Cronicas Macaenses

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Macau em França vs. França em Macau, por Jorge Basto

Este contributo do Jorge Basto (Portugal) com o artigo que fala da Macau de França é oportuno, uma vez que estou em vias de conhecer a Macau do Brasil.  Ao todo, este blog aborda três Macaus no mundo, e, será que existem outras? Dizem que sim!

Vejamos então o que o Basto tem a contar desta Macau francesa, que até já foi visitada por José Rocha Dinis do Jornal Tribuna de Macau conforme matéria publicada na época, bem como a presença da França na Macau chinesa e outrora portuguesa:

MACAU EM FRANÇA VS. FRANÇA EM MACAU

por JORGE BASTO (texto e pesquisa de imagens da Google)

. . .

1. MACAU EM FRANÇA

Macau (França) não tem nada a ver com Macau (China). Esse Macau (lê-se «macô») é uma pequena cidade, situada no departamento de Gironde, na região de Aquitaine, no Sudoeste da França. Fica a 20 km a Norte de Bordeaux, tem uma área de 19,5 km² e um clima que varia na média de 1°C a 27°C.

(1) Macau

(1) Macau

O brasão da cidade de Macau (França)

O brasão da cidade de Macau (França)

Os seus habitantes chamam-se Macaudais (à letra, «macôdeses»). Em 2010, o município tinha 3.486 habitantes, sem hotéis, cinemas e museus, mas com alguns monumentos históricos, que se denominam por «châteaux» (palacetes). Esses «châteaux» foram e são residências de vinicultores abastados que deram o nome a milhares de vinhos muito apreciados, conhecidos por «château disto» e «château daquilo».

A cidade existe desde os tempos galo-romanos, como parecem provar os vestígios de estradas romanas descobertas em Gironville, e sofreu uma destruição no século IX pelos normandos.

No século XVII, os comerciantes holandeses iniciaram um projecto ambicioso de irrigação para converter um terreno pantanoso na margem esquerda do estuário do Gironde em área vinícola. No século XIX, a região era uma das mais prósperas da França, com vinhos de reputação internacional, tendo hoje uma produção anual de 255.000 hectolitros de vinho.

Macau realça-se por ser um dos 15 municípios na zona de produção vinícola de Haut-Médoc, uma designação de origem controlada (AOC), onde apenas se produzem vinhos tintos. (vd. vídeo de 1m17s  em http://www.youtube.com/watch?v=OwnViWqWytI)

As variedades de vinhos de Médoc AOC

As variedades de vinhos de Médoc AOC

Das variedades de castas de uvas permitidas, 52% da área vinícola está plantada com Cabernet Sauvignon, com cultivo adicional de Merlot, Petit Verdot e em menor escala Malbet.  De entre os locais de interesse a visitar em Macau, temos (1 a 5):

Macau em França.Jorge Basto (04)

A «Église Notre Dame» (Igreja de Nossa Senhora), construída no século XII, de estilo romano, pelo arquitecto Foulques, foi reconstruída no século XIX e está classificada como monumento histórico desde 1893 pelo seu sino original da torre.

Uma lenda local conta a história de um túnel que a liga ao «Château de Gironville», cerca de 3km distante. (legenda da foto da direita: (1) «Église Notre Dame», Place de la République)

O «Château de Gironville», construído no final do século XVIII, compreende uma casa com rés-do-chão e 1º andar,  praça,  edifícios agrícolas,  tudo num parque arborizado de 155 hectares. Foi propriedade dos Dufour-Duberger, em 1967 comprada pela família Allard, e em 2004 por Vincent Mulliez.  Antes de ser arrancada a vinha antiga em 1965, produzia um Cru Bourgeois AOC, Haut-Médoc.

