Artigo publicado na Revista Nam Van de Setembro de 1984, de autoria de Luís Ortet, recorda o macaense Luís Gonzaga Gomes, complementado com entrevistas com Padre Manuel Teixeira, José dos Santos Ferreira “Adé” (veja aqui), Padre Videira Pires e Túlio Tomaz.
Também recordo que Luís Gonzaga Gomes foi meu professor de língua chinesa no curso Postal nos Correios de Macau, em 1967, porém não o completei devido à imigração para o Brasil. Era uma pessoa discreta e de poucas palavras.
Nesta postagem, o texto do autor, e nas próximas postagens os depoimentos das personalidades citadas:
Foto do livro comemorativo “No Centenário de Luís Gonzaga Gomes” do Instituto Internacional de Macau
Recordando Luís Gonzaga Gomes
artigo de Luís Ortet – Revista Macau, edição de Setembro de 1984
Homenageado oito anos após a sua morte, Gonzaga Gomes, o conhecido sinólogo, escritor e historiador macaense vale muito pela importância da sua obra, mas, também pelo que ele simboliza para a sua terra natal.
TUDO tem um começo. Em 1513, um navegador português, de nome Jorge Alvares, alcançava as costas da China. Quarenta e cinco anos depois Macau constituía-se como um importante entreposto comercial. Uma história que começa e que dura quatro séculos, até aos nossos dias, consolidada pela mais forte de toda as armas: a presença humana, com os usos, os costumes, a língua.
Desde a sua fundação, e até ao presente (Setembro/1984) o importante centro de comércio internacional foi progressivamente dando lugar a um modesto mas duradouro sinal da expansão portuguesa pelo mundo. O rodar da história e a agressividade de nações concorrentes fizeram enfraquecer a pujança do Império e seus variados braços. Ele próprio desmembrou-se, um dia. Nessa vertente inevitável da história portuguesa a presença humana ia ganhando importância, com a sua simplicidade inquestionável, perante tudo o mais, que entretanto se desfazia em história e em passado.
Em Macau, território chinês sob administração portuguesa, a comunidade portuguesa local mantém de forma viva a identidade nacional e dela se destacam alguns pela maneira especialmente dedicada como servem a sua terra e acarinham o produto mais nobre de uma presença humana: a cultura.
Neste contexto emerge – ou parece justo que assim seja recordado – o nome de escritor e historiador macaense, Luís Gonzaga Gomes.
Não é, felizmente, o único que merece ser relembrado e conhecido. Nem por isso deixa de se impor como um símbolo dos que, ainda hoje e remando muitas vezes contra a corrente, garantam a persistência nacional, bem longe da pátria-mãe.
Nascido em 1907 e falecido em 1976, Gonzaga Gomes «viveu para o trabalho e para o bem da sua terra» como unanimemente ouvimos repetir pelos seus contemporâneos. Os depoimentos que recolhemos junto dos que com ele privaram salientam o seu indiscutível valor, mas também as limitações da sua actividade, expressas aliás mediante críticas amigas.
Autodidacta, o incansável Luís Gonzaga Gomes praticamente nunca saiu de Macau, em parte devido à sua múltipla e dispersa actividade, tendo para isso contribuído, também, a partir de determinada altura, a sua precária saúde. Em torno destas particularidades tomam corpo, e ganham sentido, quer o seu valor quer as suas insuficiências.
O seu nome desponta em várias frentes da actividade local. Os múltiplos cargos que ocupou serviram mais talvez para obscurecer do que para relevar o mérito da sua espantosa produtividade intelectual. Professor de língua chinesa (por falta de alunos foi obrigado a desistir), conservador do Museu Luís de Camões, impulsionador da revista «Mosaico» e da animação cultural que rodeou a sua publicitação, chefe de redacção do «Notícias de Macau» e do «Renascimento», responsável pelos «Arquivos de Macau», director da Emissora Nacional: outras tantas, entre muitas, actividades que não cumpriu de forma burocrática, mas com um empenho em que se não escusava, mesmo, a tarefas menores (o que alguns criticam).
Luís Gonzaga Gomes, autor de cerca de trinta livros, inúmeros outros trabalhos publicados e uma actividade sem limites, um nome ainda muito, talvez demasiado, ligado ao presente da história macaense. O que torna precoce a recuperação biográfica, que a sua riqueza humana por certo tornaria um trabalho gratificante. Desvendar-se-iam dramas interiores, o entrelaçamento com outras vidas, contraparte privada e invisível que todos os espíritos criadores escondem e são o alimento da sua obra.
* Postagens das obras de Luís Gonzaga Gomes neste blog:
https://cronicasmacaenses.com/2013/04/22/sun-yat-sen-em-macau-por-luis-gonzaga-gomes/
* As postagens de entrevistas com:
– Padre Manuel Teixeira e “Adé” José dos Santos Ferreira: https://cronicasmacaenses.com/2014/12/07/ade-e-pe-teixeira-falam-sobre-luis-gonzaga-gomes/
– Padre Videira Pires e Túlio Tomaz: https://cronicasmacaenses.com/2014/12/10/luis-gonzaga-gomes-sob-o-ponto-de-vista-de-pe-videira-e-tulio-tomaz/
Rogério P D Luz, amante de fotografia, residente em São Paulo, Brasil. Natural de Macau (ex-território português na China) e autor do site Projecto Memória Macaense e o site Imagens DaLuz/Velocidade.
Memória - Bandeira do Leal Senado - para nunca ser esquecida -CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL- Esta é a antiga bandeira da cidade de Macau do tempo dos portugueses, e que foi substituída após a devolução para a China em Dezembro de 1999
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau (ex-território português na China por cerca de 440 anos e devolvida em 20/12/1999) sua história e sua gente.
Macaense – genericamente, a gente de Macau, nativa ou oriunda dos falantes da língua portuguesa, ou de outras origens, vivências e formação que assim se consideram e classificados como tal.
*Autoria de Rogério P.D. Luz,, macaense natural de Macau e residente no Brasil há mais de 40 anos.
Escrita: língua portuguesa mista do Brasil e de Portugal conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
cartaz de Ung Vai Meng
O tema do blog é genérico e fala do Brasil, São Paulo, o mundo, e Macau - ex-colônia portuguesa no Sul da China por cerca de 440 anos e devolvida para a China em 20/12/1999, sua história e sua gente.
Escrita: língua portuguesa escrita/falada no Brasil, mas também mistura e publica o português escrito/falado em Portugal, conforme a postagem, e nem sempre de acordo com a nova ortografia, desculpando-se pelos erros gramaticais.
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