilha é muito montanhosa, com uma “espinha dorsal” de colinas graníticas que atingem 174 metros de altura. A fixação dos habitantes processou-se, naturalmente, nas zonas planas ao longo da costa. A vila de Coloane está situada num destes vales, na ponta sudeste, onde dois riachos vindos dos montes circundantes desaguam na baía. Estes cursos de água correm por um vale plano onde a agricultura era possível. A baía tem pouca profundidade, mas o acesso às águas mais profundas sempre foi possível a partir dum cabo rochoso situado na extremidade norte da vila onde os barcos de pesca podiam aportar. Na verdade, os primeiros colonos foram pescadores, vindos da China, que se fixaram neste ponto da baía. Foi também um esconderijo perfeito para os piratas que saqueavam os navios, carregados de tesouros para a China e para o Ocidente, e que faziam os seus negócios através de Macau.
Assim, os dois factores mais importantes que influenciaram o padrão de crescimento da vila foram originados, primeiro, pela sua situação geográfica – as necessidades de uma vila simultaneamente piscatória e agrícola – e, depois, pela determinação, por parte das autoridades portuguesas, de manter uma vigilância permanente sobre a baía a partir do cabo montanhoso.
O crescimento da vila de Coloane com base em mapas originais
Estes quatro mapas ilustram o desenvolvimento histórico de Coloane e baseiam-se em fontes originais.
1912 – Vila piscatória com casas e templos de chineses nativos já estabelecidos, cais e molhes ao longo da costa e a presença militar portuguesa no cabo.
1937 – As autoridades portuguesas constroem novos edifícios; casernas, posto de polícia, igreja, mercado e centro médico. Desenvolvem também uma estrutura urbana mais formal com o início da construção de um paredão junto ao mar, de avenidas com árvores e de uma praça em frente à igreja.
1958 – Construção de uma estrada a ligar as ilhas a Macau e de uma praça à entrada da vila. A avenida marginal torna-se a via principal da vila.
1982 – Expansão da vila. São construídas escolas e palafitas ao longo da margem, estaleiros à volta do cabo e casas ilegais nas zonas agrícolas.
Assim, o que encontramos em 1984 é uma vila de configuração basicamente chinesa à qual foi sobreposta toda uma série de edifícios e espaços públicos concebidos pela Administração portuguesa. Há ainda a considerar, além disso, as construções recentes e de natureza mais improvisada que surgiram em torno da parte velha da vila, como resposta ao crescimento industrial e populacional da zona. É ainda de prever que a construção de novas instalações turísticas conduza a novas mudanças.
Quais foram as ideias geradoras que presidiram ao desenvolvimento da forma urbana da vila de Coloane? Os primeiros residentes chineses tiveram de se adaptar à topografia e natureza da paisagem circundante. Em parte, tratou-se de uma procura funcional, quer de abrigo no vale, quer de acesso ao mar, para a pesca. Mas esses primeiros habitantes acharam que, para assegurar a boa sorte da vila, deviam estabelecer uma boa relação de fung-shuicom a água, as colinas circundantes, as rochas e as árvores. As autoridades portuguesas, por sua vez, puderam conceber um plano formal para a totalidade da vila, construindo várias componentes desse plano, tais como a praça, a avenida marginal e as ruas bordejadas por árvores. Assim se juntaram, no desenvolvimento da vila, estas duas noções: a resposta íntima ao espírito do local e a um plano urbanístico.
Ambas as formas de pensar coexistem ainda; muitos dos habitantes da vila continuam a seguir as directrizes e as práticas ancestrais, considerando as “adições” feitas pelos portugueses, no melhor dos casos, como pontos de referência e, no pior, como intrusões.
* Agradecimentos aos autores e ao editor. Ilustrações e fotos do livro.
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
Não poderia este blogue deixar de fazer mais um registo histórico de uma tradição mantida na Macau do ano de 2023, hoje, território da República Popular da China. Assim, o nosso colaborador, Manuel V. Basílio, macaense residente em Macau, nos dá o relato, com fotos, sobre a procissão de Nossa Senhora de Fátima realizada no […]
Páginas digitalizadas do Anuário de Macau, Ano de 1962, o que aparentemente foi o último da série, ficamos aqui a conhecer quem eram as pessoas que ocuparam cargos no – Governo da Província e Repartições Públicas. Mesmo passados mais de 60 anos, agora que estamos na década com início em 2020, muitos nomes ainda estão […]
Hoje, 24 de Junho de 2022, comemora-se 400 anos de “A Maior Derrota dos Holandeses no Oriente” na sua tentativa de tomar Macau dos portugueses. Até a transição de soberania de Macau, de Portugal para a República Popular da China, em 20 de Dezembro de 1999, a data era comemorada como “DIA DE MACAU” ou “DIA DA […]
Comentários