Como nota, as AOC (denominações de origem controlada) identificam um produto, a autenticidade  e a tipicidade da sua origem geográfica. (legenda da foto da direita: (2) «Château de Gironville», Route de Louens, 69)

O «Chateau Plaisance», foi construído no final do século XVIII para Jean Cavalié pelo arquiteto François Lhote e tem a frente virada ao rio. A casa fica numa base elevada para uso inferior de adegas. A sua fachada neo-clássica, com uma escadaria dupla de dois lances é ladeada por duas alas baixas configurando um pátio frontal. Está classificado como monumento histórico desde 1998.  (legenda da foto da direita: (3) «Château Plaisance», Chemin du Bord de l’Eau)

O «Château Cantemerle» foi construído em diversas fases – a Torre na frente nos finais do século XVI, alojamento e adegas no princípio do século XVIII, e remodelada a casa no princípio do século XIX. (legenda da foto da direita: (4) «Château Cantemerle», zona de Cantemerle)

Ilha de Macau (5), como todas as ilhas do estuário, foi formada devido à acumulação de sedimentos de origem fluvial realizada pelos rios Garonne (que banha Bordeaux) e Dordogne e pelas areias marinhas trazidas pela maré. Ao contrário das ilhas vizinhas, transformadas total ou parcialmente em zonas vinícolas, a ilha continua a ser uma área quase selvagem onde dominam pastagens e canaviais. Só para naturalistas…

Por fim, a França e a Itália competem de perto para o 1º lugar de maior produtor mundial de vinho. A China ocupa o 5º lugar e Portugal o 12º.

Curiosamente, Hong Kong tem sido ultimamente o maior mercado mundial de leilões de vinhos «finos e raros». Por outras palavras caros, não caríssimos! A razão é que vivem lá os coleccionadores mais sofisticados e conhecedores de vinho do mundo.

Macau em França.Jorge Basto (13)

A quem interessar, nessa zona de Bordeaux, encontra-se o «Château Lafite Rothschild» que fica em Pauillac, a 25km a Norte de Macau, e os seus vinhos são mundialmente famosos. (legenda da foto da direita: O muito apreciado Lafite de 1982!)

Numa pesquisa simples à «vinopedia» o preço médio do Lafite 1982 é de 4.600€ por garrafa. Ė também a marca mais falsificada do mundo, especialmente na China, onde consta que aí existem mais Lafite 1982 do que se produziu em França. Em 2012, a polícia encontrou 10.000 garrafas de Lafite, que os chineses apelidam na gíria de «Lafei», num armazém semi-abandonado em Wenzhou, a 200km a sul de Shanghai.

Mas a paixão dos chineses pelos vinhos de Bordeaux não se fica pela mera compra de garrafas, 33 milhões importados em 2010. Cerca de 30 «châteaux» nessa zona foram já comprados por chineses desde 2008 e outros 20 encontram-se em negociação. (vd. vídeo de 2m04s em http://www.youtube.com/watch?v=HBaQYQV_afY)

Macau (1), inserido no meio dos «châteaux» comprados pelos chineses na zona de Bordeaux

Macau (1), inserido no meio dos «châteaux» comprados pelos chineses na zona de Bordeaux

E Macau (China) também foi contagiado.

Louis Ng Chi-Sing, nascido em Hong Kong e de nacionalidade portuguesa, braço direito do magnata dos casinos Stanley Ho comprou em 2012 o «Château de Gevrey Chambertin» construído no século XII na região de Bourgogne, a Nordeste da França, por €8 milhões, preço muito superior ao do mercado, causando muita polémica local. (vd vídeo de 1m24s em http://www.youtube.com/watch?v=xRzxchbm2s4)

Fica situado entre Dijon e Beaune, onde anualmente se realiza um leilão de vinhos para fins de solidariedade, que em 2012 foi presidido pela famosa Carla Bruni-Sarkozy. (legendas das fotos – da esquerda: Ao centro o «château», em baixo a vila / da direita: O «Château de Gevrey Chambertin»)

Mas a loucura chinesa pelos Bordeaux ainda não fica por aqui. A «Dalian Haichang Group» está a construir um gigantesco complexo imobiliário, em Dalian, junto ao Mar Amarelo, a 1h de voo de Beijing, denominado «Château de Bordeaux». Compreenderá 400 vivendas e prédios no estilo dos «châteaux» franceses, com 80 já construídos, ocupando 90.000 m2, dentro duma elipse «de luxo» à beira mar, onde o clima na média varia de -8°C a 29°C. (vd. vídeo em http://chine.blogs.rfi.fr/article/2012/09/02/chine-la-vie-de-chateau)

(legendas das fotos abaixo – da esquerda: O complexo em construção, em Jin Shi Tan, Dalian / da direita: Imagem dos arquitectos americanos, já sediados em Shanghai)

. . .

2. FRANÇA EM MACAU (RAEM CHINA)

Macau fica na costa do Sudeste da China, tem cerca de 580.000 habitantes numa área de 30km2, e um clima húmido subtropical que varia em média de 15°C a 29°C. A sua maior fonte de rendimentos provém do jogo, dos 35 casinos existentes, que em 2012 atingiram €28.700 milhões, ou seja €3,3 milhões/hora, pois funcionam 24 horas/dia. Já ultrapassa em receitas entre 5 a 6 vezes o famoso Las Vegas.

Os interesses comerciais da França incluem participações em empresas de utilidade pública, como produção de energia, fornecimento de água tratada e tratamento de águas residuais, e recentemente nos transportes terrestres. Na área do turismo, foi em 2008 inaugurado o hotel Sofitel Macau, pertencente à mesma cadeia francesa. Quanto ao comércio de retalho, distingue-se pelas lojas chiques de Louis Vuitton, Chanel e Cartier, subsidiárias das de Hong Kong.

Numa entrevista recente em Macau, o consul geral da França M. Barthélemy dizia «se alguém quiser fazer negócios com os franceses, é bom que fale em francês». Existem 3 instituições fundamentais que estabelecem o intercâmbio entre a França e Macau.

O Consulado Geral da França em Hong Kong e Macau fica no Admiralty Centre, Tower II, 25/F – 26/F, 18 Harcourt Road, Central, Hong Kong. Desempenha ao mais alto nível as relações bi-laterais de natureza política, económica, comercial, cultural e educativa, e de apoio à comunidade francesa local. (legenda da imagem da esquerda: Consulado Geral da França)

A «Alliance Française», que foi criada em Paris em 1883, dedica-se a promover a difusão da língua e culturas francófonas em 138 países do Mundo. A associação em Macau foi criada em 1987 sem fins lucrativos, fica na Travessa do Bom Jesus 4F, R/C e desde então já ensinou mais de 10.000 alunos. (Legenda da imagem da esquerda: <Alliance Française> em Macau)

A «France Macau Business Association» (FMBA), fundada em 2008, é uma organização sem fins lucrativos, criada com grande apoio do IPIM e do Consulado Geral da França em Hong Kong e Macau.

A FMBA está aberta a membros franceses e não-franceses. Os seus membros incluem indivíduos, pequenas e médias empresas, bem como empresas multinacionais com o objectivo comum de promover e desenvolver os interesses das relações comerciais e profissionais entre a França e Macau, e de constituir um «fórum» para redes e acesso à informação.

Fica na Alameda dr. Carlos de Assumpção, 263 Edif. China Civil Plaza, 20° Andar. O seu presidente honorário é Ms. Pensy Ho, filha do magnata Stanley Ho, e assim se compreende porque até Macau comprou um «château» em França. (legenda da imagem da esquerda: «France Macau Business Association»)

Em Macau, embora o Francês continue a ser ensinado nas escolas portuguesas, dada a proximidade de Hong Kong e a proliferação do Inglês como língua de negócios internacionais, a língua tem ainda muito pouco impacto, limitando-se à pequena comunidade francesa aí residente, menos de 400, 100 dos quais estudantes da Universidade de Macau. Na TV, apenas o canal «TV5», e o cinema francês passa quase despercebido, perante a injecção maciça de filmes de Hollywood.

Pode ser que os recentes filmes, Óscares de Hollywood, «The Artist» (Michel Hazanavicius, melhor filme, e Jean Dujardin, melhor actor) de 2012 e «Amour» (Michael Haneke, melhor filme estrangeiro) de 2013, venham a suscitar maior interesse.

2 comentários em “Macau em França vs. França em Macau, por Jorge Basto

  1. Jorge Robarts
    22/05/2013

    FOI PENA, JÁ QUE PERDI O RASTO DO ARTIGO DO JORGE SOBRE OS CINEMAS EM MACAU. TINHA UMAS IDEIAS DESSAS CASAS DE ESPETÁCULOS, QUE EM MACAU SE CHAMAVAM DE TEATRO.

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Rogério P. D. Luz, macaense-português de Macau, ex-território português na China, radicado no Brasil por mais de 40 anos. Autor dos sites Projecto Memória Macaense e ImagensDaLuz.

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O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
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